A vida e a história de Madam C.J. Walker retrata a dura e inspiradora trajetória da primeira mulher negra milionária dos EUA

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Minissérie A vida e a história de Madam C.J. Walker estreou em 20 de março na Netflix. Confira a crítica!

Uma série de fatores chama a atenção em A vida e a história de Madam C.J. Walker, mais nova minissérie da Netflix. O que primeiro salta aos olhos é a presença de Octavia Spencer na trama. Ela vive a protagonista que dá nome à obra: Madam C.J. Walker, personagem real que viveu entre 1867 e 1919 nos Estados Unidos. Isso porque Octavia vem de excelentes projetos nos últimos anos, que, inclusive, a renderam o primeiro Oscar da carreira (Histórias cruzadas) e a marca de se tornar a primeira atriz negra da história a ser indicada ao Oscar dois anos consecutivos (foi lembrada em 2017 por Estrelas além do tempo e novamente em 2018 por A forma da água, apesar de não ter levado os prêmios para casa).

Já não bastasse ter Octavia Spencer no elenco, a minissérie tem um enredo arrebatador. Como o próprio nome diz retrata a história de Madam C.J. Walker, mulher negra que ficou conhecida por se tornar a primeira milionária dos Estados Unidos pelo esforço próprio, que veio do trabalho. Num período em que as mulheres, principalmente, as negras eram renegadas a trabalhos e serviços de casa, Madam C.J. Walker apostou na venda de produtos para o tratamento dos cabelos das mulheres negras e, depois, expandiu o negócio criando salões e fábricas pelos EUA, empregando mulheres pelo país.

Formada por quatro episódios, a minissérie vai contando pouco a pouco a história da protagonista e, com isso, abrindo espaço para debates. Logo no primeiro capítulo, que se passa em St. Louis em 1908, o espectador conhece Sarah Breedlove, nome de batismo de Madam C.J. Walker. Naquela época, a personagem vivia um momento completamente diferente: trabalhava como lavadeira, estava num relacionamento abusivo, apanhava do marido. Esse estresse a fez perder o cabelo, uma parte essencial na autoestima feminina — como ela mesma diz ao longo da série: “cabelo é poder”.

Crédito: Amanda Matlovich/Netflix – Minissérie A vida e a história de Madam C.J. Walker da Netflix

Ela é ajudada por Addie Monroe (Carmen Ejogo), uma mulher que criou um produto que restabelece o cabelo. Com os fios reconstruídos, Sarah encontra força para sair do relacionamento e quer ir além, deixar de ser lavadeira para vender o produto de Addie. O problema é que, mais uma vez, Sarah encontra barreiras. A cor mais escura e a aparência mais simples são apontadas pela patroa como impedimentos para que ela se torne uma vendedora de sucesso.

Só que Sarah não para aí. Estuda a fórmula a patroa, a melhora e a cria o próprio produto Walker. Primeiro, faz sucesso com ele em St. Louis. Querendo deixar de ser uma sombra de Addie, ela decide ir para Indianapólis no ano seguinte, 1909. É a partir dessa mudança que os negócios crescem e a minissérie bota em debate outros assuntos. A importância do estudo e as dificuldades do empreendedorismo feminino na época. O tempo inteiro a figura de Madam C.J. Walker como empresária é colocada em questionamento.

Todos os debates de A vida e a história de Madam C.J. Walker são extremamente atuais, apesar da série se passar em uma época completamente diferente. Autoestima, cabelo, aparência, estudo, empreendedorismo feminino, relacionamento abusivo, feminismo negro, tudo isso ainda faz parte da pauta do mundo das mulheres hoje. Mas é interessante ver como a história de C.J. Walker é de superação a tudo isso. É realmente inspiradora.

E, se a história de C.J. Walker, toca é porque, além de naturalmente já ser inspiradora, vem de um roteiro quase sem defeitos que teve como base o livro da tataraneta A’Lelia Bundles, On her own ground (ainda sem tradução para o português), e pela entrega de Octavia Spencer. A atriz mais uma vez se supera.

Crédito: Amanda Matlovich/Netflix – Minissérie A vida e a história de Madam C.J. Walker da Netflix

Além disso, a história tem ótimos personagens secundários. Destaque para Leila (Tiffany Hadish), a filha de Sarah, personagem que é, de certa forma, um alívio cômico e serve para incluir a questão LGBT na trama. Carmen também está ótima como a vilã Addie, as maldadas impostas pela personagem doem. E doem mais porque mostram a falta de sororidade entre as mulheres. Ali, a vilã se julga superior por ter uma pele mais clara. O que traz o colorismo em discussão também.

A vida e a história de Madam C.J. Walker consegue ser um ótimo entretenimento — ainda mais nesses tempos sombrios –, ao mesmo tempo que entrega uma história inspiradora e repleta de reflexões. Sem dúvidas, a melhor surpresa de 2020 da Netflix. Já torço para que seja reconhecida no período de premiações!

Adriana Izel

Jornalista, mas antes de qualquer coisa viciada em séries. Ama Friends, mas se identifica mais com How I met your mother. Nunca superou o final de Lost. E tem Game of thrones como a série preferida de todos os tempos.

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