A drag queen brasileira Chloe V fala sobre a experiência no reality show internacional Queen of the universe e sobre a cena da arte drag nacional
Por Pedro Ibarra
A cultura de drag queens brasileira tem crescido muito. Pabllo Vittar e Gloria Groove estão entre as drags mais seguidas e com alto engajamento no mundo. O brasileiro ama competição, seja ela qual for. Esses dois fatores unidos fazem os brasileiros esfregarem as mãos à espera de bons resultados. A artista carioca Chloe V disputou o Queen of the universe representando essa vontade de trazer o prêmio para o Brasil.
O Queen of the universe é um reality show musical competitivo transmitido pela Paramount . Nele, 10 drag queens de diversos países e continentes disputam o título de rainha do universo, unindo a habilidade vocal e a originalidade, a criatividade e a beleza dos looks. Essa é a segunda edição do programa apresentado pela lenda da televisão inglesa Graham Norton. O título, atualmente, é do Brasil, visto que Greg Queen foi a vencedora da última temporada.
Este ano, mais uma vez o Brasil está representado. A carioca Chloe V sobe ao palco das rainhas do universo que, para ela, sempre a pertenceu. “Quando surgiu esse programa, eu lembro que pensei: ‘nossa, é feito para mim’. Eu sou drag, canto e falo inglês também”, conta a artista, que sentiu a responsabilidade de ser a representante do Brasil. “É uma responsabilidade imensa representar o Brasil, um país com tanta gente”, diz.
A cena drag queen brasileira tem ganhado muita notoriedade por conta de grande nomes como Pabllo Vittar e Gloria Groove, duas das drags mais seguidas em redes sociais no mundo. “A cena drag brasileira, sem nenhuma modéstia, é a melhor e maior a nível mundial. Aqui, as drags são muito criativas, muito maravilhosas, muito artistas e conseguem se virar com a pouca valorização que temos”, avalia Chloe. “A drag brasileira se joga em tudo. Não tem tempo ruim, a gente se joga com força, e se rolar, rolou”, explica
A performer, no entanto, aponta que a cena cresce aos trancos e barrancos, já que as oportunidades são escassas. “Meu olhar como drag há algum tempo é de que a arte drag no Brasil é muito desvalorizada. Pelo que vejo, 1% vive só de drag. O resto tem como trabalho secundário o hobby”, reflete a artista, que lembra de, mesmo com tudo que entrega no palco, receber menos cachê do que DJs só porque “estavam sem camisa”. “Sempre que falo que sou drag me respondem: ‘e faz mais o quê?'”.
Chloe também lembra que a pandemia e o governo Bolsonaro reduziram as portas abertas. “Os lugares para as drags poderem ocupar foram diminuindo. Por isso, surgiram muitas drags influencers. A gente teve que encontrar novos caminhos para perpetuar esta arte e viver disso. O problema é que a maioria não vive de drag, a gente sobrevive”, critica.
Para ela, a situação só vai melhorar se houver um movimento geral de apoio. “O suporte às drags começa ali do seu lado, é essencial. Procurem as drags da cena local. Às vezes, tem uma drag ali pertinho de você entregando um trabalho belíssimo e, mesmo que não seja incrível, assista, bata palma e jogue uma gorjeta. Isso é apoiar!”, pede Chloe V. “O que importa é incentivar, porque a arte drag é maravilhosa, só vem para trazer alegria e incentivar. Toda drag é muito talentosa, até a pior do planeta sabe fazer múltiplas coisas. Não deixem de prestigiar suas queens locais.”