Destaque no streaming, Companheiros de viagem mostra a sobrevivência de um romance gay em um dos períodos mais sombrios da história norte-americana
Por Isabela Berrogain
Baseado no romance homônimo de Thomas Mallon, Companheiros de viagem, série da Paramount+ , foi uma das maiores surpresas do streaming na reta final de 2023. Criação de Ron Nyswaner, a minissérie de oito episódios segue a história de Hawkins (Matt Bomer) e Tim (Jonathan Bailey), dois homens que se conhecem na década de 1950 e vivem um romance clandestino. Durante um dos períodos mais sombrios da história norte-americana, o amor dos dois sobrevive à conhecida era McCarthy, ou também macartismo, quando o republicano Joseph McCarthy declarou guerra aos “subversivos e desviantes sexuais”.
Ao longo de quatro décadas, o público acompanha o desenvolvimento da relação entre Hawkins e Tim, que passa por obstáculos internos e externos, como a Guerra do Vietnã, na década de 1960, e a crise da aids, nos anos 1980. “É uma história de amor queer que atravessa várias décadas, ambientada em um cenário político específico”, define Matt Bomer. “Existem esses lindos relacionamentos que você acompanha ao longo de grande parte da vida desses personagens, enquanto, ao mesmo tempo, você aprende e revive a história dos Estados Unidos com essas pessoas fictícias”, explica o ator norte-americano. “É uma escrita simples e realmente rica, detalhada e cheia de nuances dos personagens e do próprio mundo”, resume.
Para Bomer, ator gay que já se queixou publicamente de ter perdido papéis devido à orientação sexual, o trabalho foi de muito aprendizado. “Eu realmente sinto que a série foi um estudo sobre como diferentes pessoas respondem à repressão e como elas encontram suas próprias maneiras de sobreviver no mundo”, avalia. “No papel de Hawk, eu pude ir percebendo os riscos que esses personagens enfrentavam todos os dias, que era vida ou morte para eles simplesmente irem para o local de trabalho. Eles tinham que fazer escolhas extremas na vida deles”, pontua.
Ao se colocar no papel dos que viveram um trágico momento da história, Bomer vê a série, também, como uma espécie de alerta. “Você não precisa ir muito longe para ver algumas correlações assustadoras entre o que acontecia nos anos 1950 e algumas das coisas que estão acontecendo hoje”, declara o ator. “Sinto que é importante relembrar os momentos em que deixamos os nossos medos tomarem conta de nós e perdemos de vista a nossa humanidade no processo, para que, esperançosamente, possamos olhar para o presente e o futuro e não cometermos novamente os mesmos erros”, opina. “Precisamos olhar para trás, para esses momentos, e não só dar voz às pessoas que os vivenciam e vivem, mas também aprender com eles”, complementa.
A produção, no entanto, não é sobre tristezas e dificuldades. Companheiros de viagem é uma história de amor, assegura Bomer. “Uma coisa que queríamos focar desde o início das gravações era que sempre que houvesse um momento de leveza, simplesmente nos deixássemos levar. Sabíamos que também teríamos um material muito difícil e desafiador, então queríamos cobrir toda a extensão da experiência humana. Acho que em qualquer relacionamento amoroso você tem momentos de leveza e de conexão, que são alegres e edificantes”, pondera.
Com o fim da minissérie, que teve o último episódio transmitido no sábado passado, Bomer espera que as histórias de amor retratadas na produção fiquem marcadas no coração do público. “Todas as histórias de amor desta série são de pessoas que se acharam em uma época em que era difícil encontrar o amor em qualquer aspecto e conseguiram, à sua maneira, se conectar. Apesar de tudo, se amaram, mesmo com obstáculos aparentemente intransponíveis, tanto internos quanto externos”, resume. “No final das contas, o amor vence. Essa é a esperança”, finaliza.
Parceria dentro e fora de cena
Um dos principais pontos a se destacar em Companheiros de viagem é, definitivamente, a química entre Matt Bomer e o parceiro de cena Jonathan Bailey. Nas redes sociais, internautas repercutem, com frequência, a relação dos dois, que, por trás das câmeras, têm se mostrado grandes amigos. “É difícil não querer ser amigo de Jonathan Bailey. Ele é um ser humano incrível e um ator brilhante”, elogia Bomer. “Eu sempre fui um grande fã dele e torci muito para que ele fosse o escolhido para interpretar Tim, então eu fiquei muito agradecido quando ele embarcou nessa jornada conosco”, diz.
O norte-americano relembra que, antes do início das gravações, a dupla só teve um teste de química, momento em que o diretor de elenco avalia se há conexão entre dois atores. “Eu soube instantaneamente que ele seria brilhante naquele papel”, afirma. A partir daí, a relação dentro e fora de cena entre Bomer e Bailey se deu como mágica. “Nós não ensaiamos muito, sendo bem honesto. Nós só tentávamos desvendar a relação desses dois personagens em tempo real, em frente às câmeras. E eu acredito que, antes de começarmos a gravar a série, nós dois fizemos bem o dever de casa sobre histórias de Hawk e Tim. Então, quando os diretores falavam ‘ação’, nós só deixávamos fluir”, relata.