CYMERA_20230911_091055 Mateus Ribeiro, ator de musicais premiado | Gloss Model

“Sem querer, querendo”, Mateus Ribeiro se tornou um dos maiores do país

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Formado em Brasília e apontado como um dos melhores atores de musical brasileiros, o rapaz acumula prêmios e indicações importantes, como o Under 30 da Forbes

 

Patrick Selvatti

De maneira geral, assim como a grande parte do Brasil, Brasília não tem o teatro musical como tradição. Contraditoriamente, a capital do rock é reconhecida como um dos maiores celeiros de artistas desse gênero do país. Daqui, surgiram nomes que hoje fazem sucesso nos palcos de São Paulo, do Rio e até ultrapassando a linha continental. Um dos maiores exemplos disso é o multifacetado Mateus Ribeiro, um dos profissionais do ramo mais premiados desta geração. Não à toa, foi adotado como pupilo por Cláudia Raia, aplaudido de pé por Lulu Santos e, assim como o icônico personagem Chaves, que interpretou nos palcos, “sem querer, querendo”, acumula títulos de brilhar os olhos.

Intérprete de personagens icônicos da Broadway, como Peter Pan e Bob Esponja, o rapaz — que completa 29 anos em novembro — integrou a cobiçada lista Under 30 de 2018 da Revista Forbes, aquela que destaca os jovens com menos de 30 anos mais promissores do território nacional. Mateus foi indicado ao Prêmio do Humor, levou para casa o Reverência e o Destaque Imprensa Digital 2018, o Broadway World Brazil Awards 2019, e o Prêmio Bibi Ferreira de Melhor Ator em Musicais pela composição da icônica criatura de Roberto Bolaños. E não parou por aí: foi eleito pelo crítico Miguel Arcanjo Prado um dos melhores atores teatrais do país por dois anos consecutivos, ao lado de nomes como Jô Soares, Miguel Falabella e Fernanda Montenegro.

Há 12 anos ininterruptos em cartaz entre o Rio e São Paulo, Mateus emendou Peter Pan, sucesso de público no ano passado, com Santos Dumont e Bob Esponja este ano, chegando ao quinto protagonista em 19 musicais que participou, com destaque para O mágico de Oz, Mulheres à beira de um ataque de nervos, Chacrinha, Dois filhos de Francisco, VampRock in Rio — este último, em Lisboa. Ligado no 220 volts, o ator pode ser visto no aclamado filme Depois do universo, da Netflix, na quinta temporada de Bugados, no Gloob, e também integra o elenco da série Use sua voz, da HBO Max. Com energia e talento de sobra, o catarinense criado parte em Fortaleza e parte nas quadras da Asa Sul já lançou as músicas João Ninguém e Reticências e, até o fim do ano, apresenta seu terceiro single, em que compôs e interpretou a música, além de produzir e assinar roteiro, direção geral e de arte do videoclipe.

ENTREVISTA / Mateus Ribeiro

Mateus, o teatro musical surgiu mesmo na sua vida em Brasília?

Em Fortaleza, eu fazia o teatro de prosa. Quando cheguei a Brasília, eu quis fazer aula de dança,  encontrei um curso de sapateado e o professor fazia parte da Escola de Teatro Musical e me chamou para um teste. Foi aí que eu conheci o universo gigantesco dos musicais.

E sua vida por aqui, seus vínculos com a cidade?

Vivi quatro anos na capital federal. Foi um período curto, mas intenso, porque descobri o musical, dei aulas, criei laços de amizade, perdi a virgindade, vivi muita coisa importante na cidade. Era uma realidade completamente diferente da de Fortaleza: em Brasília, eu fazia muita coisa. Morava na 402 Sul, estudava no COC, na 604 Sul, criei laços de amizade que permanecem. Não vou muito porque minha mãe não vive mais na cidade.

É verdade que Brasília é o maior celeiro de atores de musical do país?

Quando o musical voltou à tona, uns 20 anos atrás, todos os protagonistas eram de Brasília. O maestro que veio para São Paulo, todo mundo que fazia musical tinha sido aluno dele aí. Isso perdurou por muito tempo. Brasília sempre importando gente para São Paulo. Posso citar Paulo Vasconcelos, Sara Sales, Ester Elias, Fred Silveira, André Torquato… A formação brasiliense para musicais é muito boa, a Empório (antiga Escola de Teatro Musical de Brasília) tem profissionais muito bons. Porém, infelizmente, a cidade é fraca de produção de musical em si, assim como o Brasil todo. SP e Rio dominam, mas ainda são complexas as coisas. Já fiquei dois anos em cartaz, mas, hoje, ficar seis meses é lucro.

Imaginaria ser indicado e ganhar tantos prêmios pelo seu trabalho?

A gente sempre imagina aquilo de incrível que a gente quer alcançar, mas nunca sabe se vai dar certo. É muito doido porque sempre estive com a arte muito presente e eu nunca coloquei ansiedade. “Se está estudando, vai trabalhar e colher frutos”, pensava. Eu achava que vir para São Paulo era sinônimo de se dar bem, mas fui entendendo que nem todo mundo ia ocupar um lugar legal. Aí, eu fui batalhando para isso, sempre sendo grato a quem me dava oportunidades. Antes eu pagava, agora eu ganho dinheiro. Foram anos de muita luta. Estou no 19º musical, o quinto como protagonista, e as pessoas não veem a trajetória inteira.

E o que mudou na sua forma de enxergar sua arte após a Forbes?

Um dos maiores marcos da minha carreira foi estar na maior revista de negócios do mundo. E junto com Leticia Colin, Iza, gente que eu admiro! Porém, sempre procurei manter o pé no chão. É algo grandioso, mas é fruto de um trabalho. No ramo, é tudo muito impreciso, a gente nunca sabe aonde vai dar. O primeiro desafio é entrar, depois se manter, depois crescer. A dimensão da Forbes é enorme, são pouquíssimas pessoas dentro de um segmento. Poderiam ter pego alguém da televisão, mas meu trabalho foi colocado ali. Em teatro musical, também destacaram Malu Rodrigues, que já estava na tevê. Mas, por outro lado, é difícil alguém com 24 anos estar protagonizando um Peter Pan, por exemplo, como eu fiz. Foi a constatação de que eu estava no caminho certo e tinha uma carreira maior do que eu já imaginava.

Ser citado junto com Miguel Falabella, Jô Soares e Fernanda Montenegro não é um peso muito alto nas costas de um jovem?

Talvez sim, mas eu faço isso a vida inteira, eu respiro isso. Eu moro longe das pessoas que eu mais amo e eu tenho que fazer valer a pena todos os dias. Quando surgem coisas assim, funcionam como impulso maior dentro de mim. Gosto de voar com os pés no chão. Mas eu quero ser como essas pessoas, produzir como o Miguel, quero ser uma potência como a Fernanda, a maneira como ela chega no público, sabe? Ser reconhecido neste lugar é impulso. Erros são humanos e eu tremo na base, pois destruir uma carreira é muito mais fácil. Existe peso, sim, para manter isso, mas não trago esse peso para mim, mas como um desafio que me impulsiona. Sou tão abençoado, amigos meus tão talentosos ainda não têm esse lugar…

Como foi ser aplaudido de pé por Lulu Santos no espetáculo baseado na obra dele?

Foi muito bonito. Meu destino é ser star — ao som de Lulu Santos não era biografia, era uma dramaturgia construída em cima das músicas dele. Eram todas as formas de amar que a gente queria expor. Uma amiga minha estava no camarote e tirou foto dele aplaudindo de pé eu cantar Apenas mais uma de amor. E, após o espetáculo, o marido dele me disse que Lulu não parava de falar de mim. Ele próprio me disse coisas incríveis…. Surreal, Lulu fez parte da minha vida e vê-lo me aplaudindo… Lulu foi me ver em Peter Pan! Ele é um querido, que marcou gerações.

E a sua relação com Cláudia Raia, que chegou a declarar você como pupilo dela? 

Eu tinha 17 anos quando cheguei para fazer Cabaret, a pessoa mais nova depois de mim tinha 24 anos. A produtora era a Claudia, e ela me manteve sempre por perto, por ser o caçulinha longe de casa. Ela me dizia: “Você tem tudo para se tornar o melhor ator musical do Brasil”. Fizemos dois musicais e eu aprendi muito com ela. Cláudia é surreal, não para, muito perfeccionista. Todo mundo deveria começar com ela. Jarbas [Homem de Mello, marido de Cláudia e também ator de musicais] é um monstro dos musicais, dedicado e apaixonado, aprendi muito também. Foi engraçado que o Prêmio Reverência, que ganhamos juntos, foi o primeiro dela. E, em 2021, quando eu ganhei o Bibi Ferreira de Teatro, a Claudia Raia estava presente e pediram a ela que me entregasse esse prêmio, de forma simbólica. Foi mágico.

Experiente no teatro com musicais, agora faz sua estreia, no mesmo gênero, na série Use sua voz. Como foi essa transição?

Eu não tinha muito contato com TV, além de propagandas quando criança. Através da Cláudia, eu vi que era um universo muito bacana. Fui conhecer os Estúdios Globo e vi tudo acontecer. Tudo foi muito natural na minha vida, eu comecei a estudar, fiz vários cursos, mas eu era ingênuo, nesse sentido, de acreditar que as coisas aconteciam naturalmente sempre. A gente tem que correr atrás, não pode esperar acontecer. As caixinhas onde nos colocam atrapalham muito, foi difícil começar a fazer teste sendo ator de musical. Ou batia na trave, ou rolava algo que atrapalhava. Depois do universo [filme] fez muito sucesso, foi só uma participação numa cena, mas muita gente me reconheceu. Já para Use sua voz, me chamaram para um personagem com autismo. É uma série jovem, eu tenho carinha de novinho, fiz o teste e deu ruim porque eu sou mais velho que os outros atores que realmente tinham a idade. Tempos depois, a produtora me ligou, me viram de barba e me deram o personagem de 30 anos, um professor. Foi maravilhoso, porque passei a integrar o núcleo só de veteranos, gente muito conhecida na TV.

O público está acostumado a te ver em papéis fofos, como Peter Pan, Chaves e agora o Bob Esponja. Como tem sido a experiência de dar corpo e voz a um sujeito tóxico?

Engraçado, porque realmente faço personagens muito amados. Ano passado, entretanto, fiz muita gente ruinzinha: no filme, na série, também fiz Cabaré dos bichos e também no Bugados, do Gloob. Eu amei, adoro coisas diferentes. Quanto mais longe, melhor. Adoro esse lugar das descobertas. E todos saíram junto com os personagens fofos do teatro. Mas o Mateus de Use sua voz também tem momentos divertidos.

Uma novela está nos seus planos?

Os anos foram construídos, fiz 19 musicais, produtores de elenco me acompanham. Gosto de mostrar que posso ser chamado para qualquer personagem. Confio muito na vida, sei que as coisas vão acontecer no momento certo. Teste que não passo é onde deixo minha marca também. Continuo estudando, produzindo, gravei músicas minhas, tenho escrito, acredito no plantio. Sempre que peço a Deus bons personagens, não importa onde seja. Prefiro personagens que rendem, porque pode ser apenas um tempo perdido um trabalho na TV. Eu só fiz um teste para a novela, eu era muito novo, farei outro quando tiver que ser. Me preparo para estar seguro para agarrar quando chegar essa hora.