O ator musical interpreta o pai da protagonista em ‘Vicky e a Musa’, sucesso do Globoplay
Por Patrick Selvatti
Estreia recente do Globoplay, com sucesso instantâneo, a série original Vicky e a Musa traz no elenco o ator Pedro Caetano. O intérprete do pai da protagonista vivida por Cecília Chancez tem experiência no universo musical: ele atuou na primeira montagem brasileira de O Rei Leão (2013), tanto como Simba quanto o pai dele, Mufasa. Dessa forma, a música e a paternidade se entrelaçam duas vezes na trajetória do carioca.
“O Silas tem muito de mim, daquilo que busco ser como pai, dos exemplos que quero que minha filha tenha como referência”, conta ele, que é pai de Alice, de 8 anos. A paternidade também se conecta com o filme que Pedro Caetano está produzindo sobre seu mestre da capoeira, que figura numa posição de pai: o filme Mulato, ainda sem data de estreia.
Criado na Zona Norte do Rio, o artista de 40 anos carrega personagens mais distantes da realidade lúdica de Vicky e a Musa — que ele qualifica como um trabalho “incrível, leve e divertido”. Ele está presente em séries mais densas, como O Escolhido e Bom Dia, Verônica (ambas da Netflix) e Sentença (do Prime Video). Nessa última, Pedro Caetano interpreta Rogério, um advogado negro e gay, um ex-policial apaixonado pelo senso de justiça. Ele acredita que contribui para o combate ao preconceito “buscando o fortalecimento de nosso povo, o entendimento de nossas diferenças e como isso nos torna mais potentes, como a nossa pluralidade é nossa aliada”, ressalta o ator, ao Próximo Capítulo, destacando o movimento atual como um “legado forte” para os mais jovens.
“Artistas negros estão cada vez mais tendo a possibilidade de contar suas próprias histórias, sendo donos de suas narrativas”, comemora. Ele, que iniciou como ator por meio do grupo Nós do Morro, na comunidade do Vidigal, exalta o movimento. “O sonho é o que move as pessoas. Ações como essa [do grupo] devolvem sonhos às pessoas”, observa ele, referindo-se também ao desejo de investir na carreira internacional.
Pedro começou a trabalhar como modelo aos 17 anos e, dois anos depois, já estava morando em Nova York — oportunidade em que aprendeu outros idiomas. Mas, o sonho dele, de verdade, está relacionado à paternidade: que a filha seja poupada das opressões e preconceitos que o povo negro enfrenta.
Como está sendo atuar em uma série juvenil e com pegada musical? É algo novo para você?
É incrível, leve, divertido. A música aciona a emoção de uma forma diferente da palavra falada. Isso traz uma abordagem mais lúdica para as questões que o roteiro alcança. Eu já tinha a experiência dos palcos de musicais que participei, mas fazer isso no audiovisual é algo novo pra mim. Adorei!
Como foi sua preparação para viver o Silas?
Tivemos uma preparação bem bonita para encontrar o tom da relação dessa família. Uma família que tem diferenças e questões como qualquer outra, mas que acima de tudo se escuta, se respeita. Onde tem espaço para a individualidade de cada um. O Silas tem muito de mim, daquilo que busco ser como pai, dos exemplos que quero que minha filha tenha como referência.
Você é cria do Nós do Morro, do Vidigal. Qual a importância de ações inclusivas como esta?
O Nós do morro é uma instituição de enorme importância e relevância para o setor artístico e social. Transforma a vida de milhares de jovens assim como transformou a minha. Acho que a maior importância de um grupo como esse é mostrar que todos devem ter a possibilidade de sonhar. O sonho é o que move as pessoas. Ações como essa devolvem sonhos às pessoas.
A TV está mudando e posicionando os pretos nos devidos lugares, mais distante das portarias e da criadagem. Como você enxerga essa transição?
Vejo como algo positivo, e presto muita atenção no porquê desse movimento está acontecendo. Artistas negros estão cada vez mais tendo a possibilidade de contar suas próprias histórias, sendo donos de suas narrativas. Acho que a história de nosso povo merece ser contada também por nós mesmos. E isso só está sendo possível com a ascensão de nós negros às áreas criativas. Os personagens negros cresceram porque os diretores negros estão crescendo, assim como produtores, diretores de fotografia, diretores de elenco, figurinistas, caracterizadores. Acho que esse é um ponto importante desse movimento. Mas além de posicionar e abrir espaço, precisamos que a indústria também valide nosso lugar.
Em Sentença, você viveu um homem preto e gay que sofreu na pele a homofobia e a injustiça racial. De que forma você busca contribuir para o combate ao preconceito?
Hoje, acredito que contribuo buscando o fortalecimento de nosso povo, o entendimento de nossas diferenças e como isso nos torna mais potentes, como a nossa pluralidade é nossa aliada. Isso aumenta nosso orgulho, nossa autoestima, e nos faz enxergarmos mais potentes, mais fortes. Estamos cada vez mais deixando boas referências para os mais novos, um legado forte, de resistência, como nos foi deixado pelos que vieram antes de nós.
Como modelo, você viveu uma temporada fora do país, fala inglês. Você se enxerga em uma carreira internacional como ator?
Tenho esse sonho. Algumas coisas já estão caminhando nesse sentido, já participei de algumas produções internacionais, recentemente atuei em The penguin and the fisherman, filme de David Schurmann, estrelado por Jean Reno, mas ainda pretendo me aperfeiçoar um pouco mais para entrar de cabeça nesse mercado.
Este é o seu maior sonho?
Meu maior sonho é que minha filha não precise enfrentar as batalhas que nosso povo enfrenta diariamente com relação às opressões e preconceitos. O outro é conhecer os principais países da diáspora africana.