Escrita por Gustavo Reiz, estreia amanhã a nova novela das 19h da Globo, uma comédia romântica que homenageia obras clássicas do horário
Por Patrick Selvatti
Rio de Janeiro
Em 2019, já contratado pela Globo, o autor Gustavo Reiz desenhou o que seria a sua primeira novela na emissora e contou para a avó o nome que ele estava imaginando para batizar a obra. A resposta da matriarca, noveleira de carteirinha, foi uma sonora gargalhada. Naquele momento, ele teve certeza de que estava no caminho certo. A avó faleceu no ano seguinte e, infelizmente, não poderá conferir, amanhã, a estreia do novo trabalho do neto. Mas Gustavo está confiante de que Fuzuê virá abençoada pela alegria que a contagiou naquele momento. “Esse é o sentimento que eu desejo levar ao público. Quero que a gargalhada que a minha avó deu se reverbere nos lares brasileiros, espalhando alegria e amor”, afirmou o novelista de 41 anos, durante o lançamento da nova produção global.
Fuzuê é o cenário principal da história que começará a ser contada no lugar de Vai na fé. A loja de departamentos, brasileiríssima, no centro do Rio de Janeiro, é comandada pelo excêntrico Nero de Braga e Silva (Edson Celulari), um ex-feirante que se orgulha de suas origens e tem o empreendimento comercial como a sua maior riqueza, ainda que nem imagine que o subsolo dela esconde um grande mistério e um verdadeiro tesouro que envolvem as duas protagonistas da trama. Se por um lado a simples e honesta vendedora de biojoias Luna (Giovana Cordeiro) busca a sua mãe desaparecida, que foi vista pela última vez no multicolorido conglomerado, a dondoca falida Preciosa (Marina Ruy Barbosa) descobre que existem, enterradas sob o local, valiosas joias que ela não vai descansar enquanto não colocar a mão.
De acordo com Gustavo Reiz, na Fuzuê, tudo pode acontecer. “A loja foi criada antes da história, pela variedade de situações que se pode ter num cenário desses. No centro do Rio, muitas histórias passam em uma loja que recebe público de tudo que é lugar. A partir daí, veio a trama do tesouro perdido. Tenho formação em história, gosto de mesclar passado e presente, e essa caça ao tesouro é um imaginário muito atraente”, contou ele, que afirma ter, desse ponto de partida, criado histórias para formar o novelo que se conecta através do cenário. “Na Fuzuê, sempre cabe mais um”, adiantou.
O autor, natural de Niterói (RJ), conta que cresceu assistindo a novelas, tem muito carinho pelas das 19h e deseja homenagear várias delas nesta obra, que ele define como uma comédia romântica com vários gêneros misturados. “Eu visito novelas que cresci vendo, e o telespectador vai poder pescar algumas referências indiretas, mas também homenagens diretas. Vão ser pescagens orgânicas para quem gosta de novela”, explicou Reiz, que escreve Fuzuê com a colaboração de João Brandão, Juliana Peres e Michel Carvalho.
O novo folhetim — uma comédia rasgada, repleta de clichês e uma proposta de entretenimento com leveza — desembarca com a missão de manter o sucesso da antecessora, que chegou ao fim com saldo positivo de audiência e repercussão pela forma como tratou pautas atuais e necessárias como racismo, machismo, etarismo e violência contra a mulher. Embora seja sua estreia na Globo, Gustavo não se intimida por essa suposta pressão. “Eu amo e torci muito pelo sucesso de Vai na fé, assim como torço pelo sucesso de todas as novelas. É uma honra vir na sequência dessa maravilha que a Rosane Svartman criou. E estar na Globo é uma alegria, porque é a escola que me formou como noveleiro e novelista. A cobrança existe, sim, mas é interna, pela responsabilidade de fazer dar certo. É toda uma equipe dando tudo de si para que o sucesso ocorra”, argumentou, em conversa com a Revista.
Reiz também rebate as críticas sobre Fuzuê ter o viés menos realista que Vai na fé. “A variedade de temas sempre foi muito comum. Uma novela cômica, outra espírita, outra praiana, outra urbana. Ter estilos variados é saudável, a emissora quer oferecer novas possibilidades ao telespectador. E o barato de uma novela é passear pelos diversos temas nos mais de 100 capítulos”, defendeu o novelista, que traz na bagagem sucessos de outras emissoras, como Os ricos também choram, no SBT, e Escrava mãe, na Record. “E quem disse que Fuzuê não terá temas de interesse da sociedade sendo abordados? Conflitos familiares e urbanos existem e serão mostrados, o diálogo com a sociedade estará presente, mas a forma escolhida é a do entretenimento. Dosar é saudável, esse é um caminho interessante que já foi trilhado. Os clichês são bem-vindos, assim como é permitido ousar. O público agradece”, concluiu o autor.
Elenco desejado
Engana-se quem pensa que Giovana Cordeiro, protagonista pela primeira vez, ganhou o papel após se destacar como a Xaviera de Mar do sertão, exibida até o início deste ano. A atriz de 26 anos teve seu destino traçado em 2019, quando fazia uma personagem coadjuvante, em Verão 90. “Eu desenhei a Luna vendo a Giovana atuar. Bati o olho e falei: é ela!”, revelou o autor Gustavo Reiz. A jovem carioca celebrou o momento especial que está vivendo. “É uma consagração maravilhosa. O que vivi me formou para estar aqui”, comentou ela, que apresentou suas semelhanças com a personagem. “A gente se conecta no otimismo, na alegria de viver. Luna é uma mulher com muita energia, e eu também”, resumiu a intérprete da mocinha, que fará par romântico com Nicolas Prattes, o bom rapaz Miguel.
Marina Ruy Barbosa vive a antagonista de Luna e também foi inspiração para a personagem criada por Gustavo Reiz. “A Marina eu conheço desde pequenininha como atriz. Na época da concepção de Fuzuê, ela estava no ar em O sétimo guardião, com a Lília Cabral, que eu também desejei na novela. E cá estão elas, vivendo mãe e filha”, revelou o criador da história. Para Marina, Preciosa é fruto de uma soma de fatores e um “presente” na carreira. “Eu estava com muita saudade de fazer novela, o texto do Gustavo foi amor à primeira vista, eu já tinha trabalhado com o Fabrício [Mamberti, diretor artístico] em Deus salve o rei, então foi uma união incrível entre autor e diretor para embarcar nesta viagem deliciosa”, analisou.
Por sua vez, Lília comemorou o reencontro com a jovem atriz. “É um deleite retomar essa parceria com a Marina, que eu conheço desde criança. Fizemos juntas Começar de novo, em 2004, e eu fui acompanhando o crescimento dela, fomos nos entendendo. Eu tenho muito carinho, porque vejo evolução, ela é muito generosa e tem escuta. Fora que esse frescor da juventude nos dá vitalidade”, explicou a veterana, que será Bebel, mãe da vilã Preciosa.
Por falar em vitalidade, com quase um século de vida e uma disposição de causar inveja em muito garotão, Ary Fontoura, que acumula em torno de 50 novelas no currículo, encara um novo desafio: ele será Seu Lampião, ou Lumière, dono de uma casa de shows na Lapa. “Fuzuê é sinônimo de alegria, bagunça que todo mundo gosta. Este é um brilhante trabalho, pensado no público, por quem todos nós temos o maior respeito. É para o público que estamos trabalhando, para que se divirtam extraordinariamente. O sucesso é resultado do amor de quem faz e de quem vai assistir”, concluiu o ícone da teledramaturgia brasileira, no alto dos 90 anos.
No elenco, mais enxuto, estão, ainda, Felipe Simas, Fernanda Rodrigues, Douglas Silva, Juliano Cazarré, Micael Borges, Olivia Araújo, Leopoldo Pacheco, Zezeh Barbosa, Jessica Córes, Pedro Carvalho, Bia Montez, Walkiria Ribeiro, Guil Anacleto, Heslaine Vieira, Noemia Oliveira, Ruan Aguiar, Bruno de Mello, Danilo Maia, Cinnara Leal, Deo Garcez, Clayton Nascimento, Hilton Cobra, Michel Joelsas, Cyria Coentro, Val Perré, Rogério Brito, Milton Filho, Guilhermina Libânio, Eber Inácio, Ingrid Klug, Maria Flor Silva e Theo Matos. Fuzuê estreia amanhã, às 19h30.
O repórter viajou a convite da Rede Globo