Por Camilla Germano — Nesta quarta-feira, 8 de março celebra-se o Dia Internacional da Mulher, data esta que é utilizada para mostrar a força das mulheres e para destacar os trabalhos delas nas mais diversas áreas brasileiras e no mundo. Para homenagear a data, o Próximo Capítulo conversou com a atriz Renata Vilela e a roteirista Flávia Vieira para conhecer o trabalho de ambas no cenário do audiovisual brasileiro.
Renata começou a atuar em 2004 no teatro musical e confessa que foi um “momento lindo” da vida. Depois disso, participou do musical Chicago que a desafiou a aprimorar a atuação e o canto e também atuou ao lado de Isaura Guzman, Geralda Bezerra de Araújo e Roseli Rodrigues. Além disso, um dos destaques da carreira é a série O coro, do Disney +, criada por Miguel Falabella.
Já Flávia Viera começou a participar de laboratórios de roteiro entre 2018 e 2019, mas foi apenas em 2020 em que trabalhou em projetos que considera mais “robustos” como o da série Linhas negras, que conta a história de 13 escritores negros, protagonistas da literatura nacional.
Confira abaixo as entrevistas com Renata e Flávia:
Renata Vilela
Como começou na carreira de atriz, primeiros projetos e afins?
Comecei minha carreira de atriz em 2004, foi um momento lindo da minha vida. Não imaginava que fosse entrar para o teatro musical, até porque estava me dedicando muito com a dança, só que a dança não estava me dando um retorno e precisava tomar uma decisão na minha vida.
Eu precisava me ver sobrevivendo de algum trabalho, até porque tinha passado por duas faculdades, de educação física e jornalismo, que acabei não dando continuidade por conta da minha paixão pela dança. Só que no Brasil é muito complicado. Nós não temos uma infinidade de companhias e nem de incentivo a dança, são poucas as companhias que têm estímulos e subsídios.
Eu precisei repensar muito sobre a minha vida porque estava me sentindo muito em conflito com a carreira. Até que então surgiu o teste do musical Chicago. Fiz o teste, não passei no primeiro momento, depois me chamaram para fazer outra audição porque uma menina tinha saído e aí fiz parte do elenco. Foi um dos momentos mais lindos da minha vida. Eu entrei muito de coração aberto e entrei com muita vontade, alegria, e ingenuidade e acho que isso me despertou algo importante. “Olha, você vai ter que correr atrás para se manter nesse mercado”. E foi aí que eu corri atrás de estudar.
O que fez você querer se tornar uma atriz?
Na verdade, com esse processo de 2004, ingressando no musical Chicago, tive que correr atrás da área de atuação e de canto, então estudei para poder ter muitas ferramentas. Fui notando que as audições seguintes exigiam muito mais daquilo que eu tinha de material. Então eu falei “Não. Eu vou correr atrás do meu sonho”, porque é muito importante estudar e se manter no mercado e, óbvio, que antes de tudo isso, eu acho que a parte da dança me ajudou a construir muitos alicerces como artista, não posso negar. Tive muitos mestres que faziam da arte uma dedicação muito profunda, com Isaura Guzman, Geralda Bezerra de Araújo e Roseli Rodrigues.
Todas essas pessoas trouxeram para mim um embasamento muito profundo do que é ser artistas e acho que isso foi um facilitador muito grande para os meus estudos, além da minha criação que foi de muito estímulo artístico. Minha mãe sempre incentivou muito as artes, então foi uma determinante na minha vida.
Como foi o processo para participar da série O coro?
Miguel Falabella me ligou, estava fazendo nesse tempo uma leitura com ele de uma animação que iríamos lançar em cartaz no Youtube. Nós estávamos em processo de construção ainda, e ele me ligou para falar sobre a série, me convidando e falando sobre o núcleo da minha família nessa série. Fiquei muito feliz com as pessoas com quem eu iria conviver, a equipe me encheu os olhos. Miguel veio com a palavra “Quero que as pessoas sonhem. Quero o resgate da música brasileira. Quero que os jovens entrem em contato com o MPB”, então realmente isso me tocou e sou eternamente grata pelo convite e por Miguel existir na minha vida.
Qual foi a melhor parte da experiência na série?
Estou cada vez mais apaixonada pelo audiovisual, e ter a oportunidade de construir um personagem, de se envolver com a trama e com o núcleo é muito importante para mim. É muito desafiador você ver o trabalho de uma equipe técnica e de todo o artístico. Tivemos uma preparação com a Iléa Ferraz e isso foi algo muito primoroso, por isso realmente acho que não consigo tirar uma única experiência. Acho que a experiência em um todo foi muito incrível e importante, além de resgatar as músicas, o trabalho de Josimar Carneiro, o direcionamento do Miguel Falabella muito preciso, de forma muito amorosa e com muita. Eu só tenho a agradecer.
Como você descreveria sua trajetória no cenário audiovisual brasileiro?
Eu acho que de 4 anos para cá, as coisas estão melhorando para a mulher preta. Em 2007 eu fui convidada pelo Miguel Falabella para fazer a novela “Negócio da China”, e não imaginava que poderia estar nesse lugar. Era algo muito distante da minha realidade e hoje noto que é por ser mulher preta. Hoje em dia, acho que o mercado está um pouco mais atento em relação a essa questão. Agora, em relação a mim, vejo um caminho muito incrível a ser trilhado, até porque eu estou me desenvolvendo cada vez mais. Ganhando muita maturidade e entendendo o momento histórico, político e social que estamos vivendo, o que me dá muita esperança e certezas.
Certezas de que estamos no lugar certo e que só tenho a crescer como artista e isso tende a abrir cada vez mais o caminho para o audiovisual.
Quais são os seus próximos projetos e planos no cenário artístico brasileiro?
Estou em cartaz agora com o musical “Kafka e a Boneca”. Estou amando fazer esse musical porque além de fazer uma mãe judia, tenho o presente de manipular a boneca em homenagem a Marielle Franco, fazer a mãe judia para mim está sendo algo muito irreverente por parte da nossa direção em me colocar nesse lugar. Realmente, há cada dia que passa, me sinto mais disposta e curiosa a entender sobre a história real que não nos foi contada, contada apenas por um viés, e de repente me vejo dentro de uma história que nunca me imaginei.
Acho que isso é sinal de que o mundo está em profundas mudanças e ao mesmo tempo a gente precisa estar aberto a essas mudanças. O conhecimento traz essa certeza de que tudo é possível. Viva a diversidade, viva o conhecimento e viva a arte, enquanto ela amplia a nossa visão da vida.
Flávia Vieira
Como começou na carreira de roteirista e no cenário audiovisual?
Meu início no audiovisual é fazendo pesquisa para longas metragens. Eu acho que, como eu era jornalista, foi uma porta de entrada. Eu estava ali estudando roteiro e aí comecei a receber os primeiros convites para fazer trabalho de pesquisa para longas. Logo depois veio o convite para escrever o primeiro longa, e daí comecei a participar de laboratórios de roteiro e assim foi. Isso aconteceu mais ou menos em 2018, 2019. Efetivamente, em 2020 eu começo a pegar os trabalhos mais robustos como Linhas negras que estreou agora.
A vontade de ser roteirista surgiu de onde? Como conheceu a área?
Em um primeiro momento, eu não conhecia muito como era a rotina do audiovisual, todas as profissões, o que fazia um roteirista. Eu comecei a estudar cinema em 2015 e aí começo a conhecer melhor esse trabalho, conheci vários roteiristas e pude perceber que o roteirista, tal qual eu fazia no jornalismo, conta histórias. E aí me vem o desejo de contar histórias usando outras ferramentas, e aí que eu fiz a transição de carreira. Eu fui conhecendo a medida que fui fazendo e fui estudando mesmo. Estudando que veio essa vontade de entrar para o roteiro que hoje eu não me vejo sem.
Você é roteirista da série Linhas negras, me conta um pouco sobre como surgiu a ideia de fazer a história?
A ideia de fazer a série Linhas negras é do Marco Borges. Eu chego no projeto através da produtora executiva, Susanna Lira, e ela me convidou para escrever os roteiros e foi um encontro muito feliz. Marco é um roteirista já experiente e foi um cara que me recebeu de braços abertos, a parceria deu muito certo. Eu acho que, também, o fato de eu ter uma pós-graduação em literatura e uma formação em letras casou muito bem com a série, então eu pude usar meus conhecimentos para contribuir com o trabalho e foi uma experiência muito rica. A gente tinha ali que era uma série sobre escritores negros, mas tudo foi construído pela equipe.
A gente precisou fazer uma pesquisa para encontrar os escritores, pois só poderíamos falar de 13 escritores, tínhamos uma limitação, então debatemos muito. Eu junto com a Muriel Alves, diretora da série, fizemos um levantamento enorme de autores e depois junto com a equipe chegamos nos 13 nomes. Eu peço a Deus para a gente ter uma segunda temporada, não tem nada confirmado, mas eu peço porque tem muito escritor ainda que precisa ter a história contada.
Onde a série está disponível e como as pessoas podem assistir?
A série está sendo exibida aos domingos, no CineBrasilTV, às 22h. Ao longo da semana, o canal faz reprises, então quem quiser assistir pode entrar no site do canal ou nas redes sociais que tem lá os horários das reprises. Eu quero que todo mundo assista!
Como você descreveria sua trajetória no cenário audiovisual brasileiro?
A minha trajetória no audiovisual, como roteirista, começa efetivamente em 2019. É importante pensar que em 2020 tem a pandemia, mas apesar disso, pelo fato de eu ser roteirista eu consigo continuar trabalhando, o que é muito importante. Muita gente da área, por conta que as filmagens tiveram que parar, ficou sem trabalho, então eu acho que nesse sentido, nós roteiristas tivemos essa possibilidade de continuar desenvolvendo e escrevendo das nossas casas. Acho que isso foi de um crescimento muito grande para mim, foi muito importante esse período que eu segui trabalhando, porque eu estava ali começando, tive boas oportunidades e eu estava preparada para essas oportunidades. Eu estudei muito nos últimos anos, até efetivamente sair do meu trabalho de jornalista para mergulhar como roteirista e eu sinto que tudo que está acontecendo agora é resultado disso, desse preparo e estudo. Então, quando eu tive oportunidade de me inscrever para uma bolsa internacional, me inscrevi pela primeira vez e passei. Acho que é resultado do fato de eu ter me preparado muito para esse momento. Eu recebi uma bolsa da Fundação Carolina, fui para a Espanha levar um projeto meu que já tinha sido desenvolvido dentro de um programa na Netflix e eu acho que é isso. Eu estou seguindo, eu trabalho bastante e continuo estudando também. Quando juntamos essas duas coisas, o preparo com o trabalho, o reconhecimento vem e eu acho que é isso que está acontecendo agora.
Quais são os seus próximos projetos e planos no cenário artístico brasileiro?
No audiovisual a gente trabalha por projeto e muitas vezes em vários projetos ao mesmo tempo, em fases de desenvolvimento diferentes. Nesse momento, o que eu estou trabalhando que talvez esteja mais perto de chegar no público é uma sala de desenvolvimento de roteiros para uma série da Amazon Prime Video que vai ser lançada em 2024. Esse é o trabalho com o processo mais adiantado.
Também tenho um projeto de documentário de música que está começando agora e que eu estou super eufórica e animada por estar fazendo parte. Tem também uma biografia de ficção de uma atleta brasileira que eu não posso falar mais detalhes. Eu acho muito chato não poder contar, eu fico doida para contar, mas infelizmente ainda não posso falar por conta de contrato mas vem coisa boa por aí. Estou trabalhando bastante.
Faz algum projeto além dos roteiros de filmes e séries?
Eu acho legal contar que, além de fazer roteiros de filmes e séries, eu faço dois podcasts que são roteirizados também. Eu lembro que logo que eu saí da TV em 2019, eu não tinha um trabalho para fazer no audiovisual e aí eu criei o “Se não me falha a memória” e uma das coisas que logo de início eu determinei foi que o podcast teria roteiro. Foi a maneira que eu encontrei de continuar escrevendo roteiro. Eu sou roteirista. E deu muito certo, “Se não me falha a memória” no ano passado ganhou dois prêmios, um da Deezer e o Prêmio Sebrae de Jornalismo.
Depois, a fonoaudióloga Jaqueline me convidou para fazer o podcast Parlare em que a gente fala de voz, contamos histórias a partir da perspectiva da voz. São trabalhos assim que me dão muita felicidade e alegria de fazer. O Se não me falha a memória eu faço junto com o jornalista Elismar Braga e tenho muito orgulho e gosto sempre de falar desses dois “filhos” que eu tenho.