A3

Prime Box Brazil estreia série A3. Leia a crítica!

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Série A3 traz um toque de Nelson Rodrigues para fazer um retrato da sociedade da década de 1950 que poderia ser a de hoje

Adalgisa (Karina Barum) é a matriarca de uma família banhada em preconceitos. Com a língua afiada, não aceita a homossexualidade do filho, que anda com amigos “estranhos”, vive de imagens e ainda é capaz de discursos machistas de fazer corar a audiência. A viúva que vive de aparências poderia morar na São Paulo de hoje. Mas a protagonista da série nacional A3, que o Prime Box Brazil estreia nesta segunda (5/4), vive na década de 1950, quando o desquite era um escândalo.

Com a batida desculpa de que está preservando a memória da própria família e do único filho Rogério (Tom Muszkat), a quem ela quer casar com uma mulher de berço mesmo sabendo que o jovem prefere os rapazes, como o amante Álvaro (Michel Waisman), Adalgisa desfila veneno e vai às últimas consequências.

Os personagens de A3 têm, em comum, essa necessidade de viver de aparências. Não é somente Adalgisa. Tia Vitória (Cris Bonna) e Leonor (Liah Khey) também são assim. A pureza fica por conta de Ermelinda (Giovanna Siqueira), muitas vezes vítima das artimanhas de Adalgisa.

Outra coisa que une os tipos da série nacional é que eles guardam segredos do passado. O público descobre o que os prende uns aos outros numa narrativa não linear, de forma interessante e que acaba funcionando. Começamos a acompanhar o entra e sai no apartamento de Adalgisa em 1958 e vamos voltando no tempo até 1950, entendendo de trás pra frente as razões das ações dos personagens.

Além da trama familiar, A3 traz a história de um serial killer que destoa um pouco do resto. Difícil engolir certas coisas ali. Mas nada que comprometa a boa série.

Texto de A3 remete a Nelson Rodrigues

Karina Barum na série A3
Karina Barum acerta o tom e domina A3

O tom adotado pelo diretor e roteirista Beto Ribeiro bebe na fonte do teatro. Não é que seja teatro filmado, mas há uma certa teatralidade interessante no que chega à tela. O cinema também parece ser inspiração, especialmente quando a mesma história é contada sob o ponto de vista de personagens diferentes.

O texto tem muito da ironia fina e da temática explorada por Nelson Rodrigues. A referência a um dos nossos maiores dramaturgos fica ainda mais clara quando vamos entendendo as ações e motivações de Adalgisa.

Essa mistura dá certo pelo texto, roteiro, mas também muito pela performance de Karina Barum. Ela está ótima como Adalgisa e passeia tranquilamente no papel da vilã farsesca e no da mãe zelosa. Liah Khey, Cris Bonna, Giovanna Siqueira, Arthur Rangel (como o misterioso Escobar) e Michel Waisman também chamam a atenção.

O desenrolar de A3 tem um quê de ópera. É interessante ver que músicas operísticas e mesmo árias fazem parte da trilha sonora. Afinal, estamos diante do que poderia ser a opereta da vida real.