Com a temática do preconceito racial, Falas negras dá voz às dores e a conquistas negras. Elenco afiado dá show, com destaque para Silvio Guindane e Tatiana Tibúrcio
Santo streaming! A nova forma de assistir a produções televisivas permite que, no caso do Globoplay, um especial como Falas negras não fique restrito ao dia que foi ao ar na televisão aberta. E como é oportuno o programa com dramaturgia de Manuela Dias (craque da nova geração) e direção de Lázaro Ramos!
Por meio de 22 monólogos em primeira pessoa, vamos acompanhando a luta e o drama de gente que sofreu e que lutou contra o racismo no Brasil e no mundo — de escravos à cantora Nina Simone (Ivy Souza), passando por anônimos.
A ordem cronológica dos curtos textos de Falas negras ajuda a entender que o racismo é um problema que atravessa séculos e não terminou, mesmo que alguns “cegos” prefiram não querer ver. O texto, que poderia vir piegas, não cai nessa armadilha: vira mais um chamado à reflexão. Mesmo quando estamos nos anos 1600, data do primeiro “depoimento”, o de Nzinga Mbandi (Heloisa Jorge), Falas negras exala contemporaneidade. E quando chegam aos dias de hoje com Mariele Franco (Tais Araújo), por exemplo, os quadros deixam ainda mais claro como o racismo está longe do fim ー assim como a luta.
As interpretações dos atores na medida aumentam a dramaticidade do especial. Uma segura Aline Deluna dá vida às contundentes palavras de Virgínia Leone Bicudo, primeira psicanalista mulher do país que era chamada de “negrinha” na escola. Silvio Guindane emociona, correto como Neilton Matos Pinto, pai do adolescente João Pedro Matos Pinto, assassinado na favela do Salgueiro, no Rio de Janeiro.
Mas não há como deixar de destacar Tatiana Tibúrcio. A atriz, que também é preparadora do bravo elenco de Falas negras, vive Mirtes Souza, a mãe do menino Miguel, morto ao cair no fosso de um elevador em Recife. A atriz dá a força necessária a todo o especial, que merece muito ser visto e revisto. Convém separar lenços.
