Em entrevista ao Próximo Capítulo, Gabriela Toloi conta da experiência na trama britânica e também fala da carreira mais dedicada ao teatro
A brasileira Gabriela Toloi tem no currículo uma experiência pra lá de especial. Ela participou de um episódio da série britânica Doctor who, o sexto da 12ª temporada estrelada por Jodie Whittaker. Morando em Londres desde 2017, a oportunidade surgiu de forma natural. Ela se inscreveu num diretório de atores em que produtores de casting de série abrem teste e os artistas podem se inscrever.
“Os produtores realizam uma primeira triagem e, se gostarem do seu material, chamam para um teste. Eu fiz uma rodada de testes remotos para a personagem, já que minha participação seria apenas naquele episódio — aqui eles costumam criar rodadas presenciais apenas para personagens principais, como a própria Doutora”, conta.
Depois da aprovação, Gabriela conheceu a equipe, fez teste de figurino e caracterização, além de uma preparação. “Todas as minhas cenas foram gravadas na África do Sul, exceto uma que precisou de uma correção de última hora e fizemos em Cardiff (País de Gales). Foi ótimo porque consegui conhecer outro país, as locações eram lindas e a equipe, muito legal. A experiência valeu todos os anos de estudo e me ensinou tanto quanto”, avalia.
Antes da experiência na produção de ficção científica da televisão, Gabriela já tinha trabalhado em outra série, a brasileira Psi da HBO, primeiro trabalho profissional na área. Em Londres, se dedica às artes cênicas. “Me encantei pela tradição e pela força que o teatro tem na Inglaterra, os métodos e a história que vem desde Shakespeare. Mudei para Londres e comecei a estudar. Decidi ficar e batalhar uma carreira por aqui. Mas com certeza tenho muita vontade de voltar ao Brasil e, quem sabe, experimentar o mercado de outros países também”, revela.
Entrevista // Gabriela Toloi
Como foi o seu início na artes cênicas? E o que te motivou a viver em Londres?
Meu pai é músico por hobby e minha mãe faz pintura e artesanato, então cresci cercada pelas artes. Frequentei corais e aulas de música desde muito cedo, e fiz cursos de atuação e teatro musical. Fui para o exterior estudar em Nova York durante esse período, até para saber se me adaptaria à profissão, e no meu último ano de Ensino Médio decidi que queria seguir carreira. Quando fiz a série Psi da HBO, meu primeiro trabalho profissional de grande porte, veio a certeza. Entrei na faculdade no Brasil, mas sempre tinha aquela vontade de ir para fora. Quando fui visitar meu namorado, que na época vivia em Londres, acompanhei ele a algumas faculdades de artes cênicas e me encantei pela tradição e força que o teatro tem na Inglaterra, os métodos e a história que vem desde Shakespeare. Mudei para Londres e comecei a estudar, e logo depois de formada fiz Doctor who. A partir disso decidi ficar e batalhar uma carreira por aqui. Mas com certeza tenho muita vontade de voltar ao Brasil e, quem sabe, experimentar o mercado de outros países também.
Morando em Londres, como foi a quarentena para você? E como tem sido a retomada por aí?
No começo o pessoal ficou sem saber como reagir, até demorou um pouco para as coisas fecharem. Depois que figuras importantes do Reino Unido pegaram o vírus, percebi que teve uma mudança muito grande na mentalidade de ficar em casa e tomar cuidado. Usei o período para atualizar meu material e fazer coisas diferentes, mas também foi um período de muita preocupação e questionamento. A retomada está sendo cautelosa por parte do governo. Vejo também álcool em gel em todos os supermercados, em estações de higienização em que se limpa os carrinhos e cestinhas, por exemplo.
Você está com um novo projeto de levar a peça Bad harvest para o Off-West End com sua companhia teatral, Broken Leg. Como está esse projeto? O que pode adiantar?
A peça é inspirada em uma história original de um amigo meu, que ganhou o segundo lugar no concurso de histórias em que foi apresentada. É uma distopia que lida com diferenças de “classes” humanas, mas tem momentos divertidos, que acho necessário após esse período. O projeto está com o roteiro terminado, e vamos continuar fazendo mudanças durante os ensaios como é normal, mas decidimos aguardar a retomada dos ensaios presenciais para levar o projeto adiante. De uma forma realista, esperamos chegar aos palcos no primeiro semestre de 2021.
Acostumada com o teatro tradicional, como acredita que será agora no mundo pós-pandemia?
Em um primeiro momento será muito diferente. Uma foto do teatro Berliner Ensemble, na Alemanha, ficou famosa por mostrar cadeiras retiradas, fazendo a plateia a sentar em distanciamento. Mas teatros são ambientes fechados, geralmente não têm janelas e as pessoas estão juntas no ambiente, então ainda apresentam um risco. Acredito que vamos começar com plateias reduzidas, e, talvez, no ano que vem tenhamos uma retomada. Já para atores e produções em geral, espero ver projetos engajados. Temos tantas questões para serem debatidas, e nada melhor do que a arte para fazer isso.
Você estava com algum projeto na tevê ou no cinema?
Cheguei a receber convites até do Brasil, mas está tudo em stand-by neste momento. Espero que consigamos retomar depois, adoraria trabalhar no país.