Globo vai exibir os dois primeiros capítulos de Hebe nesta segunda como forma de divulgar a série, disponível no Globoplay.
Logo na primeira cena da minissérie Hebe, disponível no catálogo do Globoplay, o mito de uma das maiores ídolas da televisão brasileira é desfeito. Maquiada, ornamentada pelas indefectíveis joias, ela se olha no espelho e começa a se “desmontar” ー a começar pela peruca que revela a careca da apresentadora já acometida pelo câncer, os cílios, a maquiagem, as joias… estamos diante, agora, de uma humana, não mais da super-mulher que acompanhou os brasileiros por tanto tempo.
É a dicotomia entre essas duas figuras que dá o tom da minissérie escrita por Carolina Kotscho e dirigida por Maurício Farias e Maria Clara Abreu. A Globo anuncia para a Tela quente desta segunda-feira (16/12) a exibição dos dois primeiros capítulos da minissérie, que, no total, tem 10 episódios de cerca de 50 minutos cada um.
A história da minissérie Hebe não é contada de forma linear. Num primeiro momento, vemos Hebe (Andrea Beltrão, milimétrica na criação da personagem) no fim da vida, mas logo depois voltamos a 1985, quando a apresentadora, já consagrada, deixa a Bandeirantes após o medo da censura fazer com que a emissora resolvesse gravar o programa dela, até então transmitido ao vivo. A cena em que ela joga o microfone no chão após comunicar ao público que não faria o programa naquelas circunstâncias é icônica por mostrar a leoa que Hebe era.
A defesa dos ideais e das pessoas que estavam perto dela também está presente nesses dois primeiros capítulos de Hebe. A mesma força com que luta contra a ditadura militar e pelo direitos de homossexuais é usada para negar um divertido convite para posar nua em uma revista masculina e para ir atrás do primeiro grande amor, Luís Ramos (Daniel de Oliveira).
Temas duros para Hebe, como um aborto, merecem atenção especial no roteiro ー aliás a cena do aborto é delicada e forte ao mesmo tempo. Ela se dá ainda na juventude de Hebe, quando ela é interpretada pela jovem atriz Valentina Herszage, uma agradabilíssima surpresa. Gracinha, diria Hebe!
Outras passagens, mais pitorescas, como o dia em que ela conheceu Lolita Rodrigues (Ana Vitória Bastos) ou o porre ao lado de Lolita (Karine Teles) e Nair Belo (Cláudia Missura) dividem espaço com a dificuldade de comunicação de Hebe com o filho, Marcello (Caio Horowicz, muito bem em cena), que sofre por não ter a mãe ao lado dele, mas não deixa de incentivar a apresentadora quando ela precisa. O núcleo familiar apresentado nesse início ainda traz o sobrinho Cláudio (Danton Melo) e o marido, Lélio (Marco Ricca).
A juventude de Hebe, pouca gente sabe, foi bem longe do glamour e das joias que marcaram a imagem dela. De família pobre e numerosa, Hebe foi trabalhar como faxineira na casa de uma prima distante da mãe dela. Mas não durou muito, pois ela era humilhada pela parente que não gostava de ser chamada de “tia” pela menina de 14 anos. Hebe precisava ajudar em casa ー o pai, Fego ( Ângelo Antônio), tocava música em filmes do cinema mudo, mas as fitas faladas viraram maioria nos cinemas e ele ficou sem emprego em Taubaté, tendo que se arriscar na capital paulista ー, e não desistiu de trabalhar. Ela tanto fez que conseguiu a vaga de cantora num hotel. A vida artística dela começa aí, chegando a ser eleita rainha do rádio.
A minissérie é muito bem cuidada ー com direção caprichada e trilha sonora inspiradora, além do que traz à luz personagens-chave da história da televisão brasileira, como Assis Chateaubriand e Walter Clark, por exemplo. Diverte, informa e emociona ー tal como fazia a homenageada.