Séries e novelas buscam diversificar a representação dos idosos na telinha, que ganham, cada vez mais, espaço como protagonistas
Por Adriana Izel e Vinicius Nader
Os hábitos mais saudáveis alinhados com o avanço da medicina fizeram com que a expectativa de vida crescesse no mundo. Esse aumento da população da terceira idade também é visto no audiovisual. Atualmente, é mais fácil encontrar produções que se dedicam a esse público, com representatividades diversas. Sem falar na maior presença como protagonistas. De olho nessa tendência, o Correio selecionou produções televisivas, disponíveis na tevê aberta e fechada e no streaming, que valorizam a melhor idade.
À frente do tempo
As crônicas de São Francisco, produção que ganhou uma “revival” (quando a série tem novos episódios após um período de hiato) na Netflix, acompanha Anna Madrigal (Olympia Dukakis), uma senhora transgênero que é proprietária da 28 Barbary Lane, pensão em São Francisco conhecida por abrigar a todos.
A série, que teve a primeira versão em 1998, mostrou questões relacionadas ao mundo LGBTQ+ antes mesmo de o assunto estar em voga como nos dias de hoje. O movimento pós-hippie e a epidemia de Aids foram os temas da primeira temporada. Na nova versão, o foco fica em mostrar a vida de Anna Madrigal, agora na melhor idade, lidando ainda com a transexualidade.
Exibida entre 1985 e 1992, As super gatas é uma sitcom sobre o dia a dia de quatro mulheres idosas que moravam juntas em Miami, na Flórida: Dorothy Zbornak (Beatrice Arthur) é uma professora divorciada; a viúva Rose Nylund (Betty White); Sophia Petrillo (Estelle Getty), mãe de Dorothy; e Blanche Devereaux, viúva e também proprietária da casa onde o quarteto mora.
A atração costumava figurar entre as mais assistidas nos Estados Unidos. No Brasil, foi exibida na TV Globo. O grande mérito da produção foi colocar essas mulheres de cabelos prateados fazendo humor sem qualquer pudor. Ao todo, a série teve oito temporadas. No YouTube é possível encontrar alguns episódios da comédia.
Recomeço
O bom humor é a marca de Norman (Alan Arkin) e Sandy (Michael Douglas), personagens de O método Kominsky, série da Netflix que chegou à segunda temporada. O elenco é o grande trunfo da produção de Chuck Lorre.
A crise existencial dos dois personagens e, mais do que isso, a forma ácida com que os amigos se provocam continua servindo como pano de fundo para que temas como o sexo e o trabalho na terceira idade sejam abordados. Tudo é feito em tom de galhofa. A estratégia tem agradado, tanto que O método Kominsky sagrou-se campeã no Globo de Ouro deste ano em duas categorias: melhor série de comédia e melhor ator (Michael Douglas).
Outro exemplo é a comédia Grace and Frankie. Também da Netflix, a série, que foi lançada em 2015, acompanha Grace (Jane Fonda) e Frankie (Lily Tomlim), duas mulheres que são abandonadas pelos respectivos ex-maridos, que revelam o desejo de se casarem.
Divorciadas, elas precisam reaprender a viver sozinhas. Para isso, contam com a companhia uma da outra, e com uma vida, a partir de agora, longe de regras impostas pela idade. A série conta com cinco temporadas. A sexta está confirmada para 2020 e uma sétima e última deve chegar ao serviço em 2021.
Amor na maturidade
Triângulos amorosos costumam marcar novelas dos mais variados tipos. Com A dona do pedaço, não é diferente. O que muda aqui é que um dos casos apresentados envolve três personagens da terceira idade. Marlene (Suely Franco) e Evelina (Nívea Maria) divertem o público ao disputar o amor de Antero (Ary Fontoura). No momento, o advogado tem olhos mais voltados para Evelina, a mãe de Maria da Paz (Juliana Paes).
Mais do que servir como um alívio cômico na trama escrita por Walcyr Carrasco, esse triângulo trata do amor na terceira idade de uma forma leve e natural. A poucos dias do fim de A dona do pedaço, o autor ainda não deu pistas de como ficarão os corações dos três.
Aprendizado
Nunca é tarde para aprender. Essa parece ser uma das várias lições de Segunda chamada, série exibida nas noites de terça-feira na Globo. O texto de Carla Faour e Julia Spadaccini fala de vários desafios do ensino, entre eles o de receber alunos da terceira idade em busca de realizar o sonho de terminar os estudos.
Semana passada, por exemplo, Jurema (Teca Pereira) teve que enfrentar o preconceito do marido para quem mentia dizendo que ia à igreja, que não quer que ela estude para que não seja melhor do que ele. Jurema contou com a ajuda da professora Eliete (Thalita Carauta) para seguir em frente.
As dificuldades enfrentadas por personagens como Jurema (Teca Pereira) e Silvio (Zé Dumont) são reforçadas por depoimentos de idosos da vida real que frequentam a escola pública em São Paulo. Com ares de documentário, as falas deles encerram os episódios de Segunda chamada.
Protagonismo
A lista de bons atores e atrizes acima dos 60 anos é vasta. Por isso não é surpresa encontrá-los à frente de grandes produções. Neste ano, Helen Mirren, 74, assumiu a alcunha de Catherine the great (Catarina, a grande, em português), na minissérie homônima exibida na HBO.
A vencedora de um Oscar, quatro Emmys, um Tony e três Globos de Ouro é o destaque e também o trunfo da produção. A história, que tem quatro episódios, narra o fim do reinado de Catherine, a imperatriz russa, no século 18. A narrativa mostra a aventura amorosa com Grigory Potemkin (Jason Clarke) em meio aos escândalos e grandes conflitos da época.
Outro nome que ganhou destaque na telinha neste ano foi outra premiada atriz: Meryl Streep, 70. A atriz mais indicada ao Oscar — foram 21 nomeações e três estatuetas — apareceu na segunda temporada de Big little lies e no filme original da Netflix, A lavanderia.
Na série da HBO, deu vida à vilanesca Mary Louise, que aparece em Monterey em busca de desvendar a morte do marido e fazer da vida de Celeste (Nicole Kidman), a nora dela, um inferno. Já no telefilme, interpreta Ellen Martin, uma mulher que acaba descobrindo o escândalo conhecido como Panamá Papers após o marido morrer em um acidente de barco.
Documentários sobre o tema
Muitos anos de vida:
Disponível no GNT Play, o programa aborda em cada episódio personagens entre 60 e 90 anos para contar as histórias de superação deles. O material tem direção de Alberto Renault.
Outros tempos velhos:
Produzido para os canais Max e HBO, a série documental, que foi exibida em 2017, conta a história de dois personagens com mais de 60 anos abordando os desafios do envelhecimento no século 21. Nomes como Ney Matogrosso e Hermeto Pascoal estão entre os entrevistados.