Antonio Fagundes e Grazi Massafera brilham em texto leve e bem escrito. Leia a crítica da primeira semana de Bom Sucesso!
O recado da primeira semana de Bom Sucesso, nova novela das 19h da Globo, é claro: leve a vida com mais otimismo e levando as coisas menos a sério, ou seja, sendo feliz com que lhe é oferecido. Soma-se a isso um texto bem escrito (com algum chavão aqui e acolá, mas nada que comprometa o resultado final) e personagens bem construídos, com nuances complexas, um desafio vencido pela maioria dos atores. O início de Bom Sucesso, novela da dupla Rosane Svartman e Paulo Halm, foi encantador.
A começar pelos dois protagonistas. Antonio Fagundes dá show como o empresário Alberto, que está doente, mas recebe a notícia de que seus últimos exames apontaram uma improvável cura para o câncer que ele enfrenta. E Grazi Massafera supera todas as minhas expectativas ao conferir graça, leveza e sofrimento na medida certa para sua Paloma.
É dela o verdadeiro exame entregue, por um erro do laboratório, a Alberto. Paloma tem um primeiro capítulo solar, com Grazi correta, mas beirando o excessivo, mas entra no segundo consternada com o resultado do exame que a condena a ter apenas mais seis meses de vida.
A personagem muda da água pro vinho e a atriz vai atrás – Grazi vem mais madura do que nas mocinhas anteriores. Ponto para a atriz e para o texto correto de Bom Sucesso, que deixou no capítulo de sábado (3/8) mais uma virada para a vida de Paloma, que descobriu a troca dos exames numa cena memorável pelo texto, pelas atuações e pela direção. Pareceu horário nobre.
Quando descobre que está doente, Paloma liga para Ramon (David Junior), pai de sua primogênita Alice (Bruna Inocêncio). Ele fugiu para os EUA para tentar a vida como jogador de basquete quando soube da gravidez de Paloma. Ainda apaixonada por ele — mesmo sendo viúva de outro casamento, do qual tem mais dois filhos; Gabriela (Giovanna Coimbra) e Peter (João Bravo) –, ela conta a ele que está morrendo, joga na cara dele que ele não viu Gabriela crescer e faz o atleta, culpado, deixar a primeira chance que apareceu em 15 anos nos EUA para trás.
Para conseguir dinheiro, a batalhadora Paloma vai fazer faxina numa casa em Búzios e acaba conhecendo e passando a noite com Marcos (Rômulo Estrela). O rapaz, dono de bar e conhecido por ser mulherengo, cai de amores por Paloma. Detalhe que, claro, Paloma desconhece: Marcos é o filho rebelde de Alberto e volta ao Rio de Janeiro quando o pai passa mal.
Está armado o triângulo amoroso de que toda novela precisa. É interessante notar que Paloma, Ramon e Marcos têm traços de mocinhos e de anti-heróis. São tipos críveis, como os muitos de Bom Sucesso. O problema aí está nos rapazes. David Junior e Rômulo Estrela são bonitos, carismáticos, mas têm pouco repertório de expressões. Está mais fácil torcer por Paloma ficar sozinha, por enquanto. Fará bem para a novela eles desabrocharem — tempo eles têm.
Outros pontos de Bom Sucesso
Moçada que vai dar o que falar – Com Rômulo e David pouco à vontade, fica aberto o espaço para o elenco jovem que povoa Bom Sucesso. Vale a pena ficar de olho em Bruna Inocêncio e em Igor Fernandez, intérprete de Luan, colega de sala de Alice que tira a virgindade dela só para espalhar pelo colégio, mas depois se arrepende. O menino João Bravo também merece atenção — ele não é só mais uma criança fofa na tevê e já mostrou isso em A força do querer e na primeira fase de Verão 90.
Coadjuvantes de luxo – Pelo menos dois nomes entre os coadjuvantes começam a se destacar. Ingrid Guimarães chama todas as cenas para ela. Não foi à toa que ela estava na primeira cena do primeiro capítulo quando a atriz Silvana Nolasco é atendida pela costureira Paloma. Quem também aproveita que está em boa fase para brilhar em Bom Sucesso é Armando Babaiaoff. O ator vem de ótimo trabalho em Segundo sol e merecia um grande vilão como Diogo.
Mancadas do roteiro – Mas nem tudo são flores em Bom Sucesso. Se o texto e o roteiro lembram o horário nobre algumas vezes, em outras parecem ter saído de uma novela mexicana escondida na grade do SBT. Não dá para confiar na roda que vai unir Paloma à família de Alberto, por exemplo. Primeiro, os exames deles são trocados em um laboratório bem conceituado e caro, afinal de contas Alberto é empresário de sucesso. Depois que sai do laboratório com o resultado do exame, Paloma surta e humilha uma cliente, justamente Nana (Fabíula Nascimento, menos histriônica do que o de costume), filha de Alberto. Depois, se apaixona por Marcos, filho de Alberto e irmão da Nana. Segundo a sinopse, Paloma vai ser cuidadora de Alberto na casa dele quando eles se conhecerem. Vem cá: Quantas famílias tem o Rio de Janeiro? É o Leblon de Manoel Carlos?
Ode à literatura – É tocante ver uma novela das 19h prestar uma verdadeira homenagem à literatura, não apenas em nomes de personagens ou no fato de Alberto comandar uma editora de livros de arte e defender isso com unhas e dentes. É corajoso uma novela ser otimista e abraçar a cultura de uma vez só no Brasil de hoje. As crianças gostam de ler, os personagens conversam sobre a magia da literatura. O diálogo entre Paloma e Marcos em que eles se comparam à Alice no País das Maravilhas e a Peter Pan, dois livros de cabeceira dos personagens, foi emocionante. Caiu um cisco no meu olho.
Trilha sonora – Impossível não falar da trilha de uma novela que tem, na abertura, Zeca Pagodinho e Teresa Cristina dividindo os vocais em O sol nascerá, clássico de Cartola. A trilha ainda traz Lulu Santos (Um certo alguém), Zélia Duncan (Só pra lembrar), Mart’nália (Onde anda você, de Vinicius de Moraes) e a controversa Juntos, com Paula Fernandes e Luan Santana. A novata Miranda regravou outro samba clássico: Sonho meu, de dona Ivone Lara.