Karolini Bandeira* e Mariana Fernandes — É inegável que o cenário dos últimos anos não foi tão bom para a realização de concursos públicos. Com o pico da pandemia de covid-19 em 2020 e 2021 e os olhos do país voltados para a crise sanitária, o ingresso no serviço público passou longe de ser uma das prioridades. Agora, com a flexibilização de atividades presenciais, avanço na retomada econômica e a volta gradual do “antigo normal”, o que esperar de 2022? O cenário finalmente será bom para a abertura de concursos no ano que está prestes a entrar?
Para especialistas, os concurseiros que estão esperançosos podem manter a expectativa alta. “As expectativas em relação aos concursos em 2022 são muito mais animadoras do que em relação aos últimos dois anos”, afirma o professor de Direito Administrativo e Constitucional do IMP Concursos, José Trindade. O especialista destaca que, ao contrário de 2020 e 2021, em 2022 temos mais certas do que incertezas: “Hoje, a maior parte das incertezas já foi sanada. Existe uma forma de combater a pandemia, a gente já tem um cenário mais seguro. Inclusive, já temos até previsões mais seguras quanto ao futuro.”
Difícil é achar um concurseiro que não tenha perdido o ritmo de estudo em algum momento de 2021 — com tanto adiamento e suspensão, é natural que o rendimento seja afetado. 2022, na visão de Trindade, chega para mudar esse ciclo. “Já temos órgãos públicos cada vez mais, de forma cada vez mais intensa, retomando o trabalho presencial. Já temos editais de concurso que saem com mais frequência. A gente viveu, em 2020 e 2021, num cenário em que até tínhamos editais. Não faltavam concursos. Mas as provas iam sendo adiadas indefinidamente e isso desanimava os candidatos e desanimava os próprios órgãos públicos a fazerem concurso, porque gerava muitas vezes um gasto adicional e uma incerteza nos próprios contratos com as bancas organizadoras. Esse cenário [de incertezas] está se dissipando. Você tem maiores certezas quanto à possibilidade e a viabilidade de aplicação de provas e quanto às datas das provas. Então já podemos nos programar com relativa segurança quanto à realização de provas no futuro”, ressalta.
O economista e professor de Finanças Públicas na Universidade de Brasília, Roberto Piscitelli, evidencia que a urgência de contratação de servidores no cenário pós-pandêmico devido ao represamento de certames também é positivo e influencia na autorização e abertura de novas seleções públicas. Para Piscitelli, entretanto, é importante ressaltar também que a retomada de concursos é gradual e não imediato. “De algum modo, as perspectivas que existiam para 2021 se transferiram para 2022, em razão dos efeitos prolongados da pandemia e do ritmo do processo de vacinação. O lógico seria esperar que os concursos inicialmente programados para 2021 foram transferidos para 2022. Entretanto, esse ritmo de retomada ainda é lento, mesmo com a remoção de boa parte das dificuldades decorrentes da necessidade de maior dispersão dos candidatos nos locais de realização de provas. É bom levar em conta que as lacunas existentes em matéria de pessoal, já detectadas em 2021, se ampliaram e tornam mais urgente a contratação de novos servidores.”
Na opinião do especialista, a possibilidade de veto em 2022 à Reforma Administrativa (PEC 32), que já tramita há mais de um ano na Câmara, também é favorável para interessados no serviço público e pressiona a contratação de novos funcionários: “2021 foi marcado por restrições legais à realização de novos concursos. Acredito, inclusive, que a não aprovação da Reforma Administrativa, que — na minha opinião — seria nociva para o Serviço Público, aumenta as pressões para a contratação de servidores via concurso público, pois o projeto em tramitação, ‘flexibilizaria’ as condições de ingresso na Administração, e tornaria muito mais fáceis as contratações temporárias, as terceirizações, as nomeações por critérios políticos, partidários.”
José Trindade ressalta concursos para a Segurança como uma das grandes promessas para 2022. De acordo com o professor, o novo cargo de policial penal, com carreira reestruturada em diversos estados em 2020 e 2021, deve ter vários editais no próximo ano. E não para por aí! “Nós temos polícias civis estaduais e polícias militares, como a própria Polícia Militar do Distrito Federal. Nós temos concurso, também no Distrito Federal, da Polícia Penal já com edital iminente. Nós temos o concurso de agente administrativo da Polícia Federal podendo sair também, temos o concurso de agente de custódia da Polícia Civil do Distrito Federal e temos, pelo Brasil afora, várias polícias civis e militares que, embora muitas delas tendo feito concursos relativamente recentes, continuam com defasagem de quadros.”
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Para Trindade, 2022 pode ser mais promissor até do que os anos pré-pandêmicos para concursos. A explicação é simples: além dos certames que são lançados todos os anos, o ano terá a abertura de seleções que foram acumuladas devido à covid: “Em 2017, 2018 e 2019 a gente tinha uma certa regularidade de certames, mas agora você tem uma série de concursos represados, além de tudo. Além dos concursos regulares que vão retomar o seu ritmo, temos o reinício da aplicação de provas e a demanda de concursos de órgãos públicos que não têm concurso em vigor.”
O profissional cita, por exemplo, grandes concursos de órgãos públicos importantes que já estavam previstos antes de 2020 e até hoje não foram lançados — como é o caso do Senado. “O último concurso [do Senado] foi realizado em 2012. Com a pandemia, nós tivemos dois anos a mais de atraso. A necessidade de contratação só se agravou. O concurso do Senado já estava na iminência de sair em 2019. Em novembro de 2019 ele foi autorizado e no início de 2020 ele já tinha um cronograma concreto de realização, com data prevista para realização de prova inclusive, mas a pandemia fez ocasionar a revogação do concurso”, explica. “A gente têm, nessa retomada, a possibilidade de o Senado realizar o concurso que ele já estava já tinha engatilhado em 2019.”
O grande número de concursos represados em órgãos que costumam chamar muitos servidores é um fator que, para o professor, contribui para um 2022 promissor para os concurseiros. “Existem inúmeros concursos e inúmeros órgãos públicos que estão não só com defasagem de servidor, mas sem possibilidade de convocar ninguém porque não têm concurso ativo. é o caso do INSS, é o caso do Senado e é o caso de vários tribunais, como o Tribunal de Justiça do Distrito Federal. É o caso da Justiça Federal também”, lembra.
Com tanto concurso previsto e com altas chances de sair no próximo ano, fica difícil decidir qual prestar. Por isso, Trindade ressalta que é ideal que o concurseiro foque em um setor e comece a preparação desde já. “Temos uma gama de concursos à disposição. É importante estudar e analisar as áreas disponíveis de atuação. Área fiscal, área de controle e área policial são alguns exemplos. Não precisa ser o foco em um concurso, mas é importante focar em uma área que quer seguir, ou em duas áreas próximas que se aproveitam e se completam.” E indica: “Se a pessoa não tem base ou já faz muito tempo que não vem estudando, vale a pena começar do zero, do básico. Começar leitura de lei, análise de conceitos fundamentais de cada disciplina e, acima de tudo, exercitar desde o início.”
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*Estagiária sob supervisão de Mariana Fernandes
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