Renato Souza – O governo de Goiás ainda não pagou o salário de cerca de 2,3 mil soldados que ingressaram na Polícia Militar em outubro. Eles foram aprovados no concurso de 2016 e realizam o curso de formação de praças. A remuneração deveria ter caído na conta no quinto dia útil de novembro. Além dos atrasos, os novos policiais entraram na corporação recebendo mensalmente R$ 1.500, a menor remuneração do país para militares da PM em começo de carreira. Até então, esse posto era ocupado pelo Espírito Santo, que paga R$ 2.646. Somente nas cidades do Entorno do Distrito Federal, cerca de 500 integrantes da PM estão sem pagamento.
De acordo com o edital, as cidades com a maior quantidade de policiais convocados são Goiânia, com 820 novos integrantes, e Luziânia, com 280 aprovados em concurso que já tomaram posse. O salário de R$ 1.500, já considerado baixo, deve reduzir ainda mais com a dedução de impostos.
De acordo com o presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Goiás, Gilberto Cândido de Lima, a remuneração final pode ficar abaixo do salário mínimo. “O valor integral é R$ 1.500. Mas, por conta de diversos tipos de impostos, os soldados vão receber, na verdade, algo entre R$ 1.250 e R$ 800. É um valor absurdo diante da realidade da segurança no estado”, criticou. “Muitos dos que estão fazendo o curso vêm de outros estados e precisam custear as passagens e alimentação. Isso faz com que eles passem necessidades.”
Todos os candidatos que foram aprovados nesse concurso têm ensino superior completo e comparecem aos batalhões de segunda a sexta-feira. O governo não oferece alimentação, e o custo de deslocamento também fica por conta dos próprios candidatos. Moradores do DF que ingressaram na corporação de Goiás seguem todos os dias para as cidades de Luziânia, Águas Lindas de Goiás e Formosa.
O curso de formação tem duração média de um ano e dois meses, e a remuneração atual deve ser mantida mesmo após esse período. O valor do salário só deve aumentar após a mudança de patente, de soldado de terceira classe para segunda classe.
Um policial, que mora no DF e atua em Formosa, no Entorno, critica os atrasos e a remuneração. “Esse é um valor muito baixo para quem arrisca a vida para a proteger a sociedade. Além disso, o governo atrasa a remuneração, o que é uma falta de respeito com a categoria”, protestou. “Acaba que as pessoas desistem quando passam em concursos melhores ou quando percebem que vão enfrentar dificuldade pelos próximos anos.”
Defesa
Em nota, a PM de Goiás negou o atraso de salário. “Os que ingressaram na carreira em 9 de outubro não puderam ser incluídos na folha porque já estava em processo de fechamento. Neste mês, naturalmente, receberão os vencimentos acumulados”, diz o comunicado.
A corporação saiu em defesa do governo de Goiás, que segundo afirma “notabiliza-se pela extrema correção no que diz respeito aos salários dos servidores públicos”. “Trata-se de uma das poucas unidades da Federação que mantêm irrestrito compromisso no sentido de manter a folha sempre em dia. Jamais atrasou pagamentos.”
A PM goiana também comentou que o valor dos salários estava previsto no edital do concurso. “O estado, em lei, criou a categoria de soldado de terceira classe, cujo montante, hoje, já supera os R$ 1.500 iniciais. Após três anos, são elevados à segunda classe, com vencimentos superiores a R$ 4 mil. Todos os que participaram do concurso tinham plena ciência desses fatos”, completou o comunicado.
“O valor integral é R$ 1.500. Mas, por conta de diversos tipos de impostos, os soldados vão receber, na verdade, algo entre R$ 1.250 e R$ 800. É um valor absurdo diante da realidade da segurança no estado”
Gilberto Cândido de Lima, presidente da Associação de Cabos e Soldados da Polícia Militar e do Corpo de Bombeiros de Goiás
“Os que ingressaram na carreira em 9 de outubro não puderam ser incluídos na folha porque já estava em processo de fechamento. Neste mês, naturalmente, receberão os vencimentos acumulados”
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