“Nos últimos anos, tivemos uma perda significativa de servidores”, diz presidente do INSS

Marlla Sabino, Especial para o Correio – O presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), Leonardo Gadelha, afirmou ao Correio que o dinheiro disponível hoje no caixa do órgão não é suficiente para manter o pleno funcionamento das agências de atendimento a aposentados e pensionistas até o fim do ano. Caso o Ministério do Planejamento não libere mais verbas, o sistema entrará em colapso. “Temos conversado com o Planejamento e eles sinalizaram que haverá descontingenciamento do Orçamento no momento adequado”, disse.

De acordo com o Ministério do Planejamento, a União fez um contingenciamento de recursos de R$ 42,1 bilhões no início de 2017 para assegurar o cumprimento das metas fiscais — de deficit de até R$ 139 bilhões — diante do fraco desempenho das receitas públicas. Os cortes atingiram todo o governo indiscriminadamente. No caso do INSS, houve redução de 40% das verbas disponíveis para o funcionamento das agências.

Os problemas orçamentários do INSS afetam trabalhadores, aposentados e pensionistas, que encaram longas filas para conseguir atendimento. Em Brasília, as pessoas enfrentam mais de duas horas de espera apenas para pegar uma senha. A dona de casa Maria Barba de Almeida, 51 anos, saiu de São Sebastião às 7h de ontem para ir a um posto na Asa Sul. Mas, mesmo chegando cedo, só conseguiu ter o problema resolvido à tarde. “Eu passei mais de uma hora só na fila da senha, em pé e sem almoço. Lá dentro, está lotado. Era só para pegar um papel, e é todo esse transtorno”, desabafou.

Por nota, o Ministério do Planejamento informou que “em caso de descontingenciamento, o Instituto será priorizado, a depender da evolução das receitas e despesas obrigatórias até o final deste ano”. De acordo com a pasta, os próprios ministérios definem o quanto será atribuído ao limite de custeio que segue para cada unidade. “Não cabe, no entanto, ao MP o corte de verbas para o funcionamento das agências do INSS.”

Perda de servidores

Leonardo Gadelha reconheceu os problemas e disse que é de conhecimento do INSS a realidade dos postos. “Ao longo dos últimos anos, tivemos uma perda significativa de servidores ao mesmo tempo que houve aumento da demanda”, justificou.

Atualmente o INSS conta com 83.123 servidores, porém apenas 35.875 estão ativos (36.280 são aposentados e o restante é “instituidor de pensão”). Nesse ano, apenas 161 servidores concursados foram empossados (mais de 98% deles para cargos de nível médio), enquanto 228 vestiram os pijamas. Os dados são do Ministério do Planejamento acumulados até maio deste ano.

Ainda segundo o presidente do instituto, está sendo testado um modelo digital, no qual a pessoa pode submeter o requerimento de aposentadoria e pensão pela internet, e o atendimento poderá ser concluído, virtualmente, por um servidor em qualquer região do país. Ainda não há expectativa de quando o sistema começará a funcionar em todo o Brasil. A previsão é que se expanda, nos próximos meses, para mais 70 postos de atendimento.

Descaso

Na agência da Asa Sul, mesmo quem chegou mais cedo ontem só conseguiu ser atendido à tarde. Foto: Arthur Menescal/Esp.CB/D.A. Press

No posto da 502 Sul, apenas um caixa era destinado para o atendimento preferencial. Não havia funcionário para sanar dúvidas. O taxista Julio Alves Ramos, 65, esperou por mais de três horas para descobrir que o documento deveria ser retirado pela internet. “Esperei todo esse tempo à toa, porque não colocam alguém aqui para orientar”, protestou Julio.

Já o higienizador de carros Junio Carlos Alves foi ao local com a mulher, que está há dois meses sem receber o benefício do auxílio-maternidade. “É a segunda vez que estamos aqui. Da primeira, ela estava de resguardo e ficou nessa fila”, reclamou.

Em Taguatinga Norte, a situação também é caótica. O aposentado João Carvalho Filho, 59, foi cedo à agência e esperou por mais de uma hora pela senha. “Já tinha muita gente quando cheguei, mais de 90 pessoas na minha frente. É um descaso total.”

Lorena Pacheco

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