Confira dicas dos especialistas para se preparar para o Senado

Publicado em Sem categoria

Sem organizadora e edital de abertura definidos, estudar para o Senado se tornou um tiro no escuro. Veja os conselhos dos professores para se antecipar ao conteúdo   Guilherme de Ameida – Do CorreioWeb  

Professor de Português, Albert Iglésia dá dicas do que pode cair nas provas

O que intriga muitos candidatos ao disputadíssimo concurso do Senado Federal é encontrar uma maneira de estudar para uma seleção que ainda não tem edital de abertura divulgado e ― como se isso não fosse o suficiente — também não tem definida a banca organizadora responsável pela elaboração das provas.   O desafio foi aceito por milhares de estudantes em todo o país. No entanto, segundo os especialistas consultados pelo CorreioWeb, a verdadeira briga promete ser de “cachorros grandes”. Segundo o professor de Direito Constitucional João Trindade, a maioria dos candidatos em potencial já são servidores públicos ou concurseiros experientes. “Muitos desses têm mestrado e doutorado”, revela o professor.   Acontece que nem só de pessimismo vive o alunado que se prepara para a concorrida seleção. O alto nível salarial, os benefícios trabalhistas e a estabilidade de um servidor público federal são grandes estímulos para os concurseiros que sonham em trabalhar na Casa. A remuneração de um técnico em início de carreira é de R$ 13,8 mil; a de analista, R$ 18,4 mil; e a de consultor, R$ 23,8 mil. Mas segundo o especialista em seleções públicas José Wilson Granjeiro, até o último nível da carreira, os vencimentos desses servidores podem alcançar a cifra de R$ 16,5 mil; 20,9 mil; e 25 mil, respectivamente.   A expectativa agora é que sejam abertas 246 vagas, sendo 104 para técnicos legislativos, 133 para analistas legislativos e nove para consultores legislativos. No entanto, espera-se que mais candidatos sejam chamados. Segundo a diretora-geral do Senado Federal, Doris Peixoto, cerca de 300 a 400 funcionários públicos devem se aposentar até o final deste ano. Ou seja, a quantidade de novos servidores não será suficiente para resolver o problema de carência no quadro de profissionais da Casa Revisora. Isso sem mencionar as baixas por exonerações e falecimentos.   Nomeações à parte, o que interessa ao candidato neste momento é se antecipar ao conteúdo da prova. Sendo assim, se preparar para um dos concursos mais visados do Brasil é definitivamente um grande desafio. Além da enorme concorrência entre candidatos de alto nível e da complexidade da prova, estudar sem a ajuda de um conteúdo programático e conhecimento da banca organizadora dá a sensação para o candidato de ter que dar um tiro no escuro.   Mas ao que tudo indica, o edital de abertura da seleção está prestes a ser lançado. Em 16 de novembro, o presidente da Casa, José Sarney, autorizou a realização do certame. E segundo o presidente da comissão do concurso, o consultor legislativo Davi Paiva, as inscrições do Senado devem ser abertas nos primeiros meses do ano que vem. Até lá, o CorreioWeb escalou especialistas para comentar e ajudar o candidato a se preparar para seis matérias indispensáveis. Confira as dicas de quem entende do assunto:   Língua Portuguesa Os professores são unânimes em afirmar que a prova de Língua de Portuguesa para o concurso do Senado é uma das mais difíceis e cansativas do país. Além da complexidade do conteúdo técnico das questões, o candidato tem que ter um alto nível de paciência, concentração e imparcialidade para poder passar pelas questões de interpretação de texto.   Segundo o professor Albert Iglésia, ir muito bem na prova de Português não é um diferencial, mas praticamente um pré-requisito. “Estamos falando da disciplina com o maior número de questões do grupo de Conhecimentos Gerais (de 40% a 50% dele). A banca do último concurso do Senado foi a Fundação Getúlio Vargas (FGV), que costuma colocar textos longos e cansativos, que exigem bastante reflexão por parte do aluno. Isso hoje em dia é uma tendência. Até porque atualmente quase não se cobra ‘decoreba’ em Língua Portuguesa”, explica.   Ao analisar os editais de abertura das seleções passadas, nota-se que existe uma probabilidade muito grande de o conteúdo se repetir. O edital não saiu, no entanto o candidato já pode se antecipar estudando em cima dos editais anteriores. “Quando finalmente [o edital de abertura] é publicado, o candidato percebe que já estudou vários tópicos e faz apenas um leve direcionamento com o restante do conteúdo, até então desconhecido”, afirma o professor.   Para o especialista em Língua Portuguesa, é importante que nesta etapa o concurseiro não deixe de estudar cinco pontos da matéria: concordância, pontuação (com ênfase no emprego da vírgula) regência, uso da crase e o correto emprego dos pronomes.   No caso da temida interpretação de texto, o exercício da leitura atenta de bons livros e jornais ainda é o melhor caminho. “Não dá pra achar que o aluno vai compreender o texto simplesmente decorando regras. Os textos que aparecem neste tipo de prova raramente são literários; são textos informativos”, orienta o especialista. E embora muita gente pense que interpretação de texto é uma caixinha de surpresas, existem técnicas que permitem ao candidato chegar a uma conclusão e inferir uma resposta. “O aluno tem que atentar para os elementos coesivos que retomam ideias de frases que foram mencionadas em linhas anteriores. Outra coisa é prestar atenção logo no primeiro parágrafo, porque é ali que normalmente aparece a idéia principal do texto, quer dizer, é a partir do primeiro parágrafo que o autor tende a desenvolver todo um raciocínio”, explica o professor.   Outra dica é não passar despercebido por detalhes que muitas vezes são ignorados pela maioria dos concorrentes. “É importante prestar atenção na época em que o texto foi escrito, quem é o autor que o redigiu, na fonte e se o candidato está lidando com um texto original ou adaptado”, conclui.   Direitos Constitucional e Administrativo Para quem tem dificuldades com a prévia do conteúdo dos Direitos Constitucional e Administrativo, o professor Frederico Dias afirma que o ideal para esta altura do campeonato também é mirar o último edital da seleção. “Uma dica de grande valia é resolver questões e provas da FGV, última organizadora do concurso. Mas o aluno não deve se limitar. O interessante é priorizar esta organizadora e, se sobrar tempo, resolver questões de outras bancas como o Cespe/UnB, organizadora do concurso de 2002”, avalia.   Questionado a respeito de um conteúdo indispensável para esta próxima seleção, o especialista sugere focar o estudo na organização dos poderes (em especial, o Legislativo), o estudo das CPIs e, principalmente, as regras constitucionais sobre o processo legislativo. “E resolver muitas questões discursivas, é claro”, afirma.     Na última prova (para a área de processo legislativo), os itens de Direito Constitucional representaram aproximadamente 10% da pontuação total do teste objetivo. “Além disso, direitos Constitucional e Administrativo eram essenciais para compreender o estudo do Processo Legislativo” (disciplina cobrada à parte em outros 7% da prova). “No final das contas, essa prova tinha ainda duas questões discursivas: uma de Direito Constitucional e a outra de Processo Legislativo (que é um subtema de Constitucional, cobrado numa abordagem mais aprofundada)”, afirma o professor. No total, Constitucional era essencial para responder a 17% da prova objetiva. “Vale muito a pena se dedicar para essa disciplina, inclusive com um estudo voltado à resolução de questões discursivas”, diz o professor.   Já no caso de Direito Administrativo, de acordo com o professor Armando Mercadante, é necessário enfatizar, dentro de cada tópico, conteúdos com maior probabilidade de serem cobrados. “Por exemplo, na Lei. 8.666/93 é muito boa a possibilidade de a banca cobrar modalidades de licitação e hipóteses de dispensa e de inexigibilidade. Na Lei 8.112/90, também é boa a probabilidade de a organizadora cobrar formas de provimento e de vacância ou as penalidades disciplinares”, aposta. “De qualquer forma, dentre as matérias constantes do último edital, atribuo um destaque para os tópicos das Leis 8.112/90, Lei 8.666/93, administração indireta, responsabilidade civil do Estado e artigos 37 a 41 da Constituição Federal”.   Atualidades e Raciocínio Lógico Discreta, a matéria de Atualidades certamente é um diferencial para aqueles que querem utilizar a disciplina como um parâmetro de desempate e se destacar dos demais concorrentes. O especialista em Atualidades Rodrigo Barbati explica que este conteúdo tem uma participação pequena na prova objetiva (cerca de 3% a 5%), o que dá um peso maior às questões. “Para você mensurar a responsabilidade que errar uma questão dessas representa. O candidato não dá muita importância ao conteúdo de Atualidades, mas faz toda a diferença na classificação geral”, orienta o professor.   Nessa disciplina, as bancas ou privilegiam o fato em si (o que) ou o processo histórico que desencadeou o fato (o porquê). “O que realmente importa e é ‘o que’, ‘quem’ e ‘por qual motivo’ virou notícia. O ‘quando’ com o passar do tempo se tornou irrelevante. Ele já está superado. Quase nenhuma organizadora cobra a memorização de datas”, descarta.   Como dicas de possíveis tópicos para a prova, o especialista aposta na aprovação do Novo Código Florestal e a discussão sobre a partilha de royalties do Pré-sal. “São questões que pautaram o Poder Legislativo nos últimos meses. Sem esquecer que a maioria das bancas não dá importância a escândalos e crises políticas: o que importa mesmo são os diferentes pontos de vista que rodeiam uma determinada discussão”, orienta.   Raciocínio Lógico também é outra matéria que se caracteriza por ser desempatadora. De acordo com o professor da matéria, Paulo Quilelli, existe um núcleo que é persistente em quase todas as bancas. “O alunado não pode deixar de estudar a definição de preposição, tabelas verdade, equivalência, argumentação, negações de preposições. Este é um conteúdo básico”, prevê.   Regimento Interno Especialista no assunto, Luciano Oliveira é consultor legislativo do Senado e dá aulas sobre Regimento Interno. Esta disciplina normalmente se encontra na parte específica da prova, tem peso dois e costuma a apresentar interdisciplinaridade com outras matérias como processo legislativo, direito constitucional, direito administrativo, além de leis e resoluções esparsas do Congresso Nacional.   Para o professor, infelizmente as bancas ainda exigem que se grave o regimento. “Realmente as questões cobram a memorização. Mas não é decorar que nem papagaio. Você tem que efetivamente entender aquilo que você está decorando”. No entanto, o professor destaca que muitos alunos vão bem na parte objetiva de regimento interno, mas vêem o desempenho despencar na parte discursiva. “Tenho visto muita gente se dar mal na parte discursiva pelo fato de não ter treinado a argumentação e a elaboração de um texto. Isso é caso freqüente de eliminação de vários candidatos”, alerta.   Já no tocante ao mistério que envolve a divulgação do edital de abertura, o conselho é não se afobar. “Em Regimento Interno o candidato precisa ter foco na matéria. A teoria é a mesma. O conteúdo está na lei e nos livros”, defende.