O Novo Governo e os Desafios da Competitividade Global!
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No Video abaixo, logo após o Artigo, eu analiso de forma resumida os temas aqui abordados ! Espero seus comentários e sua curtida lá no canal do Youtube!
Gratidão, Namastech🙏
ARTIGO
Os próximos quatro anos do Brasil, sob o comando do recém eleito Presidente Luís Inácio Lula da Silva, serão desafiadores em diversos aspectos, particularmente no que se refere a Agenda Internacional. Após um longo tempo de abandono do protagonismo liderado pelo próprio Presidente Lula (Diplomacia Presidencial de 2003 a 2010), tivemos um declínio absoluto no foco das relações internacionais e do comércio exterior. O mundo não parou e neste interim, um novo Atlas da Competitividade Global, impulsionado pelo domínio das novas tecnologias e do desejo das nações ocidentais de estabelecer uma “Nova Ordem Mundial”, teve sequência acelerada.
O Fórum Econômico Mundial (FEM) no período pré-pandêmico engendrou uma ampla agenda de mudanças. Klaus Schwab, presidente e fundador deste clube de bilionários que é o FEM, publicou um livro intitulado: “The Great Reset” (A Grande Reinicialização), onde deixou claro para onde caminha a implementação de uma “Nova Ordem Mundial”. Além da atualização das instituições globais resultantes do Acordo de Bretton Woods no pós-guerra (OMC, FMI, Banco Mundial etc), a preocupação está em tentar reinventar o atual Sistema Capitalista, dando-lhe o máximo de sobrevida, com o apelo de Capitalismo Consciente ou Capitalismo de “Stakeholders”.
Não faltam motivos para preocupação. Projeções da ONU indicam que a humanidade alcançará o número de 9,7 bilhões de habitantes no ano de 2050, frente aos 8 bilhões que acabamos de atingir no último dia 15/11, de acordo com a ONU.
O estrago social acumulado pelo atual modelo de capitalismo, gerou nas últimas décadas, disparidades e concentrações de renda inimagináveis. Segundo o relatório da OXFAM de 2022, apenas 2.153 bilionários, detém riqueza superior a 4,6 bilhões de pessoas, ou seja, cerca de 60% da população mundial. Há riscos evidentes de convulsão social em todo o globo. No Brasil, temos 55 bilionários que juntos acumulam US$176 bilhões. Desde o anúncio da Pandemia em 2020, o Brasil acrescentou 10 novos bilionários. Esta elite viu suas riquezas aumentar em 30% neste período caótico para o país e a humanidade, enquanto 90% dos brasileiros entre 2019 e 2021 tiveram uma redução média de seus ganhos de 0,2%, além do desemprego e a volta da fome, atingindo mais de 30 milhões de pessoas por aqui.
O FEM teme que o avanço em escala global de tecnologias como a Robótica, nas linhas de produção ou em trabalhos operacionais corriqueiros e da Inteligência Artificial em áreas meio, burocráticas e de funções repetitivas, possa gerar desemprego em massa, sendo necessário considerar taxas ambientais e políticas de investimento social para assegurar uma “renda básica universal” como forma de suprir as necessidades da maioria da população mundial que tenderá a ser substituída pela automação.
No foco ambiental, a incapacidade dos países de se comprometerem efetivamente com a redução na emissão de gases de efeito estufa em nossa atmosfera, acordada em Paris, para manter o aumento da temperatura média global em menos de 2 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais (idealmente, 1,5 graus Celsius), tem todos os alarmes vermelhos a soar. O Secretário Geral da ONU, Antônio Guterres na abertura da COPE 27, afirmou: “Estamos em uma estrada para o inferno climático, com o pé no acelerador”.
Neste foco em particular, os últimos anos de Governo Bolsonaro nos envergonharam diante do mundo. A agressão aos Biomas, particularmente incêndios e desmatamentos na Amazônia, a expansão de garimpos em terras indígenas, o enfraquecimento dos órgãos fiscalizadores e a intervenção em instituições de monitoramento como o INP (Instituto Nacional de Pesaquisas Espaciais) causaram nosso isolamento internacional.
O Presidente Lula recebeu imediatos acenos por parte dos Chefes de Estado em reconhecimento a legitimidade das eleições brasileiras e de sua vitória. O mundo espera resgatarmos nossa credibilidade e o protagonismo na temática social e ambiental. Lula acertou ao atender o Convite de lideranças globais para participar da COPE 27 acompanhado de uma Equipe Técnica de peso liderada pelas ex Ministras do Meio Ambiente, Marina Silva e Isabella Teixeira. É uma ótima chance de retomarmos o Fundo Amazônia (US$ 1,7 bilhões), apoiado pela Alemanha e pela Noruega e interrompido na Gestão Bolsonaro. Aliás, durante a campanha, o então candidato Lula, ressaltou que a Floresta tem muito mais valor em pé do que deitada (desmatada). O potencial da chamada Bioeconomia brasileira, por exemplo, é estimado em US$326 bilhões.
Quanto a agenda específica de comércio exterior, o que esperar do terceiro Governo Lula nos próximos 4 anos?
Continuidade do processo de inclusão do Brasil na OCDE;
Retomada da Agenda Sul-Sul;
Retomada da prioridade do Acordo dos BRICS;
Fortalecimento da Diplomacia Comercial, com expansão dos Acordos Bilaterais e Multilaterais de Comércio;
Ampliação dos Acordos Internacionais para evitar Bitributações;
Diversificação dos mercados compradores, expandindo as relações comerciais com o mundo todo, especialmente com a Ásia, África e Oriente Médio;
Reconfiguração da Promoção Comercial e da Atração de Investimentos, hoje capitaneada pelo Ministério das Relações Exteriores;
Agregação de valor na Pauta Exportadora, com ênfase para a Agroindústria e às Cadeias Produtivas de Commodities Minerais;
Forte incentivo à Internacionalização de empresas especialmente às empresas de base tecnológica, startups etc;
Ampliação da oferta de produtos brasileiros nas maiores plataformas digitais de comércio do mundo;
Valorização da carreira de analista de comércio exterior;
Ampliação do quadro de especialistas em Defesa Comercial;
Digitalização, redução burocrática e facilitação logística do comércio exterior;
Criação e aperfeiçoamento de linhas de financiamento à exportação;
Investimentos maciços em treinamento, capacitação e cultura exportadora;
Entre outros
Nossa relação com os Estados Unidos particularmente numa Gestão Biden deverá ser muito positiva e ampliada. A chegada de Lula também deverá facilitar e desobstruir de vez o Acordo União Europeia – Mercosul, dada a amizade entre o Presidente e seus pares dos demais Estados-Membros de cada um dos lados. No entanto, vale o registro de que as nações ocidentais manterão certa pressão sobre nosso país, uma vez que está em curso um movimento bastante antagônico entre Ocidente e Oriente. O pano de fundo parece ser a autonomia de Taiwan e outros temas regionais, além do conflito entre Rússia e Ucrânia. O mundo ocidental teme que o “império do Meio” (China), esteja preparado para liderar outras nações à partir do seu forte poderio econômico e absoluto domínio das chamadas tecnologias disruptivas.
Durante a Gestão de Donald Trump à frente da Presidência dos EUA (2017 a 2021), o jogo mudou em favor da China. O primeiro ato presidencial logo após a sua posse foi rasgar diante das câmeras de TV do mundo todo, o chamado TPP (Trans Pacific Partnership), que levou 9 anos para ser elaborado e articulado sob a liderança norte americana e do Japão, que incluía um enorme avanço de comércio e serviços entre os EUA e os países do Pacífico. Não por acaso um dos últimos atos do Presidente Barack Obama foi visitar o sudeste asiático e pressionar pela aprovação do Acordo por parte dos Parlamentos daqueles países. Contudo, o “Outsider” além de jogar fora o imenso esforço da diplomacia comercial nipo-americana, declarou seu único compromisso: “América para os Americanos” e seu desinteresse em liderar a agenda da globalização. Xi Jinping agradeceu e apresentou a China como a nova liderança global, apontando inúmeras alternativas, como por exemplo a releitura da antiga rota da seda, através do projeto: “One Belt, One Rod” financiando a infraestrutura de mais de 140 países com o aporte aproximado de US$1 trilhão.
Diante do desconforto da guerra no Báltico e dos persistentes desafios da Pandemia do Corona Vírus, a China prepara-se para um período mais difícil e de baixo crescimento econômico. Contudo, o alinhamento entre o Partido Comunista e o Chefe de Estado, simbolizado pela terceira eleição de Xi Jinping, agora com poderes ampliados, reconhece o fato do Premier Chinês ter dobrado o PIB do País em uma única década (2012 a 2022). Xi, nesta nova condição de soberano, deseja posicionar o país na disputa pela Hegemonia Global de Poder. Sua principal aposta vem de um longo prazo de preparação e investimentos no domínio da pesquisa, ciência e tecnologia, especialmente àquelas consideradas imprescindíveis para a liderança global. Algumas evidências de que viveremos uma possível migração de poder do atlântico para o pacífico, sob a liderança chinesa, sem descartar o potencial da Índia e demais países:
Domínio das Tecnologias Disruptivas: *US$2 Bilhões num único Centro de Referência em IA (lideram o tema da Inteligência artificial mundialmente); *Domínio do 5G e do 6G; *800 Fábricas de Robôs Industriais; *Supremacia Quântica (computação quântica centenas de vezes mais avançada que outras concorrentes); *Domínio incomparável da Fusão Nuclear (energia de baixo custo em âmbito global); *Autonomia Espacial (Rover em Marte, Pouso no lado Oculto da Lua e construção da própria Estação Planetária); *Liderança do maior Tratado de Livre Comércio da história do Mundo (RCEP); *Lançamento do Yuan Digital como moeda para as Transações Financeiras Internacionais; *Implantação do Projeto “One Belt, One Road”(em curso e envolve investimentos em infraestrutura física e digital em mais de 140 países); *Domínio da tecnologia CRISPR e outras técnicas avançadas no campo da Genética e da Biotecnologia; *Investimentos bilionários em Pesquisas de novos materiais nanotecnológicos e bidimensionais; *US$ bilhões para a Produção de Chips reduzindo a dependência de Taiwan e da concorrência do Chips Act dos EUA;
*Redes Sociais e Empresas de Aplicativos, Games,E-Commerce, E-Sports, Metaverso e de Criptoativos chinesas figuram entre as mais competitivas do mundo;
*Etc
A Política Externa e Comercial brasileira precisa ser pragmática, sem viés ideológico e dialogar com todos que possam assegurar o melhor resultado para nossa população. Não precisamos e não devemos nos vincular incondicionalmente a este ou aquele país, seja do Oriente ou Ocidente, mas antes buscar implacavelmente defender os interesses brasileiros no ambiente internacional.
Precisamos ampliar nosso foco de parceria com a China e demais países para além dos produtos de commodities ou semielaborados. Temos que ir muito além do que sempre fomos. O Brasil possui um grande diferencial competitivo e se destaca como centro de referência global em temas que o mundo prestigiará cada vez mais, como por exemplo: biotecnologia, desenvolvimento de software, hardware, tecnologia aeronáutica, oceano profundo, realidades imersivas, química fina, telecomunicações, medicina, soluções de governo digital, energia etc.
A atualização de currículos acadêmicos, a ampliação relevante na formação de engenheiros, desenvolvedores, pesquisadores, cientistas, tecnólogos, mas também de Internacionalistas e traders de comércio exterior podem proporcionar um forte impulso em nosso desenvolvimento interno e externo num mundo em profundas e aceleradas mudanças.
O ex Embaixador do Brasil na China, Clodoaldo Hugueney, me ensinou em uma de suas célebres apresentações que a competitividade global de um país exige o alinhamento simultâneo e permanente entre 3 políticas:
Política Macroeconômica
Política Industrial ou de Desenvolvimento
Política de Comércio Exterior
De fato, sem um balanceamento preciso entre estas 3 políticas, a Coreia do Sul jamais deixaria de ser rural, a Finlândia ainda seria conhecida por papel e celulose e a China seguiria entre as nações pobres mais populosas do mundo.
Estamos a mais de uma década sem qualquer clareza de nosso projeto de futuro, sem foco, estratégia ou meras perspectivas. Neste cenário nos assemelhamos com àqueles que por não terem Planos, Metas ou Sonhos, vivem o Plano, a Meta e o Sonho dos que sabem muito bem onde querem chegar e os países desenvolvidos exploram bem esta nossa fraqueza. Que o Governo Lula, versão 3.0, nos permita retomar as rédeas de nosso próprio destino, posicionando o Brasil no lugar que sempre lhe coube, entre as nações mais ricas, sustentáveis, tecnológicas e justas socialmente. Oxalá!
Gilberto Lima Jr é bacharel em administração com habilitação em comércio exterior, pós – graduado em gestão de tecnologia da informação, ex coordenador da Estratégia Nacional de TICs pela ABDI (2004 a 2008) e da Unidade de Internacionalização de Empresas da Apex Brasil (2008 a 2011), Preside o Instituto Illuminante de Inovação Tecnológica e a Consultoria Internacional: Going Global Consulting, além de integrar o “Board” de Empresas e Instituições no Brasil e no Exterior.