Um Blog dedicado a antecipar o futuro, apontando tendências e impactos disruptivos das inovações tecnológicas na humanidade, naturalmente precisa abordar sobre o “Tempo” este “velho” conhecido de todos nós!
Você já viveu a experiência de um Dejavú? Viu-se diante de algum acontecimento e teve uma sensação muito forte de que aquele episódio, aquela conversa, aquelas pessoas formavam um enredo e uma narrativa já ocorridos? A ficção científica há anos, aborda a temática da viagem no tempo, os Lapsos temporais, loops etc. Por exemplo na série Matrix que terá seu quarto episódio exibido em 22 de Dezembro deste ano, os Dejavús correspondem a uma falha na Matrix, ou seja, um defeito no Sistema que controla e manipula as realidades aparentes.
Estariam os Dejavús relacionados com os chamados “loops temporais”? Imagine que uma pessoa dorme, sonha com determinados acontecimentos, acorda e verifica os mesmos acontecimentos se processando e se dá conta de que na verdade segue dormindo e depois que de fato acorda, observa tudo acontecendo conforme sonhou. Como se explica isso? O que afinal vem a ser Ilusão e realidade?
Uma excelente referência com base científica para este tema (Time Loop) é o filme: “Meia Noite e Um (12:01 PM)” de 1993, com roteiro de Jonathan Heap e direção de Jack Sholder: https://www.youtube.com/watch?v=xr4UQF0AjLc
Outra referência mais atualizada e aprofundada sobre “Time Loop” é: “Tales From The Loop” ou Contos do Loop, comparada a Stranger Things, Black Mirror etc. Uma série retrofuturista da Amazon Video, produzida por Matt Reeves. Uma cidade que fica em cima de um acelerador de partículas construído nos anos 50. A cidade é cheia de coisas estranhas, a Vida é maçante, os adultos são ocupados, não se importam, são indiferentes: https://www.youtube.com/watch?v=EOxLCUEqei8
Ao longo dos séculos, Cientistas e Filósofos se complementam. Os grandes ícones do pensamento científico beberam na fonte da Filosofia e o fazem também os cientistas modernos, especialmente àqueles dedicados a biologia e a mecânica quântica. Seja na Teoria Geral da Relatividade de Albert Einstein (macrocosmo), na Mecânica Quântica de Heisenberg (microcosmo) ou na Teoria da Gravidade Quântica em Loop de Carlo Rovelli (estrutura fina e granular do espaço), sempre se buscou a compreensão da Vida tanto em seus aspectos mais lineares quanto nos mais complexos. Esta é uma longa busca pela compreensão da Realidade.
Em diversos livros publicados pela filosofia Seicho-No-Ie e na Sutra “Chuva de Néctar da Verdade’, particularmente no capítulo: “Realidade”, o fundador, Masaharu Taniguchi expressa sobre a relatividade e a ilusão do Tempo e do Espaço numa belíssima visão Transcendental sobre a Vida:
“A Vida não está contida na escala do Tempo, não está contida na escala da caducidade; o Tempo, pelo contrário, está na Palma das mãos da Vida, a qual, cerrada, se torna um ponto e aberta, se torna Infinito. Aquele que acredita ser jovem logo rejuvenescerá e aquele que se crê senil, logo envelhecerá. Também o espaço não é algo que limite a Vida. Pelo contrário, o espaço nada mais é que uma forma de reconhecer, criada pela própria Vida. A Vida é Senhor, o espaço é súdito. Às corporificações das ideias emitidas pela Vida e projetadas no espaço dá-se o nome de matéria….
O pensamento metafísico, a sabedoria milenar do Oriente desde a cosmologia do Budismo às narrativas bíblicas, traduzem um conhecimento empírico importante na busca da “Verdade da Vida” onde o Tempo sempre teve o seu lugar de observação e abordagem. Interpretar a Realidade exige uma dose cavalar de humildade e, neste sentido, merece registro o esforço de alguns extraordinários cientistas como os biólogos chilenos: Francisco Varella e Humberto Maturana (Teoria da Autopoiese), o Físico suíço Fritjof Capra e do próprio David Bohm, um dos pais da Teoria Quântica, pela flexibilidade em integrar tais conhecimentos e observações para além da rigidez do pensamento científico. Afinal, como afirmou o extraordinário filósofo inglês do sec. XVII, Sir William Shakespeare (1564-1616): “Há mais mistérios entre o Céu e a Terra, do que possa imaginar nossa vã filosofia”.
A Ciência afirma: “O Tempo não Existe”.
Um dos mais badalados cientistas da atualidade, o físico italiano Carlos Rovelli, dedicado ao desenvolvimento da Teoria da Gravidade Quântica, reforça o conceito de que o Tempo é uma ilusão. “Para chegar a uma nova teoria, devemos construir um esquema mental que não tenha a ver com nossa concepção usual de espaço e tempo. Você tem que pensar em um mundo em que o tempo não é mais uma variável contínua, mas uma outra coisa.”
Respondendo a uma pergunta da BBC Mundo, reproduzida pela Revista Época Negócios, sobre a elasticidade do Tempo, Rovelli afirmou: “eu poderia me separar de meus filhos e reencontrá-los em um tempo que significa apenas um ano para mim, mas 50 anos para eles. Nesse cenário, eu ainda sou jovem e eles envelheceram. Isso certamente é possível. O motivo pelo qual normalmente não vivenciamos esse tipo de experiência é apenas que nossa vida na Terra se move numa velocidade lenta entre nós e, nesse caso, as diferenças de tempo são pequenas”.
Ainda sobre as referências da Ficção Científica, vale dizer que por vezes ela influencia o pensamento científico e tecnológico e acaba por assim dizer, “Criando Realidades”. No tema da Transcendência do Tempo e do Espaço, considero cinco abordagens ficcionais muito instigantes:
Cristais do Tempo
Em 2012, o Nobel de Física de 2004, Frank Wilczek apresentou um conceito polêmico sobre um novo estado da matéria que desafiava as leis da física, batizado de: “cristais do tempo”. Trata-se de um cristal que repete seus padrões não a cada certa distância, mas a cada certo tempo. É considerado um novo tipo de estado da matéria pois não é a distribuição simétrica das moléculas do estado líquido uniforme, não é um agrupamento de moléculas formando redes e estruturas em sequência de um estado sólido como o sal, por exemplo. Significa o rompimento da simetria do estado líquido alcançada pelo físico “Pablo Hurtado”, professor da Universidade de Granada na Espanha, que não chega a transformar-se no padrão examinado no estado sólido. Utilizando um supercomputador, criou-se um “campo externo de empacotamento” ao fluido, empurrando algumas das partículas e parando outras, com acúmulo de partículas provocando uma onda constante em movimento pelo sistema.
Diversas utilidades são previstas nos campos da ciência e da tecnologia. Uma das possibilidades é a criação de máquinas de movimentos perpétuos, além de instrumentos capazes de medir com um grau incomparável de precisão, tempos e distâncias. O avanço resultará em impactos na computação quântica, nas telecomunicações (novos modelos de GPS), na mineração e nos Estudos do Espaço Profundo. A demonstração desta perpetuidade nos intriga a imaginar aplicações num futuro distante que podem por exemplo se relacionar com a Vida Holográfica pretendida por aqueles que defendem a eternização humana e encaram a morte como algo já ultrapassado e inadmissível pelos novos avanços biogenéticos e computacionais.
Reversão do Tempo
E se você pudesse burlar a entropia fazendo um copo que partiu-se numa queda, reconstituir-se e voltasse intacto às suas mãos? Imagine as bolas de bilhar espalhadas numa mesa pela tacada de abertura com este mesmo drible entrópico retornando ao estado centralizado no Triângulo sobre a mesa. O copo de vidro ou as bolas espalhadas sobre a mesa quando comparados a um elétron, teriam este poder de reversão? Naturalmente que não, mas uma experiência utilizando um computador quântico, no ano de 2019, surpreendeu por apresentar algo semelhante. Pela característica da simultaneidade o computador foi capaz de calcular o trajeto temporal e espacial do elétron o que significa a possibilidade de intervir e provocar possíveis reversões. A experiência que uniu cientistas americanos e russos, paradoxalmente poderá no futuro, demonstrar a possibilidade de intervenção no presente e no passado.
Outras referências ficcionais onde a relação humana com o Tempo são disruptivas:
Libertando-se das amarras do Tempo
A População de 300 habitantes da ilha Norueguesa “Sommar” está as voltas com a aprovação de uma Lei que os liberta do controle da medição do tempo. Sim, os relógios, símbolos da quantificação temporal (deus Chronos, Pai de Zeus) perdem a influência sobre a rotina dos habitantes. Eles estão expostos 69 dias do ano sob a luz ininterrupta do sol e vivenciam suas rotinas de forma atemporal (deus Kairós, filho de Zeus). Em dias de sol permanente, sem a presença da noite, cortar a grama do quintal ás 3h da manhã faz todo sentido. Pendurar os relógios numa Ponte em analogia aos cadeados dos casais que visitam Paris e deixam seus símbolos de amor na “Ponte dos Enamorados”, tem sido um ato simbólico da população e dos turistas que marcam simbolicamente o “desapego” a escravidão de Chronos, o rigor do tempo que enquadra a humanidade em sua vida regida por marcadores do relógio, calendários e outras formas de controle da Vida.
Assim como muitas das estrelas que contemplamos no céu já não existem, mas seu brilho segue visível devido a distância que a luz percorre até nós, há quem tenha a liberdade de pensar se a realidade percebida também não poderia ser um efeito retardatário de uma realidade longínqua.
Wu Jyh Cherng, Sacerdote Taoísta, Ordem Ortodoxa Unitária, Presidente da Sociedade Taoísta do Brasil resume bem a nossa relação com o mistério do Tempo entre os céus e a Terra. Diz ele: “O céu é eterno e a terra é constante; eles vivem muito mais que nós, então se nós conseguirmos viver integrados com o céu e a terra, teremos a vida da infinitude e da constância”.
Encerro esta reflexão com a maravilhosa música: “Oração ao Tempo” na interpretação de Maria Gadú:
Namastech!
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