Quando faço minhas caminhadas pelo Parque da Cidade, muitas vezes fico pensando se todos que estão ali, praticando esportes, passeando, indo para um determinado local ou voltando, têm conhecimento de que passam por obras de arte de Athos Bulcão, nas 16 estações de serviço ao longo do percurso de 10 km, todas elas com paredes revestidas com azulejos criados pelo mestre.




Além das paredes, as colunas dos chuveiros também tem os mesmos azulejos, que são familiares a todos, mas tenho dúvidas se a maioria das pessoas sabe o quanto são valiosos na história da arte da capital.
As estações, que antes eram paradas para o trenzinho que existia para transporte e passeio dos visitantes do Parque, hoje são áreas de serviço, com pontos de descanso, banheiros, chuveiro externo, e alguns com bebedouros.
Os desenhos geométricos dos azulejos, feitos com retas, triângulos e círculos, formam figuras – que, para uns parecem borboletas e para outros são desenhos de árvores – dispostas na forma usual do artista, como um jogo de quebra cabeças.
Embora nos primeiros estudos Athos tenha projetado os azulejos nas cores amarelo e laranja para as figuras, no final permaneceu a cores preto e branco, que formam os painéis, que se destacam no meio da paisagem.

Seria muito importante que todos os frequentadores do Parque soubessem que esses azulejos das 16 estações são obras de arte importantes, que fazem parte da memória artística da cidade e que, se dispostas juntas, formam, provavelmente, a maior obra de Athos em exposição pública permanente e ao ar livre. Um legado que é preciso conhecer, divulgar e valorizar.



Infelizmente, como acontece com grande parte do patrimônio histórico e artístico do país, com essa obra de arte não é diferente, o estado de conservação dos azulejos de Athos no Parque é bastante precário, muitos estão quebrados, rachados, ou faltando, e em muitas paredes foram colocados azulejos brancos comuns, em substituição aos originais. Recentemente passei por todas e constatei, com tristeza, que em 100% das estações há necessidade de restauro.*



Segundo catalogação do Iphan – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Athos Bulcão deixou 261 obras de arte espalhadas pela cidade, algumas bastante conhecidas em áreas externas, que formam uma galeria de arte a céu aberto, com obras como os azulejos da Igrejinha da 107 Sul, a fachada do Conjunto Nacional, os blocos de concreto da lateral do Teatro Nacional, as paredes do Instituto de Artes da UnB, entre outras muito conhecidas, presentes em palácios, escolas, hospital, prédios, na Catedral, no Congresso e no Panteão da Pátria. Trata-se do artista símbolo de Brasília, o mestre da cor, que criou tanta beleza alegrando a capital.
As obras de Athos são exemplos de integração da arte na arquitetura, fazem parte da identidade de Brasília, da mesma forma que os azulejos das 16 estações de serviço integram arte na paisagem e fazem parte da identidade do Parque da Cidade.
É preciso cuidar e preservar esse patrimônio.


* A Administração do Parque me informou que está em tratativas com a Fundação Athos Bulcão, cuja missão é preservar e divulgar a obra do artista, no sentido de encontrarem meios para a restauração dos azulejos. Ainda não há previsão para o restauro.



