Felizmente doações de livros já fazem parte da prática de muitas pessoas. Em Brasília, há pontos de ônibus com acervos de doadores e os empréstimos ficam acessíveis a quem passa. Também são frequentes e bem-sucedidas as várias campanhas de arrecadação de livros que vão formar bibliotecas em diferentes tipos de instituições, com o objetivo de estimular a leitura para diversos púbicos, algumas até sobre temas específicos.
No Parque da Cidade, o menino Érique Vital, de 12 anos, teve a ideia e a iniciativa de criar uma biblioteca, disponibilizando livros para qualquer pessoa interessada. A mini biblioteca do Érique está montada sob a marquise do banheiro do Estacionamento 10, onde ele costumava ficar todos os fins de semana, cuidando, arrumando, e explicando para as pessoas sobre o seu empreendimento.
Sempre acompanhando da tia, vendedora de equipamentos para bolhinhas de sabão, o menino, que adora leitura e que queria que mais pessoas pudessem ler, começou levando pro local um caixote e os livros que tinha em casa. Depois, conseguiu com a mãe um pequeno armário de madeira, substituiu o caixote, e foi aumentando o acervo, explicando para as pessoas que se tratava de uma biblioteca colaborativa. “A minha ideia era qualquer um poder vir aqui, pegar um livro e ler. E se quiser levar pra casa, pode levar, e se quiser trazer um, também pode trazer”, contou ele, de forma tocante.
Nos últimos meses Érique tem ido menos ao Parque porque está tratando de uma doença grave, que lhe causa convulsões. Por isso, a mini biblioteca que ele sonhou e criou com tanta dedicação está ficando sem seus cuidados permanentes. O acervo diminuiu, os livros estão desaparecendo e, o que é pior, como acontece com outros tipos de doações, infelizmente, muitas pessoas, em vez de levarem livros ou revistas de interesse, têm descartado na estante material sem utilidade, como apostilas e cadernos escolares que não lhes servem mais.
Seria muito bom que a mini biblioteca contasse com mais apoio dos frequentadores do Parque e que houvesse mais doações para manter a pequena estante como local de troca e aprendizado, um exemplo de desapego, como Érique fez. Porém, com o mesmo cuidado e amor pelos livros do menino sonhador. É bom lembrar que doação não é descarte.
- Post dedicado a Samuel Calado, que se emocionou com a história do Érique e escreveu sobre ele no site do CB