Andrei Paula Leite Paz, 38 anos, brasiliense, funcionário público, dois filhos.
Frequentador bastante assíduo, Andrei é apaixonado pelo Parque da Cidade, ao ponto de ter feito mudanças importantes em sua vida, depois que passou a ter um contato mais frequente com o local. Na nossa conversa, conclui que parece existir o Andrei de antes e o de depois do Parque. As mudanças se iniciaram há mais 4 anos, quando ele começou a fazer aulas de futevôlei e foi conhecendo mais pessoas. Depois passou a marcar peladas no final de semana, e a tocar em um grupo de percussão aos domingos, onde o conheci.
Ele afirma que essas atividades, e o convívio com a natureza, proporcionado pelo Parque, foram mudando seu estilo de vida. De tal forma, que transferiu sua moradia para o início da Asa Sul, com o objetivo de ficar mais próximo e poder usufruir mais do espaço.
Outro aspecto importante que ele destaca da sua experiência com o Parque é o contato com diferentes pessoas, de diferentes situações econômicas, de diversas regiões do DF, e até de outras cidades, o que para ele torna o Parque um verdadeiro “patrimônio da humanidade”, não só de Brasília.
O entusiasmo pelo que faz, a ênfase no que acredita, a paixão de Andrei pela vida, pelas pessoas e pelo que o rodeia são contagiantes. Ele transparece e afirma que é uma pessoa feliz. E foi muito bom explorar sua forma de ver a vida e a felicidade na nossa conversa.
Perguntas para Andrei:
P- O que você acha do Parque da Cidade?
R- Hoje em dia eu estou muito integrado ao Parque da Cidade, graças a Deus. Eu sempre achei que o público brasiliense, a população de Brasília, usa pouco o Parque, poderia usar mais. É um ambiente que lembra coisas que não temos em Brasília, tipo a praia, você fica aqui de sunga tranquilamente, por exemplo, é um ambiente arborizado, mas muita gente não tem contato. Eu frequento o Parque pelo menos 4 vezes por semana, porque eu trouxe a minha vida pra próximo daqui, inclusive eu me mudei pra uma quadra perto daqui pra ficar mais perto do meu futevôlei, do meu batuque, do Batukenjé, grupo que eu faço parte. Eu trago meus filhos pra Nicolândia algumas vezes, pro foguetinho, pra passear, tomar uma água de coco, isso aqui virou a nossa vida.
P- Então, você usa várias áreas do Parque e de várias formas?
R- Tento usar ao máximo, porque é um espaço gratuito, democrático. Você convive aqui com todo tipo de pessoa, e eu acho que isso é importante. Você conviver com pessoas diferentes, iguais. Às vezes que eu jogo futevôlei aqui, depois eu tomo banho na ducha pública, e às vezes estou compartilhando a ducha com pessoas diferentes, de diversos estilos, diversos caminhos, alguns moradores em situação de rua, outras pessoas que estão de passagem, que deram uma corrida e estão ali descansando, então acaba que a gente se conecta com pessoas diferentes e variadas ao frequentar o Parque.
P- Como você vê a sua vida hoje, o que você acha que é mais importante?
R- Eu vejo que o Parque é uma parte importante e trouxe um incremento na minha qualidade de vida, na minha vida e na vida das pessoas que me rodeiam. Frequentar o Parque foi uma forma de melhorar essa qualidade de vida. Porque, no dia a dia, a gente tem que trabalhar, tem que cuidar dos filhos, tem várias obrigações, então eu coloquei o Parque como uma prioridade na minha vida pra poder encaixar o restante em torno disso. Então o Parque representa, pra mim, qualidade de vida.
P- Quem é o Andrei, como você se identifica?
R- Eu sou uma pessoa muito conectada com os amigos, conectado comigo e com a família. Já fui mais religioso, aprendi muito na religião em que fui formado, hoje tento conhecer outras também. Mas isso tudo pra trazer pra dentro de mim e valorizar a minha relação com as pessoas mais próximas, principalmente, e com o mundo. Então eu sou isso, sou uma pessoa mais família, muito amigo, adoro diversão, adoro conversar, adoro que meus filhos estejam comigo nesses ambientes, minha namorada, meus pais, meus irmãos. Então me descrevo um pouco dessa forma.
P- Você é uma pessoa feliz?
R- Muito, muito feliz.
P- E você atribui a quê?
R- Eu atribuo a minha felicidade a uma decisão que eu tomei em algum momento da vida. Eu lembro muito bem dessa fase, não lembro exatamente qual idade, mas quando era jovem eu falei “poxa eu fico sempre buscando a felicidade como se fosse algo fora de mim’. Então foi quando eu entendi que era uma decisão, que eu iria focar. Então eu decidi ser feliz, e a partir daí tudo em minha volta seria convertido nessa felicidade. E a gente acaba até contagiando o nosso redor quando a gente decide ser feliz. Então eu sou muito feliz e o Parque da Cidade, com certeza, faz parte dessa decisão de ser feliz, e parte dessa manutenção de ser feliz. Eu trabalho, sou muito feliz no meu trabalho, adoro o meu trabalho, mas se você ficar focado só naquela coisa burocrática, nas obrigações, acaba que a gente esquece um pouco qual o foco da vida, você passa a viver pra trabalhar e não trabalhar pra viver. Então eu trabalho, adoro o que faço, mas o meu foco é ser feliz, meu foco é: eu, minha família, e o mundo, tentar ajudar a ser melhor.
P- Você acha que ser feliz é algo que se constrói, que você tem que estar atento pra isso?
R- Eu acho que é uma decisão, antes de tudo. Mas, uma vez que você decide ser feliz, você tem que trabalhar pra se manter, pra aquilo ser verdade. O mundo ao redor, muitas vezes, traz situações que lhe fazem sentir triste, por exemplo. Mas eu entendo que você estar triste num momento não você ser infeliz, é você estar passando por um momento. Você é uma pessoa feliz, mas você está triste no momento, está angustiado, você está ansioso. Então você vai tratar tudo aquilo como ocasiões, não como algo que lhe descreve. O que lhe descreve é a sua decisão de ser feliz. E as situações vão passar. Obviamente que a gente tem stress, tem ansiedade, tem tristeza, tem sofrimento, perdas, luto, mas eu não entendo que esses momentos lhe definem. Pelo contrário, esses momentos de baixa, vamos dizer assim, eles nos ajudam a trabalhar por nossa felicidade.
P- É isso que você diria pra uma pessoa que dissesse pra você que queria ser mais feliz?
R- Sim. Eu acho que tem situações químicas ou hormonais que também são diferentes, que a pessoa tem que procurar ajuda de um profissional. Não estou dizendo que é fácil ser feliz, e que, quem não é feliz, é porque não quer. O que estou dizendo é que faz parte também de ser feliz a decisão de ser feliz e trabalhar em cima disso. Existem situações atípicas que é necessário até mesmo remédio, ajuda de um profissional. Mas, se alguém me perguntar, hoje, como ser feliz, eu diria: ‘primeiro de tudo, decida ser feliz e aí corre atrás. Se for preciso de ajuda, de alguma coisa, corre atrás.’ Porque não adianta, se a gente não tiver bem, a gente não consegue nem ser bom para os outros, a gente não consegue cuidar bem da nossa família, ser um bom amigo. Então cada um foca em si. Óbvio, sem fazer mal ao outro, nada disso. Até porque, isso é incompatível com você ser feliz. Pelo contrário, quando a gente está bem com a gente, aí a gente muitas vezes consegue ajudar os outros, e ajudar os outros vira uma bola de neve positiva, aumenta mais a nossa felicidade.
P- Quais conselhos você dá para os seus filhos, pra vida deles?
R- Meus filhos são incríveis, eu tenho muito orgulho deles. Eu acho que o caminho que eu tento mostrar pra eles é um caminho de alegria, um caminho de sabedoria, um caminho de dedicação, mas um caminho voltado pra gente transformar esse mundo, a gente olhar pro outro também, a gente ajudar as pessoas que precisam mais da gente, não só viver no egoísmo. Pode até parecer paradoxal o que eu estava falando sobre achar que a felicidade a gente tem que decidir, e tem que ser o nosso foco principal, mas não é. Não tem como a gente ser feliz se tudo à nossa volta não tiver bem, se as pessoas não tiverem bem à nossa volta. Então esse é o norte que eu tento dar para os meus filhos, de aceitação das diferenças, o norte de acolhimento das diferenças, das pessoas que sofrem, das situações diferentes, e o norte de muita alegria e de contato com as coisas boas que o mundo tem.
P- Você faz alguma coisa nesse sentido de transformar o mundo ou tem vontade de fazer algo?
R- Sim, tanto ajudo, como já ajudei a muitas instituições, tanto com trabalho voluntário, como com dinheiro, quando a gente pode. O próprio Batukenjé me atrai pelo lado social. Esse grupo não foca só na música, mas na música como instrumento de ajuda para as pessoas que precisam, as pessoas mais humildes, mais carentes, pessoas com necessidades especiais, com síndrome de down, autistas. Eu vejo isso como uma forma de tornar o mundo melhor, ao trazê-las pra conviver, abraçar, sorrir, brincar e incluir. Isso é uma forma do mundo evoluir, fora as situações pontuais, quando a gente sente que alguém está precisando de ajuda, seja com dinheiro, seja um apoio, um abraço, uma acolhida.
Marcela Valentin tem 38 anos, é brasiliense, educadora física, solteira, tem uma filha de 13…
Vista de longe, a roda gigante panorâmica Ferris Wheels já virou ícone de Brasília e…
Embora Brasília tenha uma ou duas semanas de frio de inverno e muitas semanas de…
Apesar de ter uma geografia e um clima propício, com duas estações bem definidas, de…
Imagine Brasília, hoje, sem o Parque da Cidade. Nas vésperas do Dia das Crianças, no…
Pessoas do Parque: Jardel Carlos de França tem 50 anos, divorciado, 3 filhos, e vive…
View Comments
Parabéns pela decisão de buscar felicidade, e conseguir. O seu testemunho é muito incentivador e pode destravar muita gente que não sabe por onde começar, inclusive este signatário.