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“Nunca fiquei calado”

André Calagri, estilista de noivas e roupas de festas, bacharel em Direito, 53 anos.

Morador de Brasília há 52 anos, frequentador do Parque há décadas, onde faz seus exercícios físicos. É no Parque que André tenta aprimorar sua saúde mental, e é também onde faz amigos.

Sendo um frequentador antigo e bastante conhecedor do Parque, ele se coloca como um grande crítico ao que denomina “estado de degradação do local”. Afirma que o Parque está degradado e que o perigo tá muito grande. Preocupado com a preservação do espaço público, patrimônio de Brasília, André destaca a questão da segurança em primeiro lugar, pra ele hoje inexistente. Acha que o Parque se tornou um local perigoso, por contar somente com a segurança patrimonial, que afirma ser insuficiente e não voltada pra segurança do cidadão. Reclama da ausência da polícia e da falta de ronda ostensiva que faça a repressão de crime, citando um caso de pessoa encontrada sem vida no lago, no ano passado.

André adianta que não há falta de verba para melhorias e manutenção, e acredita que falta vontade política para o Parque ser mais cuidado. E faz mais uma série de críticas à forma como o local é administrado, assim como Brasília e todo o DF, se mostrando muito insatisfeito com a atual administração pública:

“A gente tem uma verba muito grande pro Parque. Aliás, a gente tem uma verba muito grande pro Distrito Federal, tem o Fundo Constitucional, que a gente não sabe no que ele está sendo gasto, a gente está com defeitos imensos na segurança, na educação, na saúde então, a gente está com uma crise de dengue terrível, a gente está com uma quantidade de morador de rua assoladora, inclusive dentro do Parque da Cidade. A gente tem cachorro solto dentro do Parque da Cidade, os cachorros dos moradores de rua, e que, por algum tipo de decreto, sequer podem pegar esses cães, estando eles ou não amarados.”

Perguntas para André:

P- O que você considera urgente para o Parque?

R- Tudo! Mas a gente poderia começar a mapear uma coisa, acho que quem deveria administrar esse Parque tinha que ser uma pessoa que frequentasse o Parque, que não obrigatoriamente morasse na Asa Sul ou Norte, no Lago Sul ou Norte, mas que conhecesse as deficiências dele, deficiências essas que estão obvias. Eu estou conversando com você num aparelho que foi doado por nosso medalhista e pioneiro daqui, o Julio Adnet. Esse daqui foi o primeiro, junto com outro que tem perto do prédio da administração. Eu fotografei isso aqui antes e fiz uma denúncia porque além de estar enferrujado, e continua enferrujado, mas em vez de terem feito a troca de um aparelho quebrado, terem colocado aquela fita preta e amarela em volta, de terem deixado sem uso, eles preferiram arrancar o aparelho, tipo “se não presta, arranca”. E melhor deixar sem, do que ter alguma coisa. Enquanto o Parque está precisando, tem essa exposição aí de um único fotógrafo (Galerias Urbanas – Brasília Azul) de um milhão trezentos e oitenta e nove mil reais. Com 1.389.000,00 mil reais dava pra fazer uns 10 aparelhos desses aqui.

P- Com essas inquietações e consciência crítica sobre erros e deveres dos governantes, você se sente muito revoltado ou você procura outras formas de acreditar?

R- Olha, revolta não vai levar ninguém a nada, revolta só te adoece e vai acabar com a tua saúde mental. Eu já tentei me candidatar a deputado distrital e quando me candidatei eu vi a deficiência, que eu ia ser mais um deficiente, como eles. A gente está com uma sociedade doentia, mas infelizmente quem promove isso é o cara que vota nele e que depois morre na lama, na enchente, é o cara que vota nele que tem a casa inundada, quem vota nele não sou eu, nem é você. Então, o que fiz pra lutar contra isso foi sentar na faculdade, fiz o curso de Direito, e hoje eu tenho como fazer alguma coisa através de órgão público, através da própria lei, através do Ministério Público, eu faço as minhas denúncias, eu procuro os meios de comunicação e tento mostrar esse absurdo.

P- Quem frequenta o Parque não são somente pessoas do Plano, esse Parque é frequentado por pessoas de todas as regiões do DF e entorno…

R- Sim, é um Parque muito inclusivo.

P- Então qual recado você dá para as pessoas, pra gente tentar dar uma melhor manutenção para Parque?

R- Olha, o frequentador…você pode ver por onde a gente está, você não está vendo lixo, não tem lixo no chão. O problema não é o frequentador, o problema é a manutenção. Se a gente tem que dar a manutenção na saúde da gente, nos dentes da gente, na casa da gente, na cabeça da gente, a gente tem que dar manutenção no Parque. Não adianta construir um gazebo de flores. Primeiro porque roseira não é coisa pra se plantar em Parque. Tem espinho, tem criança, e roseira tem um monte de doenças, cochonilha, pulgão, mancha preta, então você tem que ter um tratamento e um jardineiro pra aquilo. Então 10, 15 mil pra plantar roseira? Não. A gente tem que manter o Parque, a gente tem que revitalizar a Praça das Fontes, fazer aquela fonte voltar a funcionar, ali tem uma espécie de anfiteatro natural, não sei se você já percebeu isso, que é o formato do jardim, que era justamente pra ter apresentações artísticas, a gente poderia ter ali um ambiente para apresentação por exemplo, da orquestra sinfônica de Brasília. Outra coisa, o Parque hoje não tem um espaço para o público LGBTQIA+, tem que ser um espaço democrático, tem que ser um espaço pra todo mundo.

P- Pelo menos resta a pista, porque eu vejo bastante casais homoafetivos na pista, andando de mãos dadas, sem preocupação.

R- É mas não tem um lugar onde você possa se sentar, tomar um coco, sem estar com aquela perturbação na sua cabeça, porque isso sempre gera algum tipo de violência, né? Já assisti muitas cenas de agressividade das pessoas. Eu, particularmente, nunca fiquei calado, nem vou ficar, pra exercer o meu direito, seja pelo o que for.

Pessoas do Parue/Foto CV
cilenevieira

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