Blog Foto 7 Walter Walter de Carvalho, professor de fotografia Foto CV/ 7/24

‘Fotografia é uma terapia, eu fotografo com os olhos”

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O Parque da Cidade é sem dúvida um dos lugares mais fotografados da Brasília. O Patrimônio Mundial da Humanidade, com o seu conjunto arquitetônico moderno, atrai turistas do mundo inteiro. Como capital da República, recebe brasileiros de todo país interessados no turismo cívico e em conhecer o centro do poder, o Congresso Nacional, os monumentos, os palácios. Conhecer e fotografar. Onde tem turistas tem fotos. Mas o Parque é o local da cidade onde você encontra muito mais pessoas fotografando todo tipo de cena. Desde ensaios profissionais aos populares selfies, lá tem sempre alguém fotografando os lugares preferidos, o lago artificial, a natureza, árvores e pássaros, os encontros de amigos e famílias, as conquistas esportivas, motivos não faltam. Turistas, visitantes ou frequentadores, para onde você olha, tem alguém fazendo fotos no Parque. Foi numa das minhas caminhadas, quando observava os fotógrafos pelo caminho, que conheci Walter de Carvalho.

Uma parada para foto no Parque/ Foto CV 07/24
O selfie é obrigatório/ Foto CV 07/24
Fotografo profissional a postos / Foto CV 07/24

 

Walter é professor de fotografia, baiano de Salvador, 58 anos, divorciado, duas filhas. Entre idas e vindas pra outras cidades, ele mantém Brasília, como base, cidade que adora. Apaixonado por fotografia, Walter tem 40 anos de profissão, é repórter fotográfico, já trabalhou pra antiga revista Manchete, no Palácio do Planalto, no Congresso Nacional, foi também repórter fotográfico do Correio Braziliense e diretor de fotografia do jornal A Tarde de Salvador. Hoje atua como fotógrafo autônomo e free lancer. Começou muito cedo na fotografia, antigamente participava de vários concurso e já ganhou muitos prêmios. Cobriu duas olimpíadas, em 1984, de Los Angeles, onde ficou por 45 dias e fez parte da equipe de Luciano do Vale, e de Atlanta, em 1996, experiências que destaca por gostar de fotografar esportes.

Walter caminhava com um grupo de pessoas, seus alunos, todos com câmeras fotográficas na mão, algo comum também no Parque, principalmente no início das manhãs. Querendo descobrir o quê, na opinião dele, atrai os fotógrafos para o local, me aproximei do grupo.

Walter e alunas de fotografia/ Foto CV 07/24

Perguntas para Walter:

P- Por que vocês estão no Parque?

R- Eu gosto de vir ao Parque da Cidade porque os meus alunos do curso básico estão treinando fotografia em movimento, pra aprender congelar a imagem. Pra fazer uma longa exposição de uma foto noturna, por exemplo, o Parque da Cidade é o melhor local que tem na cidade pra fotografar.

P- Você sempre vem ao Parque?

R- Venho mais nos sábados pra dar aulas. O meu lazer é aqui também, gosto de vir de vez em quando. Gosto mais daquela parte que tem os patos e gansos (lago), os pinheiros, que derrubaram, eu ia muito. Mas eu gosto muito de fotografar aqui à noite, monto um tripé, faço fotos de longa exposição.

P- O que você acha do Parque em relação a Brasília?

O Parque é bem localizado, muito visitado, e nessa época que não está chovendo é maravilhoso. Você encontra todo tipo de esporte aqui, patinação, vôlei, skate, ciclismo. Gosto muito de fotografar esportes, tenho muita experiência, cobri duas olimpíadas, mas gosto muito de natureza também.

P- E como é sua aula?

R- Na aula de sábado, são 8 sábados, com carga horária de 3 horas, e durante a semana são duas vezes, de 2 horas. Temos aulas teóricas e as externas no final do curso com 4 saídas fotográficas para a prática.

P- As externas são sempre no Parque?

R- Venho muito no Parque, e na igreja Dom Bosco, na Torre, porque dá pra fazer tudo andando. Você pode sair andando e fotografando.

P- E qual é a diferença de fotografar no Parque?

R- É a facilidade de você encontrar vários temas. Dá pra fazer fotografia trabalhando com o diálogo das cores, a composição do verde com o meio ambiente, nessa época que não está chovendo é uma maravilha para os alunos.

P – Eu estava andando, vendo as pessoas fotografando, fiquei pensando como o Parque é fotografado e encontrei você hoje, um professor de fotografia. O que você me diz sobre a questão do mundo digital, de estar todo mundo fotografando, mas sabendo que existe uma técnica, você acha que o digital “democratizou” a fotografia?

R- Eu sou da época do analógico, e na minha época não tinha photoshop, não tinha esses aplicativos. Se você queria fazer a foto, tinha que ficar maravilhosa, senão você perdia o seu emprego. Hoje em dia, com o digital, quem tem um telefone maravilhoso, tem os efeitos, você consegue fotografar tudo. O que eu sinto falta do digital é que você tem que trabalhar mais o olhar fotográfico, a composição, o enquadramento, prestar atenção nas cores…a coisa do digital é que está muito fácil.

P- E qual o seu desejo em relação à fotografia, o que gostaria que as pessoas fotografassem mais?

R- A natureza, o paisagismo e o urbanismo, trabalhar com esses contrapontos, tipo fotografar linhas, fotografar paredes pichadas, o que falta mais no universo de Brasília é a composição fotográfica. O olhar fotográfico pode ser treinado, tem gente que já nasce com talento, tem outros que você tem que moldar, tem que trabalhar. Então a coisa do digital que me assusta hoje é a forma automática que estão sendo feitas as coisas, a máquina fotografa automaticamente, regula o ISO ( (número que determina a sensibilidade do sensor da câmera à luz), regula o diafragma, a velocidade do obturador, você não sabe como funciona o mecanismo, tá tudo muito fácil. O que sobrou pra gente hoje foi a composição, a narrativa.

P- Como a fotografia pode contribuir para melhorar o mundo?

R- Eu gosto da fotografia documental, você pode traduzir ali, narrar as coisas, coisas boas e coisas ruins, tipo a tragédia do RS, dá pra mostrar com fotos, tem a questão da narrativa, de você compor, eu acho que fotografia é 90% composição.

P- Como é o Walter, como você vê o mundo?

R- Eu acordo e durmo pensando em fotografia. Eu hoje, com a minha idade, com a minha experiência, modéstia à parte, eu já fotografo sem câmara, fotografo com os olhos. Eu falo gente, fotografa ali! Fotografa aqui! Gente, olha a sombra, olha a paisagem, olha o contraste, olha o brilho, olha a cor, olha a textura, olha o grafismo. Então hoje eu não preciso de uma câmara fotográfica, é como se fosse um diretor de fotografia, a câmara é só um instrumento pra copiar, escanear aquilo que eu estou vendo. Eu fotografo com os olhos.

P- Então qual o recado/conselho para as pessoas?

Fotografia é bom para gente se desestressar, é uma terapia,  psicologicamente falando, eu acho que é o melhor remédio que tem. É bom você sair, fotografar se conectar com as coisas. É muito gratificante você fotografar, depois chegar em casa, descarregar, olhar, selecionar, editar. Eu gosto daquela coisa de antigamente, que você vai, descarrega, tem um trabalho de lapidação, de refinar, o que pra mim é terapêutico, eu faço por terapia, eu faço porque gosto.

P- O seu mundo é o da foto, né?

R-Sempre foi a fotografia, desde 13 anos de idade. Eu amo, eu amo a fotografia.

Instagram @walter_decarvalho

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