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Do Parque para o Caminho de Santiago

Antonio Oliveira, aposentado, 63 anos, morador do Setor Noroeste, casado, uma filha.

Antonio e Jane/ Foto CV Maio 2024

Enquanto escrevo a minha conversa com Antonio, ele já deve estar percorrendo cerca de 20 a 25 quilômetros por dia, com sua esposa, numa das etapas do Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha. Encontrei-os exatamente num dos treinos de preparação para a jornada que começaria no início deste mês de Junho. Antonio é mineiro, casado com a baiana Jane há 35 anos. Moraram em Brasília de 2001 a 2006 e decidiram voltar pra capital, onde fixaram residência desde 2012. Ele era professor da Escola Superior de Guerra e está na reserva do Exército. Atualmente é pesquisador independente na área de geopolítica e relações internacionais, voltado para a área de segurança internacional. Bastante eloquente, sempre falando pelo casal, num sinal de grande parceria com a esposa, Antonio explicou sobre os treinamentos para o grande desafio, porque prefere fazê-lo no Parque da Cidade. Para quem tem interesse em fazer o Caminho de Santiago, ele deu dicas valiosas de preparação. Quando você vir pessoas caminhando no Parque, com mochilas, vestimentas de trecking e bastão de apoio, já sabe: a prática faz parte de um treino para realização de um sonho de percorrer um longo caminho, seja o de Santiago ou outro.

Perguntas para Antonio:

P- Vocês costumam fazer trilhas?

R- A gente faz muitas caminhadas, não trilhas específicas, como vai ser essa. Agente viaja muito, gosta muito de caminhar pela natureza, seja na praia, seja na montanha, a gente está sempre em atividade. Mas essa decisão de ir pra Santiago de Compostela tem algum tempo. Até estávamos comentando que, lá atrás, a gente lia o Paulo Coelho, a gente tinha essa referência do Caminho, mas quando eu estava em atividade era mais difícil conseguir um tempo maior para ficar fora.

P- E essa expectativa em relação ao Caminho de Santiago é religiosa, pessoal, ou é um desafio físico?

R- Tem de tudo um pouco. Tem esse ponto de vista religioso, já estudamos bastante com relação a isso, desde o apóstolo, o caminho que o apóstolo fez, temos essa referência de centenas de anos. Então, chegar até Santiago de Compostela, estar ali, visitar o túmulo do apóstolo, tem esse lado. Tem o lado físico, que é um desafio também, porque são jornadas diárias pra se conseguir fazer. Nós vamos levar nossa mochila com tudo para termos condições de estarmos independentes durante o Caminho. Desde a água, a roupa, algum alimento para o caminho, estamos nos preparando pra isso há uns seis meses e já estamos na reta final dos treinos E agora, nessa reta final, é com a mochila com o peso adequado, em torno de 10% do peso individual, que é o recomendado, com a vestimenta apropriada, o calçado, ou seja, estamos fazendo simulações em um crescendo. Já estamos fazendo 12 a 14 quilômetros pra chegarmos a 20, 24 quilômetros até o final deste mês (Maio).

Antonio e Jane prontos pra caminhada/ Foto CV Maio 2024

P- O percurso que vocês vão fazer é de quantos km?

R- Tá em torno de 120 km

P- É uma primeira abordagem?

Exato. Como o Caminho é muito longo, a gente tem que ter mais dias disponíveis, e a Jane continua trabalhando, então essa é a primeira. Como muita gente que já fez o Caminho em etapas, nós vamos começar do último percurso. Mas tem gente que faz o percurso inteiro, saindo de Saint-Jean-Pied-de-Port, na França, e vai fazer o caminho francês, que é o que a grande maioria percorre. A gente parte para essa experiência exatamente já pensando que, no futuro, possa fazer outras jornadas mais longas, começando antes, de tal forma que a gente possa ir completando o Caminho.

P- Como estão sendo esses treinamentos agora, vocês estão vindo sempre para o Parque?

R- Isso. Nós optamos por fazer aqui no Parque porque entendemos que aqui tem as condições mais adequadas, não simulando o Caminho, mas pela segurança, pela tranquilidade, então a gente fica mais à vontade pra fazer o percurso. Tem as demarcações todas no itinerário, então, é claro, é uma simulação, não é exatamente o que a gente encontra lá, mas, de qualquer forma, no Parque, a gente se sente melhor; a gente estaciona o carro, pega a mochila, tem algumas facilidades que fizeram com que nós decidíssemos fazer os treinos aqui. E também, pelos percursos que temos aqui, a gente consegue direcionar as distâncias, dar essa paradinha, como fizemos agora, faz um pequeno lanche, que vamos fazer também no caminho, e depois a gente prossegue. Estamos no início da reta final, os quilômetros vão crescendo, na faixa de 2km acrescidos em cada caminhada, e aqui vamos chegar na meta de 24, 25 km até o dia da partida.

P- E vocês frequentam o Parque fora dos treinos?

R- Frequentamos. Já frequentamos mais, porque, quando morávamos mais próximo do Parque, a gente vinha mais. Estamos morando agora no Setor Noroeste, e às vezes a gente fica lá nas áreas que tem ali mais favoráveis pra fazer atividades ao ar livre. Mas não tenho dúvida que o Parque é um espaço maravilhoso.

P- Já ia lhe perguntar, o que acha do Parque?

R- O Parque é uma área maravilhosa! Está bem cuidado, em algumas ocasiões mereceu melhorias e algumas melhorias já foram feitas. Estamos vendo que os banheiros estão sendo arrumados, alguns ainda não estão prontos, mas a gente espera que realmente haja essa continuidade na recuperação do Parque, porque é um cartão-postal e uma referência. Todos que vêm a Brasília sabem disso, que é um local onde grande parte da população vem aqui pra desfrutar, principalmente nos finais de semana. Sem contar os atletas, que praticam aqui, tem muitas atividades, tem muitos atletas de clubes de corredores, pessoal que vem fazer caminhada, churrasco, é uma área multiúso e para o lazer. Sem falar dos eventos que têm aqui no Parque, grande parte deles são eventos gratuitos e a gente fica muito tranquilo porque sabe que quando vem aos eventos do Parque, não tem problema. Nos sentimos seguros aqui no Parque, você vem pros eventos, coloca a sua cadeirinha, coloca a sua canga, enfim, é um momento que você pode ficar tranquilo porque vai desfrutar, vai ter lazer e o risco é praticamente nenhum.

P- Antonio, como você se define como pessoa?

R- Nós dois somos de bem com a vida, procuramos levar a vida com tranquilidade, temos nossos encargos, as responsabilidades, mas procuramos levar também a vida desfrutando. Passamos por um momento difícil da pandemia, que todos tiveram suas restrições, e hoje, quando a gente lembra da pandemia, que foi num passado muito recente, a gente valoriza muito a vida, valoriza muito as amizades, e estar em um espaço como esse aqui.

P- E qual o conselho que você dá para as pessoas, sua filha, amigos, em relação à sua forma de ver o mundo?

R- Seja feliz, com responsabilidade. Eu acho que é por aí.

Antonio e Jane, do Parque para o Caminho de Santiago/ Foto CV Maio 2024

*Post dedicado a Ana Dubeux, Marta Costa e Carlinda, com quem sonhei fazer esse Caminho em 2022.

cilenevieira

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