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“Ah, o Parque é uma terapia!”

Reni Bottega, aposentada, gaúcha, 69 anos, moradora da Asa Sul, 2 filhos.

Reni, é daquelas presenças que já compõem um cenário no Parque. Aos fins de semana, quem passa na pista entre o Estacionamento 10 e o lago artificial, pode notar uma senhora sentada, fazendo crochê tranquilamente, sempre com um sorriso cativante no rosto e os mais lindos sapatinhos de bebê do seu lado.

Reni e seus sapatinhos FotoCV/Mar2024

Difícil não parar ali pelo menos uma vez pra admirar as fofuras que a Reni faz e expõe.

Outro dia eu parei, sentei e conversei um pouco com ela.

Reni mora me Brasília há 40 anos e diz que, apesar de gostar muito do Rio Grande do Sul, sua terra natal, não volta mais pra lá, porque adora Brasília, cidade que para ela “é tudo de bom”.

Ela formou-se em Pedagogia, mas não exerceu a profissão porque veio pra capital candanga em seguida. Aqui teve dois filhos e ficou por muito tempo acompanhando o crescimento e a vida escolar deles. Depois que os filhos cresceram, ela, já com 40 anos, conseguiu voltar a trabalhar fora de casa. Foi assessora na Câmara Federal e depois passou 17 anos no Ministério da Agricultura, onde se aposentou.

Ela começou a fazer crochê ainda adolescente e fez todo o seu enxoval de casamento. Aprendeu a fazer sapatinho de bebê com a cunhada e nunca mais parou porquê é uma atividade que “ama de paixão”. Conversar com Reni foi um momento especial, cheio de sorrisos, gargalhadas e brilho nos olhos, o alto astral dela é contagiante.

Perguntas para Reni:

P- Você lembra quando veio ao Parque da Cidade pela primeira vez?

R- Lembro, tinha aquela piscina de ondas e levei meus pais para conhecer, a minha menina era bebezinha, mas um dos meus primeiros contatos com o Parque foi a Piscina de Ondas.

12/10/1978. Crédito: Arquivo CB/D.A Press. Brasil. Brasília – DF. Pessoa na piscina de ondas do Parque da Cidade Rogério Pithon Farias no dia da inauguração.
1984. Crédito: Wilson Pedrosa/CB/D.A Press. Brasil. Brasília – DF. Banhistas na piscina de ondas do Parque Recreativo Rogério Pithon Farias, o Parque da Cidade.

P- Desde então você frequenta o Parque?

R- Frequento, eu caminhava, sempre caminhava. Depois me aposentei e fazia sapatinhos de bebê. Daí o seu Valter, da banca de revistas ali, me falou pra trazer os sapatinhos pra cá. Eu não queria vir porque tinha vergonha, mas ele me incentivou e agora aos sábado e domingo tenho o hábito de vir. Eu acho maravilhoso.

P- Você passa o dia todo aqui?

R- Não, eu chego umas 9:30 e lá pra uma hora da tarde eu vou embora.

P- E nesse seu tempo aqui sentada, o que você observa e lhe chama atenção?

R- O que eu mais gosto daqui é o sorriso das pessoas que passam e me cumprimentam, eu adoro cumprimentar também, acho que dá uma troca, uma energia boa, é tudo tão legal. Já que não temos praia, isso aqui parece uma praia seca, apesar de ter o lago aqui na frente. As pessoas aqui… é diferente, é desestressante. É uma coisa maravilhosa ficar aqui interagindo com as pessoas, é muito bom.

P- É como se você estivesse num calçadão?

R- Pensa numa coisa boa! É mais ou menos isso.

P- O que você falaria para quem não conhece o Parque?

R- Olha, eu tenho certeza que muita gente não conhece o Parque. Porque nós, brasileiros, não temos o costume de valorizar as nossas coisas. Mas quando a gente viaja e vê o quanto o pessoal curte o verde. Um verde magnífico como esse… mas eu tenho certeza de que muita gente nem vem no Parque. E depois que começa a vir, eu acredito que nunca mais deixa de vir aqui. Porque é um lugar acolhedor, tem muito verde, muita gente de astral gostoso. Ah, o Parque é uma terapia!

P- Você, como muitas mulheres, parou de trabalhar quando teve filhos e voltou depois que eles cresceram, você sentiu falta?

R- Eu acho que todas nós mulheres, a gente sofre muito por ter que deixar os filhos com outras pessoas. Eu sou muito grata por ter conseguido acompanhar os meus meninos na fase de escola, mas chega um momento que você vê, pela sociedade mesmo, que não dá pra ficar só em casa, ter que ter outra cabeça. Tive que aprender a mexer com computador, que eu não sabia, tudo é um aprendizado. E sair de casa também é muito bom, sair dessa rotina de casa. Agora eu estou aposentada, eu só não volto a trabalhar, porque eu mereço também descansar, mas tem hora que eu tenho vontade de voltar. Os meus filhos falam para eu parar com isso, mas tem hora que dá vontade de trabalhar mais, só não volto mesmo pela comodidade, estou muito acomodada.

P- E sobre os sapatinhos, você vende muito aqui?

R- Não, aqui não vende muito. As pessoas levam o meu contato e quando acontece de querer, eles me ligam, perguntam se vou estar no Parque ou pegam em casa, isso aqui tá mais como uma vitrine. Vendo 1 ou 2 num final de semana e está ótimo.

P- Você fica fazendo sapatinhos aqui?

R- Fico fazendo, a minha filha tá caminhando, eu tô com um probleminha de coluna, não tô podendo caminhar, então fico mais parada e uno o útil ao agradável.

P- E o que lhe orienta na vida?

R- Fazer o bem, não importa pra quem. Porque eu acho que a vida é uma troca. Eu sou católica, acho bonito quem estuda mais sobre a religião, respeito todas, mas eu acredito que quando a gente deseja algo, é normal ter um retorno. As pessoas que são muito carrancudas, amarguradas, dificilmente conseguem uma empatia de volta. Eu acho que eu já nasci meio feliz, porque eu sinto que quando eu olho e a pessoa sorri eu consigo dar um sorriso melhor pra essa pessoa e a minha filosofia é essa: é dando coisa boa que a gente acaba recebendo coisa boa também. Não vou dizer que não existe coisa ruim na vida, tem, mas passa, e quando vem o bom, o bom fica melhor ainda.

P- Você se considera uma pessoa de alto astral, positiva?

R- Ah, eu acho que eu sou sim (gargalhadas)

P- Você tem algum sonho, algo que você gostaria de realizar?

R- Sinceramente? Eu só não quero ficar doente, mas sonhos? Meus filhos me realizam, me levam pra viajar e a passeios, eu faço o que eu gosto. O que desejo mesmo é ter saúde. Já passei por alguns perrengues, então eu só quero ter saúde.

P- Qual a sua mensagem pras pessoas?

R- Meu desejo era que as pessoas fossem um pouco mais educadas, um pouco já melhoria o nosso planeta. Por que largar um papel no chão? É um cuidado tão pequenininho e olha como é bom tudo limpinho. Nós temos uma cultura muito cruel com a limpeza. Eu gostaria que o pessoal fosse limpo, não jogasse lixo no chão, pra fora do carro, cuidasse mais do lixo, do ambiente. Ia ser tudo mais bonito e, com certeza, não ia ter essas catástrofes que a gente vê.

Reni e seu sorriso contagiante FotoCV/Mar2024

cilenevieira

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  • Gente, que linda essa senhora! A criação dos filhos foi encantadora e o exemplo deixado é de de derreter o coração ❤️

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