Keyla destaque com Oui melhor Keyla Pires, professora de bordado.

“A gente precisa viver o hoje.”

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Já falei em outras ocasiões aqui sobre as salas de aulas que acontecem no Parque da Cidade, com todo tipo de atividade, principalmente de música, com os mais diversos instrumentos e ritmos, e de atividades físicas, com modalidades como artes marciais, box, futevôlei, patinação e frescobol, entre tantas.
Mas ainda não tinha visto pessoas reunidas tendo aula de bordado. Ao me deparar com um grupo de pessoas em volta de uma mesa posta, com bastidores e agulhas, procurei conhecer a pessoa responsável por aquele encontro tão inusitado e ao mesmo tempo apropriado para um ambiente cercado pela natureza, mesmo num dia seco e quente de agosto. Reencontre ali Simone Silva, responsável pela montagem de mesas pra piqueniques que já entrevistei aqui e me apresentou a professora, com quem tive o prazer de conversar no último sábado.
Keyla Pires, 29 anos, casada, nasceu em Brasília, no Gama, tem 3 irmãos, filha de mãe goiana e pai mineiro. É formada em moda, pós graduada em produção e comunicação de moda, e técnica em vestuário pelo IFB. Atua profissionalmente como professora de bordado livre, costura e moda no Senac e com bordado livre e aos fins de semana, quando dá aulas em oficinas nos cafés de Brasília. Dona da empresa Oui bordo,
já formou mais de mil alunos na arte do bordado.
Keyla me falou sobre a importância do bordado na sua vida, sobre o Parque e sua forma de viver nesse mundo. Ela foi mais uma pessoa incrível que tive sorte de conhecer e adicionar na galeria de gente boa que frequenta o Parque da Cidade.

Aula de bordado no Parque / Foto CV agosto 2025
Alunas concentradas no bordado / Foto CV agosto 2025
Bordando com mesa posta/ Foto CV 2025

Perguntas para Keyla Pires:

P- Você sempre gostou de trabalhar com costura, com trabalhos manuais?

R- Sempre. Eu sou filha de bordadeira, fui criada por uma mãe que bordou ponto cruz a minha infância inteira. Então eu tava ali sempre no pé dela, sempre gostei de moda, sempre gostei do artesanato, da manualidade, então foi onde eu me encontrei. E na pandemia, eu comecei. A gente não tinha tempo, né? Na pandemia a gente teve tempo, e aí eu comecei na parte profissional. Porque, antes, eu bordava só bodies de mesversário pros meus afilhados, aquelas coisas pra casa, e hoje faz 5 anos, exatamente, que eu bordo profissionalmente, e agora tem 2 anos que faço oficinas.

Um bolo para celebrar 5 anos de bordados / Foto CV agosto 2025

P- Como é a Oui, sua empresa?

R- A Oui bordo é a minha casa. É a minha empresa de bordados, que começou com encomendas e hoje está virando uma escola de bordados.

P- Então a Oui é uma empresa que é uma escola, como é a atuação?

R- Atualmente ela é uma empresa que atua oferecendo aulas de oficina, pelos cafés de Brasília. Esse mês a gente vai estar na Casa Cor, já esteve na Caixa Cultural, vamos pro Sebrae, todos na parte do bordado livre, introduzindo a manualidade. São aulas, oficinas, e cursos que a gente dá na área do bordado.

P- Existe diferenciação do bordado livre pra outro tipo de bordado?

R- Sim, o bordado livre são pontos mais fluidos, aí a gente tem outros, o bordado em ponto russo, o bordado em ponto cruz, que são ramificações do bordado. O bordado livre é aquele feito à mão, que a gente tem uma fluidez maior nos pontos, a gente tem variação de pontos. Aí dá para você fazer pintura de agulha, dá para você fazer bordado botânico, dá para fazer bordado de lettering, vai variando os pontos de acordo com o resultado que você quer.

P- O contrário do bordado livre é o quê?
R- O ponto cruz, por exemplo, a gente tem uma diagramação específica pra fazer e a gente só consegue fazer no tecido do etamine, enquanto o bordado livre você consegue aplicar em qualquer tipo de tecido. O ponto cruz você precisa de uma agulha específica, então você precisa mudar a agulha também. É feito melhor com lã, então cada um vai trazendo sua característica específica. O bordado livre pode ser feito com qualquer agulha, qualquer tecido, dá pra fazer no papel também, em folha de árvore, que dá para fazer a técnica de pintura de agulha nas folhas, que tem aqueles pássaros que ficam preenchidos, dá pra fazer o que quiser, é livre mesmo.

P- Então, é o mais democrático tipo de bordado?

R- Exatamente, por isso que a gente chama ele de livre. Eu costumo dizer que o bordado é igual a caligrafia, cada um vai bordar a mesma técnica, mas cada vai achando o seu jeitinho de bordar. Por isso ele é tão gostoso e você consegue fazer em uma oficina sem saber nada, consegue partir do zero.

P- E o que você me diz sobre bordar, o que isso traz pra vida da gente, além de criar um produto?

R- Bordar pra mim é afeto, é ancestralidade, é continuar a história da minha família. Eu acho que a gente parar um pouquinho pra fazer algo gostoso, com calma, principalmente no pós pandemia, que a gente ficou tão na internet, é muito gostoso. Você parar, tomar um café, conversar, conhecer pessoas novas. Nas oficinas as pessoas se conhecem, trocam algumas palavras, e o bordado te tira da tela, te tira do celular, é tão bom, você fica ali e esquece. As oficinas são de 3 horas, a gente começa e quando a gente termina as pessoas falam que não é possível que já passaram 3 horas e a gente nem percebeu. É que a gente fica tão imerso, é tão gostoso, que a gente esquece. Então, bordar pra mim é isso, é conectar, é afeto, é trazer a ancestralidade, continuar.

P- Tem gente que nunca bordou?

R- Nunca bordou. Pode ir sem bordar nada, eu sempre parto do zero e você consegue sair da primeira oficina fazendo os 3 pontinhos.

P- Em geral, as pessoas continuam?

R- Muito, aqui estão os meus alunos mais assíduos, tem aluna que foi na minha primeira oficina. Aí eu brinco com eles que a gente vai fazer o cartão fidelidade, porque eu sempre dou os materiais e eles ganham uma tesourinha, então tem aluno que já tem 10 tesourinhas, que já foi em várias oficinas. E agora, pro ano que vem, a gente vai ter o nosso curso regular, então eles vão poder seguir mesmo em regularidade. Mas em todas oficinas eu tento mudar a temática para que todos possam continuar participando.

P- Essas oficinas em cafés e outros espaços, são pagas pelo espaço ou por quem vai participar?

R- Por quem vai participar, elas são particulares. Na Caixa Cultural foi gratuito, nos cafés as pessoas se inscrevem e no valor já vai o combo no café e os materiais e ela leva pra casa os materiais.

P- Essa oficina, com essa mesa posta aqui no Parque, com esse bolo lindo, com vocês aqui bordando, é algo bem especial. Por que você escolheu o Parque?

R- Hoje eu queria juntar o máximo de alunos que eu pudesse, dentro de um café já não seria tão possível. E eu acho que a conexão com a natureza também tem tudo a ver. Eu fiz parcerias com patrocinadores para oferecer essa aula gratuita para esses alunos que são assíduos, então é uma forma de agradecimento também. Então, um espaço que é acolhedor para Brasília, que é a cara de tudo que eu sempre faço, tinha que ser o Parque.

Bordando no Parque / Foto CV agosto 2025

P- Hoje você está com quantos alunos aqui?

R- Estou com 25, alguns não chegaram, a programação é para 30 alunos. Mas eu já formei mais de mil alunos.

P- Você já teve algum retorno de alguém que começou a bordar e mudou alguma coisa na vida?

R- Sim, eu tenho uma aluna aqui que já é bordadeira profissional, já começou a atender clientes, começou a ter venda, tenho uma aluna que já está dando aulas. Tenho uma aluna que foi minha aluna e a gente se reencontrou como professoras no Senac, foi minha aluna e está no mesmo cargo, eu me sinto muito orgulhosa.

P- Você vem ao Parque?

R- Eu venho. Eu moro um pouquinho longe, costumo dizer que sou lá do país Gama, mas sempre que posso, eu venho ao Parque, eu adoro.

P- Você gosta de fazer o quê aqui?

R- Eu gosto de correr, de andar de patins, de tomar uma aguinha de coco. Meu marido é super atleta e a gente gosta de correr. Gosto de vir pra cá, colocar uma canga e bordar. Eu adoro trazer meus bordados inacabados pra cá. Hoje por exemplo a oficina é livre, então todo mundo trouxe os bordadinhos inacabados pra gente ir fazendo junto. Então é um programa que eu gosto muito, trazer os meus bordados, ficar aqui observando as pessoas e bordando.

P- O que você acha que o Parque representa para Brasília?

R- Olha, eu acho que o Parque ainda traz a vida natural das coisas. Porque a arquitetura de Brasília é linda, aqui tudo é lindo, mas o Parque traz a parte natural, onde a gente respira melhor, onde tem um lago, onde a gente consegue ver a natureza. Eu acho que é gostoso a gente não ter perdido esse lado. A gente está tão acelerado, trabalhado, dentro de um carro, dentro de um ar condicionado, que a gente esquece que tem isso aqui. Vir pra cá me lembra essa parte da cidade, da natureza, de se conectar um pouquinho, sem tem que sair daqui, sem ter ir pra uma Chapada. Não, aqui tem a natureza, a gente pode vir pra cá e se conectar novamente. Então, pra mim o Parque é isso.

P- E no que você acredita, o que lhe conduz na vida?

R- Eu acredito muito no quem compartilha, cresce. Então tudo o que sei, tudo o que sou hoje, veio de algum lugar, veio dos meus pais e hoje eu me vejo passando isso para minhas alunas, para meus sobrinhos, para minha família. Então conectar com as pessoas é crescimento. Acho que a gente precisa viver o dia a dia e viver a vida é isso, viver o dia a dia, viver o agora, principalmente depois da pandemia. Estar com as pessoas, valorizar as pessoas, estar pertinho, ter esse tipo de contato, porque a gente perdeu muito. Então pra mim a vida é isso, é estar no lugar, com as pessoas que você ama, valorizando o agora.

P- Você teria um conselho geral pra dar pras pessoas?

R- Respira, para, faça as coisas com calma, não deixe as coisas escaparem da sua mão, não deixe a agitação do dia a dia deixar você não perceber o que realmente importa.
A gente precisa viver o hoje. Respira e faça as coisas com calma.

P- E para as pessoas que não conhecem o Parque ou que conhecem e nunca vêm aqui?

R- Se não conhece, está na hora de conhecer e valorizar. Porque a gente precisa manter isso aqui vivo. Porque não tem um plano B, não tem um outro planeta pra gente viver. É cultivando a natureza, cultivando o que a gente já tem, que a gente vai ter um futuro, principalmente para os nossos descendentes. Então valorizar o Parque, vir ao Parque, frequentar, cuidar. Porque não adianta vir destruir, tem que vir e cuidar. Então, venham ao Parque.

P- Você fala muito do presente, mas o que você sonha pro futuro?

R- Eu pretendo continuar mudando vidas com o bordado, através do bordado, através do meu ensinamento, isso pra mim é muito importante. Quero construir minha família, quero ter meus filhos, quero construir um futuro com eles. E continuar tendo o pensamento que eu tenho hoje, de calmaria, de fazer as coisas com calma, de viver o meu momento. Eu acho que se eu conseguir continuar assim, pra mim o futuro tá incrível.
Instagram @ouibordo @keilapires

Keyla,Pires, professora de bordado /Foto CV agosto 2025

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