Os meses de abril e maio são considerados os mais lindos do ano pra quem vive em Brasília.
As chuvas diárias vão deixando de cair, a grama ainda bastante verde, as árvores frondosas, o ar fresquinho e não tão seco, o céu cada dia mais lindo e cheio de cores, quando o sol nasce e quando se põe. Falei aqui sobre o início da estação seca antes, decretado no Parque da Cidade no dia primeiro de maio. O dia em que cada sombra tinha um grupo fazendo picnic e aproveitando o feriado.
Eu fiz muitas fotos durante o meu percurso de caminhada. Um grupo me chamou atenção pelas risadas ao apontarem pra mim, quando ouvi uma fala de longe “olha lá a elite fotografando como pobre se diverte!”. Ri e me aproximei deles. Quis explicar que eu estava registrando os brasilienses e o começo de seca no Parque, e procurei saber como estava sendo o dia deles e o que achavam do ambiente. Com bom humor, uma representante da família topou conversar comigo, sem sair da sua rede de descanso.
Sônia Cristina Santos do Amaral, de Sergipe, aposentada, 56 anos, moradora de Valparaíso, viúva, dois filhos.
Espirituosa e engraçada, Sônia é uma roqueira e fã do Rappa, que vive no DF há 38 anos. Já morou na Asa Sul, no Cruzeiro e agora em Valparaíso, onde adquiriu o que ela chama de PequiCard, num trocadilho do Pequi, uma iguaria do cerrado, com o Greencard americano, que dá direito à residência permanente no local.
Ela era vigilante, mas se aposentou por tempo de serviço na iniciativa privada, porque começou a trabalhar muito cedo, e atualmente estuda pra concurso.
Eu quis saber sobre a vida dela e a experiência com o Parque. Foi uma conversa leve, cheia de risadas, que me deixou feliz por conhecer, de uma forma bem aleatória, uma pessoal tão especial, num dia de Parque lotado.
Perguntas para Sônia:
P- Como é morar fora do DF?
R- Eu moro no Entorno, Valparaíso faz parte da Ride. Pra quem trabalha é pesado, mas como não trabalho mais, não pesa tanto, mas sempre venho pro Plano.
P- Você conhece bem o Parque?
R- Conheço. Inclusive, quando eu mudei do Plano pro Entorno, foi do que eu mais senti falta. Eu sempre vinha, vinha quase todos os dias, eu caminhava aqui, corria. Quando mudei pra Valparaíso, a única coisa que sentia, não era distancia, nem nada, sentia falta do Parque.
P- E você tem vindo, mesmo assim, depois que mudou pra lá?
R- Quando eu trabalhava aqui em Brasília, eu saia do trabalho, andava e voltava pra casa, esperava o trânsito passar. Mas agora tem uns 4 anos que não trabalho mais, então não venho tanto. Mas sinto falta, por isso venho pra cá de vez em quando, e estou arrastando a família toda, tá todo mundo aqui.
P- E como é ficar sem o Parque?
R- É horrível, horrível! Eu não sou atleta, mas só de passar aqui, ficar debaixo da árvore, já muda a energia, já é outra coisa. Eu adoro! Adoro o Parque da Cidade. Inclusive, eu descobri que é maior que o Central Park, fiquei mais feliz ainda. Eu tenho orgulho do Parque.
P- Tem alguma parte especial, que você gosta mais?
R- Quando eu pedalava, eu gostava de dar a volta maior, mas eu gosto dessa parte perto da água, perto do estacionamento.
P- E o que você acha das pessoas que vêm pro Parque?
R- Eu acho bacana, eu tava falando aqui que precisava agora vir mais vezes pra me animar e fazer mais atividade física, eu gosto dessa vibe aqui.
P- Por que você não tenta vir nos fins de semana?
R- Eu até poderia vir todo fim de semana… eu acho que vou fazer isso mesmo, pelo menos pra andar de bicicleta.
P- Porque você é de Sergipe, da capital, né? La tem praia pra pessoa dar uma aliviada, aqui não.
R- É a aliviada aqui é o Parque ou o bar. Como não estou mais na vibe de bar, tem que ser o Parque.
P- E como foi hoje, você decidiu aproveitar o Parque no feriado de primeiro de maio, mesmo sendo aposentada?
R- Aqui todo mundo trabalha, só eu sou aposentada. Mas eu quero trabalhar de novo, estou estudando pra concurso. Domingo tem prova, então quero ficar aqui bem relaxada, talvez eu volte no sábado.
P- Você vai fazer concurso pra quê?
R- Vou fazer o CNU, sou administradora. Vou fazer para o administrativo.
P- Está estudando bastante?
R- Menos do que eu deveria.
P- E como foi “arrastar” a família pra cá hoje?
R- Na verdade, a família me arrastou. Eu dei a ideia uma vez e agora eles estão me arrastando e depois que a gente veio, já estou trazendo minha outra cunhada do outro lado da família, o grupo tá crescendo, aumentando o quorum, agora já tem mesa, cadeira…
P- E como vocês fazem, você chega cedo?
R- Não, minha cunhada vem mais cedo, eu sou mais atrasada e chego depois,. A gente traz lanche, água, suco, saco de lixo…A ideia era ficar até meio dia, mas a gente tá ficando até umas três e meia, quatro horas.
P- Então passam o dia todo?
R- O dia todo, todo mundo descansa, e quem quer, se cansa.
P- Vocês sentem alguma diferença depois de passarem o dia aqui?
R- Ah, a gente volta com a energia renovada, a semana começa até melhor. Hoje tá com a cara de Domingo, eu pensava até que amanhã era segunda feira. Recomendo muito.
P- E a sua família gosta de vir?
R- Eles estão gostando de vir, dos mais velhos aos mais jovens. Vamos vir pelo menos uma vez por mês.
P- Todos moram em Valparaíso?
R- Não, tem de Valparaíso, de Vicente Pires, de Taguatinga.
P- Sônia, e como você vê a vida?
R- Ah! É bonita, é bonita, e é bonita!
P- Você se considera uma pessoa positiva?
R- Eu me considero bem otimista. Não sou nenhuma Pollyana, mas sou bem otimista, positiva.
P- Por quê?
R-Porque eu já vi uma pessoa muito querida morrer muito jovem e de lá pra cá eu tento aproveitar todo dia como se fosse o último. Não pra sair fazendo loucura, não planejar nada a longo prazo. Eu planejo, mas eu vivo mais o hoje mesmo.
P- E qual o seu conselho para as pessoas?
R- Viva! Se divirta, relaxe! Fique estressado, mas relaxe. Porque isso aqui passa muito rápido. Pra umas pessoas pode demorar, mas você não sabe se você é uma dessas pessoas. Então aproveite hoje.
P-Tem mais alguma coisa que você gostaria de dizer, deixar um recado?
R- Sim, pro pessoal vir mais ao Parque, aproveitar mais. Um dia aqui é uma troca de energia incrível. E abrace uma árvore. Pode parecer uma viagem, uma coisa de maluco, mas abrace uma árvore e depois você me diz.
One thought on ““Um dia aqui é uma troca de energia incrível””
Além dá energia boa da natureza, ainda podemos encontrar pessoas bacanas, como a Cilene Vieira. Vamos valorizar nosso parque ❤️