Mariana e Ana Luiza Mariana e Ana Luiza, criadoras do @todentrobsb

Comunidade de mulheres: encontros do clube do livro, rolês e laços de amizade

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Há algumas crenças sobre Brasília que, aos poucos, parece que estão sendo desfeitas. Uma delas, bastante disseminada para as pessoas que chegam de fora, é a de que em Brasília é muito difícil fazer amizades. Sim, a cidade é diferente, arquitetura moderna e os grandes espaços parecem afastar as pessoas, no entanto, com a formação de novas gerações, que nascem na capital com o espírito mais aberto, e com ajuda de redes sociais, essa teoria de frieza e dificuldade para aproximação vai se dissipando em práticas de convivência.
Observa-se que Brasília tem mostrado uma diversidade de comunidades, grupos e confrarias, unidos por algum interesse comum, que torna a criação de laços de amizades algo menos desafiador no dia a dia de quem chega na capital. Aqui mesmo, nesse espaço, já falei de vários grupos que se encontram no Parque pra tocar instrumentos, fazer um bordado, exibir bonsais, rezar, estudar, ler, entre muitas atividades. Aliás, o Parque é sempre lembrado como um local de pausa e de conexão de pessoas.

Jovens unidas pela leitura de livros/ Foto CV outubro de 2005

Esse foi o tema da minha conversa com Mariana Figueredo, que participava em outubro do encontro de um clube de livros no Parque da Cidade, com a presença de cerca de 30 mulheres.
Vivendo recentemente em Brasília, Mariana já formou uma boa rede de amizades por meio de uma comunidade que ela criou no Whatsapp, que reúne mulheres que dividem hobbies e interesses com o propósito de criarem laços e fazerem atividades em companhia de uma das outras. Na agenda de novembro, tem festa de Halloween, oficina de macramê, oficina de bordado, noite de filme, palestra sobre educação financeira, além do encontro mensal do Clube do Livro, marcado para o dia 15/11, novamente no Parque.

Mariana de Souza Figueiredo, 24 anos, publicitária e empresária, casada, é mineira de Pouso Alegre e vive em Brasília há 7 meses. Ela mudou-se pra capital com seu esposo para empreender, abrindo um café na Asa Norte, o Di Prosa em Prosa, na quadra 112. Além de trabalhar no negócio do casal ela administra uma comunidade no WhatsApp que se já aproxima de mil participantes. Para o grupo ganhar notoriedade e crescer, ela contou com a parceria de Ana Luiza Teles, uma jovem médica e influencer de Brasília, que atua no TikTok.
Conheça Mariana e sua jornada. É muito interessante seu aprendizado sobre como enfrentar as dificuldades de conhecer pessoas e fazer amigos numa cidade diferente de sua origem.

Perguntas para Mariana Figueiredo:

P– Como foi sua mudança para Brasília? Por que você veio?

R- Eu e meu marido viemos abrir um café.
A gente abriu a cafeteria, mas eu sentia muita falta de amigas aqui. Em Pouso Alegre, eu sempre convivia fazendo evento, misturada com o pessoal. E aqui eu acabei ficando muito dependente dele. Porque eu só conseguia fazer as coisas com ele, com a família dele, que tá aqui.
Aí eu acabei conhecendo a Ana Luiza no Tik Tok. E em uma postagem dela sobre rolês que ela dava em Brasília, eu comecei vendo nos comentários que muitas meninas estavam falando que queriam companhia. Então eu criei uma comunidade no WhatsApp com vários os grupos com temas diversos e falei, Ana, você permite eu colocar o link do grupo lá? Ela falou: “permito”. Aí coloquei e as meninas começaram a entrar. Eu criei um grupo no WhatsApp para as meninas terem companhia para fazer esses rolês.
Porque às vezes eu queria fazer alguma coisa e não tinha com quem fazer.

P- Eu tô querendo entender como chegou no Clube do Livro…

R- Quando a gente criou a comunidade do WhatsApp, foi entrando várias meninas e elas falavam assim, “eu gosto muito de ler, o que vocês querem fazer?” Aí a Ana Luiza falou, “vamos criar um Clube do Livro então. Aí a gente se incentiva a ler. ” Eu falei, perfeito. Vamos criar um subgrupo dentro do grupo de passeios, um Clube do Livro. E aí ela postou no TikTok sobre o Clube do Livro, viralizou e agora a gente tá com mais de 900 membros no grupo do WhatsApp.
E fazendo diversos encontros assim. Claro que não conseguem participar todas de uma vez, mas sempre tem essa média de meninas. Aí a gente já fez oficina de aquarela na minha cafeteria, as meninas estão combinando de encontro para fazer crochê. A gente vem para os eventos do Clube do Livro, que é um encontro mensal, esse é fixo. A gente traz coisas para sortear para as meninas. A gente já tá com parceria com algumas empresas. Tá sendo muito legal.

P- E o que vocês fazem no Clube do Livro, como é que funciona?

R- A gente define um livro mensal, todo mundo lê o livro. E aí a gente se encontra em um lugar para discutir. Nesse local que a gente encontra para discutir, a gente permite que as meninas que têm algum livro e querem vender, vendam, e quem quiser trocar, troque.
Então fica aberto. E aí a gente coloca os livros assim, expostos, e no final as meninas vão conversando. “Gostei desse, quem é dono, quero comprar, quero trocar.”

Livros para troca e venda/ Foto CV outubro 2025

P- E hoje deve ter aí mais de 30 pessoas? É o primeiro no Parque?
R- É o primeiro no Parque.

P- Por que vocês escolheram o Parque?
R- Porque é um espaço aconchegante, é seguro, porque a gente definiu que só vamos ter encontros em locais públicos. É um espaço que a gente consegue relaxar, discutir com calma, ter um momento de pausa, mesmo na rotina, que tá todo mundo sempre correndo, correndo, correndo.
A gente consegue sentar, relaxar, aproveitar a natureza, né? E ter esse encontro com as meninas, esse momento especial.

P- O encontro dura mais ou menos quanto tempo?

R- A gente deixa livre, mas a discussão sobre o livro acontece mais ou menos durante uns 40 minutos. Aí todo mundo fala, depende também da quantidade, né? Mas quem quiser compartilhar, compartilha, e depois fica aberto. As meninas normalmente às vezes saem juntas depois, aí se distribuem em subgrupos.

P- Todo mundo se conheceu a partir do grupo?
R- Todo mundo se conheceu a partir do grupo.

P- Que coisa maravilhosa, e você tem gente de onde aqui nesse grupo? Parece ser bem diversificado.

R- Sim, aqui a gente tem meninas de Brasília, que nasceram e moram aqui. A gente tem Bahia, a gente também tem as meninas que, por exemplo, fizeram concurso e vieram morar aqui.
Então, no presencial a gente tem eu, que sou mineira, tem as meninas da Bahia, tem as meninas do Sul, então a gente está bem diversificado.

P- Mas todo mundo mora aqui, é isso?

R- Todo mundo mora aqui. Em diferentes lugares, aqui a gente tem as meninas de Taguatinga, elas têm subgrupos onde elas se encontram, as da Norte, as da Asa Sul, Sobradinho, Samambaia, que a gente tem bastante gente de lá.

P- Nossa, é muito legal isso, né? E quanto tempo tem o clube?

R- Um mês. Esse é o segundo encontro. A gente fez o encontro, viralizou, e esse é o segundo. Então tem um mês e meio, mais ou menos.

P- O que você está achando de fazer hoje aqui, no Parque?

R- Olha, eu estou muito feliz mesmo, principalmente porque eu consegui sair da cafeteria para participar. É um momento de pausa para mim, que é muito importante. Realmente desliga e a gente consegue aproveitar o espaço.
E eu gosto muito do Parque, porque assim, eu sou mineira, eu sinto a falta dessa natureza, dessa sensação de pessoa próxima, de interior. Então, para mim, o Parque remete muito isso. Eu acho que é um espaço que a gente se sente muito livre.

Discussão de livros em pleno Parque/ Foto CV outubro 2025

P- Você já tinha frequentado o Parque antes?

R-Duas vezes. Eu vim caminhar uma vez e a outra vez a gente veio só sentar e olhar o lago.

P- O que você acha do Parque?

R- Eu gosto muito daqui. Eu acho um espaço muito aconchegante. É um espaço que a gente realmente consegue desligar, sabe? Sem aquela movimentação de carro, é sempre pessoa praticando esporte. Eu gosto de ficar observando as pessoas que estão no Parque. Vejo famílias, às vezes com crianças, eu acho isso muito legal. Já vi aniversário e eu acho o máximo isso. Eu acho um espaço muito bacana.

P- Em relação à Brasília, o que você acha que o Parque significa?

R- Eu acho que é uma representação de natureza muito grande e é um dos pontos que eu mais gosto daqui. É uma cidade muito grande, capital, e é muito arborizada. É uma cidade que você vê que tem muitas árvores, e o Parque tem muito espaço, esse espaço de natureza, esse espaço acolhedor para as pessoas, eu gosto muito.

P- E o seu café, como é?

R- Se chama Di Prosa em Prosa, fica na 112. a gente está virado para o residencial, apesar de estar no bloco comercial, e a gente tem pão de queijo, pastel de fubá, que a gente traz direto de Minas, a gente não produz aqui. E é um café com especialidades mineiras

P- Você já era da cozinha, chef?

R- Não, nem eu, nem ele. Eu sou publicitária por formação, ele estava no segmento logístico, a gente se conheceu numa empresa de logística que a gente trabalhava, e viemos aventurar.

P- Como está sendo a experiência de empreendedora?

R- Olha, é bem complicado, empreender eu acho que requer muita garra, persistência no começo, paciência, principalmente quando a gente está falando sobre um casal que empreende junto, a gente fica junto o tempo todo. Trabalha junto, mora junto, então tem hora que a gente precisa dar um passo atrás e trabalhar muito a paciência para conseguir tomar decisões e seguir o melhor caminho.

P- Voltando aos livros, qual o seu tipo de literatura preferido?

R- Eu amo romance, estamos aqui, em maioria, leitoras de romance. Mas o clube é muito legal por isso, a gente respeita a pluralidade de todo mundo, e aí a gente vai sorteando temas que acabam abrindo. Por opção, eu só leria romance, mas às vezes vai sortear um livro que não é romance e eu vou ler, e às vezes você se abre e gosta. É a possibilidade, é experimentar novas coisas.

P- Você sorteia um tema e sorteia um livro ou alguém indica?

R- A gente sorteia um livro. Aí, cada uma que está aqui fala um livro, a gente coloca em uma caixinha e faz sorteio.

P- Tem que ser livro que ninguém leu ainda?
R- Tem gente que acaba lendo, porque a gente tem meninas aqui que estão retornando à leitura, e a gente tem meninas aqui que leem muito. Inclusive, tem uma que ano passado bateu a meta de 172 livros por ano. É incrível. E aí tem as pessoas que acabam lendo mais, as que leem menos, algumas já tiveram contato com o livro sorteado, e aí vem, discute, lê de novo.

prontas para o próximo encontro no Parque/ Foto CV outubro 2025

P- Mariana, e nesses seis meses de Brasília, o que você diz para quem está chegando? O que a pessoa tem que fazer?

R- Eu acho que o principal é ter calma. O começo é muito difícil, porque, de fato, você leva um tempo para conseguir fazer amigos, mas eu percebo que aqui as pessoas acabam se fechando um pouco, foi o que aconteceu comigo no começo.
Eu via que, às vezes, as pessoas eram mais distantes e eu me distanciava.
Brasília é múltipla, é muito rica de cultura, tem pessoas de todos os lugares. Então, traz a sua essência, abra, traga a sua essência, tenha orgulho de quem você é, e você vai conseguir se conectar com pessoas como você, que é o que aconteceu aqui. Eu comecei a ficar nesse distanciamento, e quando eu abri mão dele, eu encontrei pessoas que queriam estar conectadas, tanto quanto eu.

P- As pessoas dizem que em Brasília você não faz amizade facilmente, você tem que fazer parte de alguma coisa, porque ou você tem amigo no trabalho, em algum curso, ou fica difícil, não é?

R- Sim, as pessoas criaram esse estigma e elas te passam ele quando você chega, e aí você meio que pega isso como verdade. Então eu acredito que um dos pontos para quem está chegando agora é trazer a sua própria verdade.
Em Minas, todo mundo é acolhedor, você vai conversar com todo mundo, você vai ser próximo de todo mundo, e quando você perceber que a pessoa não quer aquilo, tudo bem, se distancia daquela pessoa, não é de todo mundo. E aí, aqui você vai quebrando, porque a gente vê que, tem sim, pessoas que querem fazer amizade, que querem estar próximos, que querem se conectar.

Mariana: do distanciamento para uma comunidade de mulheres / Foto CV 2025

P- O que lhe guia na vida, no que você acredita?

R- Olha, eu tenho a minha fé, eu acredito muito em Deus, e eu acho que toda direção que a gente tem é de Deus. A gente precisa aceitar os processos que acontecem. Então tem hora que a gente vai questionar muito, mas entender que vai fluir, vai acontecer, que às vezes é difícil, tá tudo bem ser difícil, que nem todo dia vai ser bom. Mas todas as vezes que você puder ser um pouquinho melhor pra alguém, você já fez algo além do seu dia. Então, às vezes é uma palavra legal pra alguém, às vezes é um abraço pra uma pessoa, e às vezes é entender que ela está num momento que ela quer a solitude dela, e é respeitar esse processo.

P- E o seu recado, geral pra geral?

R- O meu recado pra geral é: se joga, confie na sua intuição e permita-se. Eu acho que é o mais importante.

P- E sobre livro na vida das pessoas?

R- O livro é a abertura de um novo mundo. Na sua realidade, você tem a possibilidade de explorar várias delas.

O próximo encontro do Clube do livro será dia 15/11 no Parque
Mais informações no Instagram, do clube é @todentrobsb, da Mariana @mari_figueiredos, da Ana Luiza @lulilmp, no tiktok @analuteles.  

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