Uma confissão, um relatório absolutamente pessoal – com chance zero de contestação – sobre as boas mesas da capital da República. A saga continua e fica por aqui. Por enquanto!
Uma vez que com o Dom Francisco dei o start no tema boas mesas da capital da República, me sinto no dever de continuar a narrativa deixando claro uma vez mais que é meu paladar o termômetro qualificador dos lugares que me atraem e merecem minha fidelidade. Isto posto, lá vai…
Adoro a comida japonesa que vai além dos maravilhosos sushis e sashimis, aquela que “tem sustança” e faz parte do dia-a-dia dos orientais que enfrentam o batente pra valer. O restaurante que frequento se chama Youzu-an, fica no Clube Nippo e é comandado por Alice Yumi Shibata Yamanishi que já encarou os fogões da Embaixada do Japão no Brasil e do Kosui, além de ter sido professora de culinária numa escola preparatória de noivas no Japão, em Kochi.
Praticamente me sinto no Japão quando vou ao Yuzu-an. Me encanta a delicadeza, a simpatia da Alice e a “farra” gastronômica que faço – já experimentei quase todos os pratos do cardápio e fico de olho (para copiar) no que pedem os muitos conterrâneos da chef. Na verdade, presenças que asseguram a autenticidade das iguarias, em sua maioria membros da Embaixada do Japão.
Tenho ascendência italiana e, como não podia deixar de ser, gosto muito da culinária que vem do país que parece uma bota. Sou louca por pastaciutta, risotto e scaloppina, além de quase desmaiar de felicidade diante de um prato de gnocchi!!!!!
Chega a ser um exagero minha paixão pelo tal de gnocchi – não raro me surpreendo desejando que os meses tivessem um dia 29 por semana. Só para eu ir até a Trattoria da Rosario e pedir aquelas deliciosas bolinhas preparadas com batata, servidas com tomate al sugo, em prato fundo com dinheiro entre ele e a mesa.
Sou “luxenta” e não abro mão de exercitar minha italiana gula na Da Rosario porque, sem favor algum, esse napolitano, o Rosario Tessier, é ótima pessoa, excepcional cozinheiro e um amigo querido. Por (muito) mais de uma década. E tenho dito.
De tanto escrever sobre comida acabo ficando com fome mas, antes de sair para exercitar a gula tenho que render homenagens a outras duas cozinheiras de mão cheia, ambas criaturas adoráveis, as queridas Fátima Hamu e Mara Alcamim.
Fátima, a estrela da comida sírio-libanesa, eu conheci quando era dona do restaurante Lagash um lugar pequeno, aconchegante onde eu me refestelava com a cozinha e o atendimento. Um dia o restaurante fechou, mas para felicidade dos fãs da comida árabe, o Lagash apenas mudou de endereço e de formato – virou rotisserie e acrescentou ao nome a palavra Mediterranee.
Ainda serve o melhor quibe da cidade seja frito, assado ou cru, o exclusivíssimo (só lá tem) Ouzee, que é o arroz de cordeiro com nozes e passas brancas dentro de uma quase-flor de massa folhada além de outras iguarias como babaganush, houmus, kafta e por aí vai. Aos sábados, abro meus olhinhos para o mundo e me mando para lá. Me sento no balcão e como com prazer um quibe frito acompanhado por cervejinha estupidamente gelada porque ninguém é de ferro e é sábado.
Agora, a Mara, a queridíssima que tive a sorte de conhecer logo que a Brasilia chegou, em 1997, assim que chegara de Nova York. Antes de adorar sua criatividade na composição de cardápios, já admirava sua alegria, o prazer de enfrentar o fogão para exercitar a invejável culinária autoral que é a marca registrada dessa chef que mantém o Universal Diner há 20 anos na lista dos queridinhos de críticos e gulosos de plantão.
Tudo é bom no Universal – o bar, o café, o salão interno de refeições e o jardim nos fundos onde também se pode almoçar, jantar, sei lá o que mais. Soube que a última invencionisse da Mara é um prato em que a pamonha figura como estrela. Ou coadjuvante, não importa. Vou passar por lá para conferir e depois contar. Mas, devo dizer – o Universal é infinitamente melhor quando a Mara está. Porque sou “luxenta” e a adoro.