Pode parecer tolice, mas sentir ao mesmo tempo saudade, cansaço e tédio pode ser perigoso!
Há algum tempo me sentia desconfortável com a (obrigatória e diária) rotina. O cenário à minha volta se mostrava aborrecido, desanimador, desprovido de beleza e o que é pior, indicava esperança zero de melhoras. Desandei a sentir saudade doída de pessoas que adoro mas moram longe; me sentia cansada assim que acordava e, por tudo isso, a porta para a entrada do tédio estava aberta.
Peraí! Não nutro por tais sentimentos nenhuma simpatia! Fujo deles como o diabo da cruz porque sei que são perigosos e fazem parte do grupo “vim pra ficar” e, depois de instalados, somente com muito esforço desaparecem. Reagi veementemente e fui atrás de um remédio infalível: encostar cabeça em ombros queridos, desfrutar de seu carinho, amizade e… hospedagem.
Com bagagem discreta, fui para Belo Horizonte onde moram meu irmão Alonsinho, e os Fraga – Ronaldo e Ivana, meus irmãos de coração e alma que me receberam em sua casa, emprestaram os ombros. Desnecessário dizer que tudo com carinho, amizade, paparico e por aí vai.
Estive em BH algumas vezes, tempos atrás, como jornalista e crítica de moda, sempre para avaliar lançamentos de coleções de estilistas mineiros. Todos bons. Porém um deles se destacava por juntar às criações cultura e história brasileiras, sua vivência/bom gosto interpretada nas peças construídas com técnicas apuradas que além de belíssimas e atemporais não discriminavam silhuetas e por isso, eternas, sem prazo de validade.
Seu nome? Ronaldo Fraga! Claro que ficamos amigos uma vez que nunca suportei a ideia de não travar amizade com gente muito boa. Os bons se atraem e Ronaldo se casou com Ivana, moça bonita, inteligente, bem-humorada que lhe deu dois filhos e me brindou com sua amizade.
Pois muito bem – estava eu estressada com o rame-rame diário, sentindo necessidade de parar um pouco, reciclar sentimentos e energia, vontade louca de me distanciar, melhor dizendo, tentar me distanciar do cotidiano candango quando tive uma brilhante ideia: a de juntar-me aos Fraga por um par de dias, ficar com eles em sua casa belorizontina. Não pensei duas vezes. Fiz as malas, tomei um avião e fui.
Que experiência fantástica! Sabe uma coisa `tudo de bom`mesmo? Sabe o que é conviver com a beleza diariamente, com a alegria constante, sem interferência de algum tipo de contrariedade? Então, foi isso. Meus hospedeiros moram numa casa linda, no alto de uma montanha de tamanho civilizado-porém-eficiente que permite ao olhar divisar entre outras montanhas as luzes de BH se acendendo no por-do-sol e se apagando naturalmente, quando o astro rei surge no horizonte.
Não podia ser diferente uma vez que naquela casa vivem pessoas carinhosas, felizes com o que têm e são, sem se preocupar com opiniões alheias nem interferir na vida dos outros.
Foram dias maravilhosos pelos quais agradecerei sempre. Encantada também fiquei com as criações de Ronaldo, mas isso é assunto para outra ocasião.
Por enquanto cometo uma pequena inconfidência: em breve Brasilia contará com um espaço que dará à nossa cidade o prazer de ter à mão as criações de Ronaldo Fraga.
Já não era sem tempo. Sorte a nossa.