As primeiras palavras de Lula me deixaram um pouco preocupado com o restante do discurso, falando sobre a mágoa que poderia estar sentindo, dando peso ao seu momento de sofrimento no cárcere, com alguns detalhes, mas logo em seguida, a qualificou como injustificada diante do que o povo brasileiro vem passando.
Fez corretamente o antagonismo a Bolsonaro, utilizando-se de sua postura a respeito da vacinação para mostrar como pensam diferente, defendendo as medidas sanitárias e também prestando solidariedade às vítimas.
Seus agradecimentos serviram para se colocar no cenário internacional, citando apoios de outros estadistas que recebeu enquanto preso. Em minha opinião, errou ao colocar o Papa como o maior líder religioso do mundo. Não que ele não seja, mas considerei imprudente para alguém que deve reconquistar parte do eleitorado evangélico.
Ao falar da Lava Jato, se mostrou uma vítima de perseguição, mas fez uma diferenciação importante ao criminalizar somente o grupo, isentando o restante do Ministério Público. Fez uma importante arguição quando contrapôs o valor arrecadado pelas ações da operação aos valores que perdemos em decorrência do fechamento das empresas envolvidas.
Com certa ironia, que não sei se será percebida pela maior parte da população, “elogiou” a Globo e o Jornal Nacional por terem dedicado a cobertura que considerou correta a seu caso, e ainda qualificou o elogio trazendo aos tempos atuais sua memória de quando foi prejudicado durante a disputa em 1989, com Collor.
Durante toda a fala, recheou-se de jargões e histórias que o aproximam do homem médio, como sua lembrança de metalúrgico e a relação com as quentinhas. Nesse sentido, derrapou um pouco no machismo, ao falar sobre a mulher apenas como a dona de casa que não pode ficar parada porque seu marido não trouxe o salário.
Tocou várias vezes na ferida do governo, que é a vacinação, falando sobre a naturalização das mortes e qualificando, de todas as formas possíveis o presidente como incompetente, fazendo um repasse de toda sua carreira, primeiro no exército e depois na vida pública. Por diversas vezes vinculou o presidente a milicianos.
Nesse sentido, sobrou para os ministros também, a quem não nominou, mas deixou claro que não compactua com as práticas. Usou a saúde e a economia para exemplificar.
Na economia, criticou as privatizações e o relacionamento com o mercado, colocando o foco no trabalhador. Um ponto que julguei desnecessário para quem precisa do apoio de quem paga o salário.
Para justificar as fake news, de forma inteligente, falou sobre como elas são criveis, e para isso utilizou-se do numeroso grupo que defende o terraplanismo.
Ao elencar as prioridades, usou palavras-chaves de dor no atual governo: emprego, renda, educação, meio ambiente, periferia.
Não falou para os mais jovens, mas para a geração acima dos 25 anos. Nesse ponto, até o Zé Gotinha foi utilizado para fazer o vínculo emocional. Ainda para esse público, evidenciou o alto preço do gás, da energia e da gasolina, fazendo comparações com seu governo.
Vejo que poderia ter enaltecido outros presidentes, até para ganhar a simpatia de outras correntes ideológicas, mas preferiu focar somente em seu governo. Um detalhe: não falou em governo Dilma em momento algum.
Concluiu dizendo-se a favor das liberdades individuais e das minorias.
Em resumo, foi bem. Poderia ter aproveitado melhor o espaço para pregar a união e o combate à intolerância, mas fez falas importantes que o colocam como favorito para 2022.