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Do grão à barra

Do aroma do cacau recém-colhido ao brilho sedutor de uma barra de chocolate artesanal, existe uma jornada que poucos consumidores imaginam, mas que uma marca brasiliense decidiu trilhar por inteiro. Em um mercado dominado por processos industriais e sabores padronizados, a Labarr aposta no controle total da cadeia produtiva, desde o cultivo do cacau até a finalização e venda do produto na loja física, localizada na Asa Norte. O resultado são chocolates que contam histórias, carregam identidade e fogem da simplicidade, chegando, inclusive, a países fora do Brasil, com exportação já feita para a Bélgica e para o Chile.

Capitaneada por Adriana Labarrère, co-fundadora e diretora da marca, a Labarr surgiu em 2016, após uma viagem à Bahia onde a empresária e o seu marido, Leandro Isaias, tiveram o primeiro contato direto com o cacau, fruto que nasce do cacaueiro, árvore tropical e originária da região amazônica. A casca dura e formato oval guarda as sementes conhecidas como amêndoas de cacau, matéria-prima essencial para a produção de chocolate.

“Ficamos encantados com o potencial do cacau brasileiro e com a possibilidade de transformar esse ingrediente em algo único, com identidade. Ali surgiu a curiosidade e começamos a pesquisar sobre como fazer chocolate, depois descobrimos que poderíamos produzir chocolates do zero respeitando cada etapa – do grão à barra. Começamos, então, a fazer chocolate na cozinha de casa por hobby mesmo”, conta.

Um grande diferencial da Labarr, de acordo com a co-fundadora, diz respeito ao preparo dos produtos. Diferente dos métodos comuns, a marca não derrete uma barra pronta e adiciona os recheios. Dessa forma, o chocolate é feito do zero, a partir do grão fino e selecionado. “Já um chocolate industrial é feito com cacau commodity – cheio de impurezas – depois é desodorizado e tem a adição de aromatizante artificial para dar sabor”, explica.

Adriana ressalta que a diferença de qualidade é notável. Com essa iniciativa produtiva, a Labarr consegue oferecer um chocolate com sabor de cacau e não de essência, que tem um sensorial único dependendo da fazenda, da safra e do lote. “Isso sem falar em rastreabilidade, conhecemos de perto nossos fornecedores, garantimos o comércio justo e responsável, o respeito à natureza e todos os envolvidos na cadeia produtiva”, defende.

O principal insumo utilizado pela marca, segundo Adriana, vem do nordeste brasileiro. “Trabalhamos com cacau brasileiro, cultivado em sistema agroflorestal cabruca [método de cultivo que integra a produção com a preservação da Mata Atlântica] na Bahia. Valorizamos relações diretas com produtores, buscando sempre práticas sustentáveis e comércio justo”, informa.

Essa proximidade com a cadeia produtiva permite que o negócio acompanhe de perto a qualidade das amêndoas e também contribua para um mercado mais justo e consciente. “As inclusões usadas nas barras vêm de diversas fontes, alguns produtores locais que conhecemos em feiras, amigos e familiares que tem um pomar cheio de frutas em casa e nos fornecem polpas para diversos bombons ou ovos de Páscoa”, complementa.

Além disso, buscando conectar pessoas e celebrar a riqueza dos biomas brasileiros através dos ingredientes selecionados, a Labarr também atua para trazer significado às embalagens e destacar as histórias por trás de cada barra. Para isso, são utilizados elementos típicos do Cerrado e do Brasil no geral. Adriana destaca que a marca navega com a criação de coleções temáticas inspiradas na cultura brasileira e com o intuito de sempre expressar algo que vá além do paladar. O objetivo, segundo ela, é despertar a memória, o pertencimento e a curiosidade.

Reconhecimento internacional

Adriana indica que a Labarr é premiada dentro e fora do Brasil devido à qualidade do chocolate. No território nacional, a empresa foi reconhecida como a Melhor Chocolateria de Brasília pela Revista Encontro, no Prêmio Encontro Gastrô; além de medalhas pelo Prêmio Bean to Bar Brasil, que chegou a sua sexta edição em 2025.

No cenário internacional, foram recebidos os prêmios pela qualidade do nosso chocolate dentro e fora do Brasil, como no The Northwest Chocolat Festival, nos Estados Unidos; e também pela Academy of Chocolat, em Londres. “Um prêmio desse nos mostra que somos valorizados por quem faz chocolate de qualidade há muito mais tempo que nós”, celebra.

Três perguntas para Adriana Labarrère, co-fundadora e diretora da Labarr Chocolate:

Qual foi o maior desafio nos primeiros anos?

Nos primeiros anos, o maior desafio foi entender todo o processo de produção do chocolate do zero, com todos os cuidados técnicos que o bean to bar [do grão à barra] exige. Como era um universo novo no Brasil, era difícil encontrar fontes para estudar, foi tudo na tentativa e erro. Aos poucos fomos trocando  experiência com outros makers, unimos forças para aprender, testar, errar e aprimorar. Investimos muito em conhecimento técnico e fomos ajustando cada etapa até alcançar o padrão que temos hoje.

Por que você optou por esse segmento do mercado?

Primeiramente por paixão, sempre acreditei que deveria trabalhar com algo que gostasse. E segundo porque acreditamos na transparência, na rastreabilidade e no respeito à cadeia produtiva. Queríamos fazer um chocolate verdadeiro, que valorizasse o ingrediente principal – o cacau – e que também pudesse contar histórias e emocionar. Na época não tinha chocolate feito com cacau fino em Brasília, então fazíamos na cozinha de casa para a gente comer. Começamos vendendo para família e amigos. Aos poucos o negócio foi tomando forma e se profissionalizando.

Quais são os próximos passos da Labarr?

Estamos expandindo nossa presença no mercado internacional, com exportações para novos países. Também estamos desenvolvendo novas linhas de produtos com ingredientes brasileiros pouco conhecidos, além de fortalecer parcerias com pequenos produtores. Nossa meta agora é crescer, produzir cada vez mais chocolate e melhor.

Gabriella Collodetti

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