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Para diferentes corpos e formas de pensar

De acordo com a Ipsos, empresa multinacional de pesquisa e consultoria, o Brasil é o quarto país mais estressado do mundo com 42% da população relatando esse sentimento. Há diferentes mecanismos para mudar essa realidade, sendo uma delas o yoga. Considerada uma prática milenar, esse tipo de exercício promove relaxamento, equilíbrio emocional e bem-estar geral. Por meio da combinação de posturas físicas, técnicas de respiração e meditação, a atividade acalma a mente e, também, incentiva o autoconhecimento.

Em Brasília, o estúdio Yantra Yoga tem se destacado por sua performance na área. Em 2011, Helton Alves Azevedo fundou o local. O profissional ministra aulas desde 2005. O nome da marca, “Yantra”, segundo o empreendedor, significa “símbolo”. “São símbolos que aparecem durante a meditação. Ao fazer a prática, surgem imagens, às vezes abstratas, que são conhecidas como Yantras. Círculos, quadrados, triângulos, entre outros, representando organizações psíquicas, são dinâmicas e estruturantes “, explica.

Segundo Helton, o yoga e a meditação são vistos como algo a ser dominado, o qual levará o praticante a um estado de paz e harmonia. Ele indica que, muitas pessoas enxergam que basta fazer yoga, meditar ou relaxar que em algum momento a paz chegará. “Essa visão foi mudando ao longo desses 20 anos de yoga. Nos dez primeiros anos, eu abracei essa ideia de tentar alcançar a iluminação, dedicando ao máximo às práticas do yoga, para chegar a esse lugar prometido lá na frente. O sonho permeia o imaginário de todos nós de uma forma ou de outra”, sinaliza.

No entanto, após muitos estudos – e também por não conseguir atingir o “lugar prometido” –, Helton se questionou acerca da prática. Por isso, para ele, foi fundamental se desvincular à promessa de um paraíso ou estado de iluminação. “Voltei o meu olhar ao redor, da minha relação com a vida, comigo e com as pessoas próximas. Ao tentar olhar mais para o aqui [presente] do que para o lá [futuro], percebi que era motivado por não gostar do que existia na vida e no mundo. Eu me refugiava na promessa da iluminação”, recorda.

Após entender essa realidade, com a ciência de que o mundo real é repleto de contradições, impossibilidades e limitações, Helton investiu em um yoga voltado ao que, de fato, é a vida e o cotidiano das pessoas. “É assim que tento seguir um yoga próximo ao real, composto por pessoas que têm sofrimentos, ansiedades, angústias e depressões. O yoga se transformou de um lugar voltado para o transcendente e tornou-se um lugar para o humano”, pontua.

Por isso, o Yantra Yoga se diferencia dos outros estúdios de Brasília, na visão de Helton. Um dos aspectos marcantes, nesse sentido, diz respeito à possibilidade de conversar durante as aulas. “Os participantes trazem demandas pessoais, acontecimentos do dia a dia e questões pessoais. Tudo isso é usado de material para as aulas, sugerindo meditações sobre os temas trazidos para que haja uma troca entre os participantes”, conta.

Diferente da prática em que só existe o canal de conhecimento em um sentido, do professor para o aluno, no estúdio de Helton, sempre há uma via de mão dupla onde cada indivíduo presente pode oferecer uma história para ser contada ou uma solução para ajudar outra pessoa. Na visão do CEO, isso torna o encontro mais horizontal, especialmente devido ao compartilhamento de experiências em uma roda comunitária.

“Outro princípio é respeitar as facilidades e as dificuldades de cada participante, tanto em relação ao corpo quanto em relação em como se cria o mundo interno. Ao invés de fazer as pessoas se ajustarem a uma forma, a tentativa é fazer a prática do yoga se adaptar a diferentes corpos e formas de pensar”, ressalta.

O ato de não fazer nada

O benefício do yoga está relacionado ao fortalecimento do corpo enquanto, ao mesmo tempo, aprende-se a relaxar. Isso envolve a prática da respiração, da pausa e do ato de não fazer nada. No entanto, esse último aspecto, segundo Helton, é uma das coisas mais difíceis de se aprender diante de um mundo repleto de atividade, cobrança e velocidade. “O ‘fazer nada’ é mal visto pela sociedade de hoje, mas é o grande trunfo da meditação. Pode-se dizer que fazer nada é meditação e, com certeza, é uma das grandes dificuldades de todos os participantes dos estúdio”, avalia.

Três perguntas para Helton Alves Azevedo, proprietário do Yantra Yoga Brasília:

Qual foi a motivação inicial para criar o espaço?

A motivação foi a de poder criar uma linguagem própria para o yoga e a meditação. Para a forma de dar aulas, lidar com os alunos e propor novidades em relação à forma de yogar. Por exemplo: a visão de que o yoga e a meditação são uma coisa só, apesar de parecerem diferentes.

Quais foram os maiores desafios para a criação da marca?

Criar a marca foi algo advindo das meditações. Da relação com sonhos e contato com o inconsciente. Uma vez que a palavra Yantra foi uma das opções, o restante foi sentir no corpo e perceber que fazia muito sentido.

Como o estúdio evoluiu ao longo dos anos, tanto em termos de oferta de aulas quanto de infraestrutura?

A principal mudança que aconteceu foi sair do subsolo e ir para o primeiro andar com uma janela muito grande, com mais luz e visão para a movimentação lá fora. As aulas, que eram muitas, foram reduzidas para dois horários durante o dia. Outra mudança foi trazer aspectos como a conversa e a produção de arte, como a escrita, o desenho e a pintura. Em alguns momentos, na meditação, recorro a essas opções. Escrever e produzir uma imagem com ajuda do desenho da pintura. E há partilha sobre as produções, fala-se sobre sofrimento e sensações difíceis de serem expressadas.

gabriellacollodetti

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