No mês passado, o Ministério da Cultura divulgou o documento que analisou o fomento federal à produção de curtas-metragens. De 1993 a 2023, a Secretaria do Audiovisual (SAV) desenvolveu políticas públicas à cadeia produtiva do audiovisual, com ênfase no desenvolvimento de talentos e inovação estética e instrumental.
Dentro desse período, houve um levantamento de 31 editais que selecionaram 643 obras. No Distrito Federal, 40 projetos foram contemplados ao longo das três décadas da iniciativa. Como uma forma de movimentar a cena e o interesse acerca dessas produções, foi criado o Lobo Fest na capital, movimento que chega a sua 16ª edição neste ano.
Considerado o primeiro festival internacional de Brasília dedicado aos filmes de curtas-metragens, o Lobo Fest tem apresentado um panorama mundial de curtas do cinema do presente. A mascote é o lobo-guará, animal típico do Cerrado, conhecido por espalhar sementes em suas andanças, que se torna um símbolo de disseminação e circulação de conteúdo.
“Começamos com o festival de filmes curtíssimos, aliás, trouxemos este formato pro Brasil. A partir da 9ª edição demos um salto e resolvemos aumentar o tempo dos filmes concorrentes”, conta Josiane Osorio, curadora, cineasta e presidente do Fórum Nacional dos Festivais. De acordo com a especialista, a motivação para a criação do Lobo Fest veio a partir da escassez de janelas para o cinema mais criativo e desatrelado dos mercados.
Segundo Josiane, a curta-metragem, no Brasil, ainda se limita muito aos festivais de cinema. “Então, assim, funcionamos como um canal. Sem modéstia, somos um dos maiores festivais de curtas-metragens do Brasil. Trazemos anualmente para Brasília os melhores curtas do mundo”, ressalta.
No entanto, para conseguir esse título, os primeiros passos foram dados com bastante esforço. Josiane explica que qualquer iniciativa de difusão cinematográfica, hoje em dia, é uma tarefa hercúlea. “A começar pelos recursos destinados a festivais e mostras, que são muito aquém do necessário. Trazer o público para a sala de cinema é trabalhoso. Nosso trabalho de mobilização é intenso, mas é sempre estimulante ver os resultados”, diz.
A cineasta pontua que, no território brasileiro, há muita gente jovem que nunca pisou no cinema e, os outros da mesma idade, há muito não iam. Com a iniciativa do Lobo Fest, ela destaca que é possível ver o brilho nos olhos do público. Muito se deve, na avaliação de Josiane, à força do intercâmbio cultural por meio do cinema.
“Há, em cada mostra, um recorte geográfico e geopolítico imensos. Imagine que jovens estão tendo contato com cinematografias novas e contundentes como as da Indonésia, Filipinas, Uzbequistão, Colômbia ou Marrocos. Nossa missão maior, no entanto, é promover o cinema do presente”, informa.
Obras no Riacho Fundo
A partir de segunda-feira (11), o IFB Campus Riacho Fundo receberá a 16ª edição do Lobo Fest – Festival Internacional de Filmes. Até sexta-feira (15), a população poderá acompanhar as sessões com entrada gratuita, filmes para os públicos adulto, jovem e infantil. Participam da mostra 53 curtas-metragens inéditos de 30 países, incluindo produções brasileiras realizadas entre 2023 e 2024
Como parte da programação do Festival acontecem oficinas gratuitas de produção de documentário e roteiro de filmes silenciosos com vagas limitadas. Este projeto é realizado pela Tabata Filmes com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF).
Para fomentar o cenário nacional, os filmes brasileiros apresentados nas etapas do Cine Brasília, que ocorreu nos dias 26 e 27 de outubro deste ano, participam da mostra competitiva, que terá premiação pela escolha da audiência e do júri especializado formado por Fábio Krispin, Mônica Gaspar e Tiago Aragão.
O mais votado em cada categoria receberá um prêmio no valor de R$ 1.500,00 cada, e o melhor filme nacional escolhido pelo júri receberá também um prêmio da DOT Cine, empresa voltada ao mercado de entretenimento e publicidade, para a pós-produção de um filme de curta-metragem.
“É a grande chance para um estreante ou emergente mostrar a que veio. Muitos curtametragistas brasileiros já conquistaram posição de destaque nos mais importantes festivais do mundo. Alguns estão com filmes nesta edição do Lobo Fest”, pontua Josiane.
Três perguntas para Josiane Osorio, curadora, cineasta e presidente do Fórum Nacional dos Festivais:
De que forma é realizada a curadoria da programação do festival?
É um trabalho gigantesco. Neste ano recebemos cerca de quatro mil curtas e somos quatro curadores, todos muito rigorosos. Nos dividimos, inicialmente, por países e, depois, vamos discutindo as predileções até chegar num desenho final. Escolhemos os filmes de maneira a sempre desenhar um painel gigante do mundo. Isso leva uns dois meses.
Como o festival busca engajar o público local, especialmente quando filmes de diferentes culturas são exibidos?
Além das redes sociais e da mídia espontânea, trabalhamos com instituições de ensino e grupos organizados. Fomos o primeiro festival a promover sessões preparadas para receber o público do espectro autista. Nesse sentido, trabalhamos dando oportunidades a muitos grupos que tem pouco acesso à cultura como idosos e pessoas com transtorno mental. É impressionante o engajamento e a alegria dessas pessoas quando vem ver filmes do mundo todo.
Qual a importância deste tipo de iniciativa na cidade?
Fundamental. Imagine uma capital conhecida mundialmente pela sua beleza artística. Cineastas do mundo todo se empolgam ao saber que seus filmes são exibidos numa cidade jovem.
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