O conceito de sustentabilidade dentro da moda tem crescido em diferentes localidades do mundo, inclusive, no Brasil. De acordo com a pesquisa divulgada pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), em 2023, o território nacional possuía 118.778 brechós em funcionamento. No levantamento, foi indicado que o número representou um aumento de 30% nos últimos cinco anos.
Em Brasília, a tendência não poderia ser diferente. O comércio focado na redução de desperdício e na ampliação do ciclo de vida das peças de roupa também tem se desenvolvido em regiões variadas da capital. Empreendedora do mundo fashion e dona do brechó B ao Quadrado, Bethânia Mayara iniciou os seus passos com a loja na pandemia de covid-19, mas a moda circular já estava presente no seu dia a dia desde a infância.
“Eu sempre vesti (roupas de) brechó, desde pequena. Tive uma origem humilde e que não me dava a possibilidade de usar roupas caras e de marcas. Por isso, sempre usei roupas de segunda mão. A princípio, isso era motivo de me envergonhar, mas, com o tempo, percebi a enorme possibilidade que peças únicas me traziam”, conta.
Somado a isso, Bethânia comenta que ser uma entusiasta da moda fomentou as suas possibilidades na área do empreendedorismo. “Quando entrei na faculdade de serviço social, vendia algumas peças de roupa para amigas e colegas, como forma de ganhar algum dinheiro quando as coisas apertavam. Isso foi me abrindo os olhos do potencial que o mercado tinha”, relembra.
No período pandêmico, ela optou por se dedicar totalmente a esse nicho de mercado. “Eu abri o negócio quando tudo estava fechado, e todo mundo migrou para o digital. Comecei a criar conteúdo. Eu via muitas meninas postando dicas em casa. Para começar, você precisa só de uma parede branca! Eu não tinha nada de cenário e nada dentro de casa. A única coisa que tinha era o quintal que, com a luz do dia, dava para tirar umas fotos”, observa.
Nessa época, Bethânia apostou em tecidos emprestados por sua sogra. A partir disso, a empresária montou os seus looks e, diariamente, publicava as fotos em uma rede social. “Abri uma página no Instagram e comecei a postar. Assim surgiu a loja”, recorda. O nome para a marca veio de uma brincadeira matemática: utilizou o B de Bethânia e o da palavra brechó que, ao se multiplicarem, geram o B ao Quadrado.
Desafios no empreendedorismo
Apesar de ser uma área em expansão, Bethânia indica que o mercado do brechó ainda é muito recente. Para ela, trata-se de lutas atrás de batalhas para achar ferramentas que funcionem. No entanto, a empreendedora ressalta que é um segmento único na moda, no qual as peças demandam processos específicos. Nesse sentido, na avaliação dela, o maior desafio é a adaptação de todos os trâmites operacionais, legais e contábeis para o mundo do brechó, sem perder a humanização no contato com as clientes.
Mesmo com os empecilhos, a empresária teve êxito. A loja, que iniciou no porta-malas do carro, migrou para o Instagram e, por fim, chegou a um local físico. “Abri sem pretensão alguma. Era só para ter uma renda. Jamais imaginei viver tudo que temos atualmente. Hoje, conto com duas unidades e um site. Tive muita dificuldade em estruturar todos os processos, regularizar a parte contábil e jurídica para conseguir ampliar. Todo o processo se deu em tentativas, erros e aprendizagem”, elenca.
O negócio, aos poucos, encorpou. Bethânia diz que, com isso, tornou-se necessária a expansão da marca, visto que, antes, toda a atuação estava delimitada ao seu quarto. “Eu estava morando dentro de uma loja. A única coisa que não tinha roupa era, literalmente, a minha cama. O resto estava lotado de estoque. A gente cresceu muito rápido. Sempre visamos ir além de uma compra. Por isso, eu produzia conteúdo e dava dicas. A gente tentou criar uma comunidade forte de pessoas que realmente acreditassem no meu trabalho”, complementa.
Cuidado ambiental
“Ajude o B-Planet a combater o desperdício de resíduos têxteis, o uso exagerado de recursos hídricos e a exploração de mão de obra barata” é uma frase que estampa a loja de Bethânia. Promovendo a sustentabilidade e a consciência ambiental, a B ao Quadrado busca incentivar um consumo de moda consciente.
Entretanto, para ela, ainda há um longo percurso para ser percorrido no âmbito social. “Acho que falta muito para evoluir. Temos muitas marcas de departamento lançando roupas novas a cada estação. Cada peça dessas gasta litros de água e degrada o ambiente. Existem marcas que reutilizam tecidos, mas esse mercado ainda é muito caro”, assinala.
Três perguntas para Bethânia Mayara, dona do B ao Quadrado
Como você descreveria a loja?
É um lugar para empoderar as mulheres. Foi feita por uma mulher e para as mulheres. A preocupação da loja é que você saia de lá se sentindo melhor do que entrou, que use roupas que a valorizem e que você use um look para aumentar a sua autoestima. No espaço, você vai receber uma chuva de sugestões e, também, de elogios.
Quais foram os momentos mais memoráveis da marca?
A abertura da loja da Asa Sul, com certeza, foi um marco muito grande dentro da história do B ao Quadrado. Investi tudo o que tinha e me dediquei muito para dar certo. Ver tudo fluindo é gratificante.
Na sua opinião, os brechós estão voltando à tendência?
Brechó é o futuro. A conta não fecha: existem muitas roupas para poucas pessoas. Além de que, tudo que não é reutilizável, vira lixo. A conscientização ambiental está crescendo e, por isso, o ramo de brechó também vai crescer.
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