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A valorização da mulher na fotografia

Em 2017, Michelle Bastos, fotógrafa e mestre em fotografia, idealizou a Editora Estrondo com o objetivo de publicar fotolivros de artistas mulheres. No ano seguinte, o projeto saiu do papel. Criado a partir de uma observação acerca da presença feminina nos espaços tradicionais da fotografia, no Brasil, a idealizadora e coordenadora da marca destaca que, há uma década, aproximadamente, o mercado era formado majoritariamente por homens.

“Quando eu falo ‘homens’, isso tem um outro recorte: não inclui diversidade de raça, de jovens e de tanta gente fora do que, antigamente, se chamava de ‘eixo’. Antes, acreditava-se que existia um eixo cultural e que a maioria dos estados brasileiros não estavam incluídos nisso. Foi esse o cenário que encontrei quando comecei na fotografia e, principalmente, em um produto como o fotolivro,  que ainda é novo, mas, na época, era mais recente ainda; estava começando aqui no Brasil”, conta Michelle.

Nesse cenário, a fotógrafa buscou especialização para potencializar o mercado, especialmente com o público feminino. Isso porque, segundo a profissional, os fotolivros publicados no Brasil tinham uma participação naquele momento insignificante de mulheres.

“Eram poucas as mulheres que conseguiam publicar os seus materiais. Então, viemos com o recorte de ser a primeira editora brasileira de fotolivros dedicada a publicar mulheres para ocupar esse nicho de publicação da fotografia, que era e continua sendo em alguma instância bastante machista. As mulheres foram bastante visibilizadas nesse nicho”, destaca.

Além disso, para Michelle, a editora também surgiu com o propósito de gerar impacto e provocar as pessoas a pensarem no meio da fotografia de uma forma diferente, entendendo a importância do recorte feito para permitir maior inclusão. Entretanto, o processo é complexo visto que, na visão da fotógrafa, ainda há resistência em enxergar o machismo estrutural.

“É muito romântico achar que em todas as áreas de conhecimento têm manifestações de machismo estrutural e que a fotografia seria especial, não haveria. Nunca foi assim. Agora está começando a  mudar por conta de um movimento massivo, no qual eu me incluo, de inclusão de mulheres no fazer e no pensar fotográfico”, explica.

Desafios do mercado

Considerado um produto novo no Brasil, o fotolivro enfrenta algumas dificuldades até a sua veiculação. Uma delas envolve o financeiro, visto que a impressão tem um custo relativamente alto. Nesse sentido, Michelle indica que o trabalho acaba partindo para um recorte bastante elitizado.

“O fotolivro é uma coisa nova no Brasil e poucos têm em suas estantes, uma vez que o país também possui um déficit educacional de leitura. Quem é que tem uma coleção de fotolivro em casa? Como popularizar o fotolivro? Então, também surgimos com a ideia de popularizar o acesso, tanto que os livros da Estrondo são mais baratos, hoje custam R$ 50”, conta.

Três perguntas para Michelle Bastos, idealizadora e coordenadora da Editora Estrondo:

Quantos trabalhos a Editora Estrondo já realizou?

Nós tivemos dois blocos de publicações, onde todas foram realizadas com o patrocínio do Fundo de Apoio à Cultura do Distrito Federal (FAC-DF). No primeiro, foram 10 fotolivros. São parte de uma coleção, então, eles tinham um protótipo para serem publicados dentro de um determinado formato. Depois, nós chegamos com um outro bloco de publicações com cinco fotolivros. Agora estamos no décimo quarto e, no próximo mês, o décimo quinto será lançado em Brasília. É uma publicação da Juliana Uepa que trata de um aspecto político de Brasília. É um livro muito bonito, diagramado pela Diana Botelho, que é uma “fada” da diagramação; e editorado por mim.

O que garante a qualidade dos fotolivros?

Eu diria de uma maneira mais direta que o próprio livro se garante. Basta pegá-los em mãos e é possível ver que é um trabalho diferenciado. No entanto, como também no mundo da arte, a gente acaba trabalhando a validação do material. Alguns dos nossos livros, por exemplo, foram escolhidos pelo Instituto Moreira Salles (IMS).

O IMS é uma instituição que mantém a revista Zum, realiza um festival de fotografia e reformou um prédio na Avenida Paulista dedicado para abrigar exposições, acervos, debates sobre fotografia e que seleciona todo ano os melhores fotolivros feitos no Brasil. Em 2021, fomos escolhidos já com duas publicações. Foi uma alegria vê-los por lá e acompanhar essa validação acontecendo.

Outro sinal de que as publicações têm qualidade é o fato de que os fotolivros da Estrondo têm grande procura e hoje são vendidos pela Lovely House, uma livraria e distribuidora de livros de fotografia e que também realiza festivais anuais. Apesar da editora ser relativamente jovem, alguns títulos já estão esgotados.

Quais os momentos mais memoráveis da Estrondo desde a sua fundação?

Foram tantos que eu penso ter colocado essa editora nesse mundo como o meu projeto de vida. Se eu morresse hoje, queria aquela plaquinha que fica no túmulo dizendo:  “Michelle Bastos, Editora  Estrondo“. Foi o meu projeto de vida até aqui.

Eu tenho muito orgulho de executar este projeto. Dos momentos memoráveis, eu tenho que citar o lançamento de cada um dos livros. Quando a gente vê o olhinho das autoras brilhando no dia do lançamento, quando elas pegam os livros em mãos pela primeira vez e sabem que as publicações são delas, que alguma coisa nasceu ali e vai ficar nesse mundo para sempre.

Outra coisa que é também memorável é que a Editora tem uma escola que dá um curso de como fazer um projeto de fotolivro comigo uma vez por ano. E é muito incrível também depois receber o trabalho dos alunos. Muitos publicam, vários ganham editais. É uma escola transformadora. Já foram três cursos, com cerca de 100 alunos formados.

gabriellacollodetti

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