Categories: Sem categoria

Apoio e incentivo à diversidade artística

Atuando há seis anos em Brasília, a Pilastra é um ecossistema dedicado à produção cultural de diversas linguagens artísticas. A iniciativa busca fomentar a pesquisa, a inovação dentro do campo das artes, a formação profissional e a inserção de jovens artistas no mercado de trabalho e no exercício da arte-educação.

Segundo a organização, o projeto foi construído para se tornar um vetor de transformação social através da inserção mercadológica de artistas e agentes culturais. Na época da sua fundação, enxergava-se uma ausência de espaços que acolhessem a produção contemporânea da juventude dissidente do Distrito Federal.

“Pessoas negras, indígenas, periféricas e LGTQIAP+ passaram a ter acesso a espaços de produção intelectual e cultural que lhes foram restringidas durante séculos”, explica Gisele Lima, diretora geral da Pilastra. No entanto, a profissional indica que, apesar do aumento produtivo na área, em 2017, o sistema artístico local não se atualizou na mesma velocidade que esta parcela população, que sempre foi invisibilizada de espaços de centralidade da produção cultural e intelectual acadêmica.

“Foi quando estudantes de História e Artes, da Universidade de Brasília (UnB), se juntaram para fundar a primeira galeria dedicada à produção e pesquisa de arte contemporânea no entorno do DF e dedicada a promover artistas dissidentes. Assim nasce a Pilastra”, conta. Hoje em dia, considerada uma galeria-escola, o mote da Pilastra é a instrumentalização e formação profissional no meio cultural a partir do compartilhamento de saberes.

“O modelo inicial de galeria de arte da Pilastra passou por alterações e modificações. Isso porque atuar nas brechas do sistema requer jogo de cintura e uma constante reavaliação e reinvenção. Como ecossistema de arte e galeria-escola, não deixamos de pensar na Pilastra como uma organização a ser consolidada cada vez mais em rumo à sua autossuficiência, independência financeira e expansão”, destaca Gisele.

De acordo com a diretora geral, o nome organização surgiu a partir de uma avaliação sobre a pilastra, elemento arquitetônico que fortalece e reforça uma edificação. “A Pilastra, ecossistema de arte, é um elemento de sustentação, alicerce de um corpo coletivo, símbolo de resistência. É aquela que nada contra a corrente, resiste e sustenta todo um movimento, grupo de artistas e agentes culturais”, contextualiza.

No que diz respeito a momentos marcantes desde a sua criação, Gisele indica que, para a Pilastra, a primeira participação do espaço no projeto “BSB Plano das Artes”, da curadora e professora Cinara Barbosa, foi memorável, por se tratar de uma iniciativa que incentiva e viabiliza um intercâmbio e visitas a diferentes espaços da cidade. “Foi quando a Pilastra passou a ser frequentada pelo público morador do Plano Piloto e de agentes culturais inseridos no circuito artístico da cidade”, ressalta.

Outro momento marcante, segundo a diretora geral, foi o curso de história da arte decolonial que a organização realizou on-line, durante a pandemia, e que contou com a participação de artistas e pesquisadores importantes para o cenário cultural atual, como Denilson Baniwa, Jaider Esbell, Luciara Ribeiro e Aldones Nino.

“Para finalizar, a reabertura do espaço físico pós-pandemia foi de longe um dos momentos mais marcantes, pois simboliza uma nova era da Pilastra, sob nova gestão, com uma participação consolidada no cenário cultural local e uma proposta que visa ainda mais a participação e visitação do público”, recorda.

Depois da Cidade

Até o dia 3 de fevereiro, os moradores de Brasília poderão prestigiar a mostra “Depois da Cidade”, produzida pela Pilastra, que está localizada no Centro Cultural TCU, no Setor de Clubes Esportivos Sul. O projeto teve início ainda durante a pandemia de covid-19. Com obras de oito artistas visuais de Brasília, a exposição discute aspectos da cidade e de como a presença humana se organiza a partir do aterro sanitário da Estrutural.

Segundo os curadores Gisele e Atila Regiani, o projeto da mostra começa a partir da angústia imposta pela pandemia, mas também pelo vislumbre das imagens do aterro do SLU: uma paisagem devastada, árida e inóspita, onde nada parecia florescer.

Três perguntas para Gisele Lima, diretora geral da Pilastra:

Por que a arte é um vetor de transformação social?

Com a arte, abordamos discussões sobre a sociedade, violências e realidades periféricas. Assim, por meio das exposições e ações educativas conseguimos sensibilizar as pessoas a respeito de questões tão caras às transformações sociais e valores da comunidade.

Qual o potencial artístico de Brasília?

O Distrito Federal é, hoje, um dos grandes pólos de produção criativa do Brasil. Artistas do DF têm ganhado prêmios, participado de exposições e marcado presença em diferentes contextos por todo Brasil e pelo mundo. Vivemos num contexto onde o eixo Rio-São Paulo ainda detém o maior fluxo financeiro e de investidores na área cultural. No entanto, nos últimos anos, vimos uma explosão da produção de Minas Gerais, seguido de hoje um olhar muito atento à região Norte e amazônica. Acredito que o próximo hype da cena cultural nacional será o Distrito Federal não apenas nas artes visuais, mas na música, teatro e cinema.

Qual a importância de descentralizar a arte?

A arte, o pensamento crítico e o acesso aos locais de intelectualidade foram, por muito tempo, exclusivos de uma camada da sociedade mais rica e elitista. Ao descentralizar, a gente democratiza processos de produção cultural e artística, de pensamento, de mercado e tudo que o circunda. É tornar possível que artistas não herdeiros vivam de arte e que pessoas comuns tenham arte dentro de casa, desmistificando a ideia de que é uma possibilidade apenas para pessoas milionárias, excêntricas ou para quem já nasceu nesse ambiente artístico.

Gabriella Collodetti

Recent Posts

Inovação na medicina do trabalho

Fundada, inicialmente, como um laboratório de análises clínicas em Brasília, em 2003, a Check Up…

1 semana ago

Ceilândia em destaque no mercado óptico

Recém-chegado da Paraíba, José Fernando Ferreira da Silva desembarcou em Ceilândia em 1986 para trabalhar…

2 semanas ago

Moda infantil com impacto social

Em meio ao colorido das peças infantis e juvenis que enchem as araras do Grupo…

3 semanas ago

Complexo de experiências gastronômicas

No coração de Brasília, o Mané Mercado nasceu para ser mais do que um ponto…

4 semanas ago

Novo conceito de mall em Águas Claras

Com uma proposta ousada e um conceito que vai muito além das vitrines, o Manhattan…

1 mês ago

Diversidade brasileira e tradição

Fundado em 1987, entre os antigos pinheiros altos que dançavam com o vento, o Alpinus…

1 mês ago