Ao chegar em Brasília em 1974, Higino França trazia sonhos em suas malas e uma grande vontade de aprender com a capital construída no centro do país. O economista e empresário, aos seus 17 anos, veio à cidade para iniciar uma faculdade e idealizar uma nova vida.
Formado em Economia, esteve na Fundação das Pioneiras Sociais e, também, no Ministério da Saúde. Sua atuação no gabinete do ministro foi ampla e perdurou ao longo de dez anos, até atingir o cargo máximo no serviço público. “Vi que, a partir dali, eu ia ter os reajustes do governo e, depois, esperaria a aposentadoria. Aquilo me frustrou muito”, relembra.
Foi com esse sentimento que surgiu a Casa da Moldura, a primeira loja do Distrito Federal especializada em molduras. Para o empresário, a moldura é a roupa de um quadro. “Às vezes, a pessoa indica que a moldura ficará mais cara que a obra, mas a obra é o conjunto e a moldura faz parte disso. Ela é a roupa para o quadro. Um quadro sem moldura é um quadro nu”, explica.
A ideia do estabelecimento veio em um insight após visitar sucessivamente um parente, que possuía uma vidraçaria. Na época, Higino reparou: não havia um ambiente comercial destinado apenas a esse produto.
“Em 1988, fui ao norte de Santa Catarina, em uma cidadezinha pequena. A região é conhecida por produzir 99,9% da moldura de madeira no Brasil e, também, 9% do mundo. No ano seguinte, montei a loja”, conta.
Naquela década, ao invés de se locomover para a indústria produtora, era comum que os empreendedores fossem atendidos por representantes, que traziam amostras de moldura. A iniciativa de Higino em ir pessoalmente trouxe a ele a vantagem de proporcionar um produto diferenciado dentro do mercado, com alta qualidade e seleção personalizada.
“Vi o que havia de mais moderno em termos de máquinas, equipamentos e insumos. Também tive acesso aos lançamentos, perspectivas e futuras tendências para o segmento. Com essa visão privilegiada, nós remodelamos a estrutura física da loja”, destaca o fundador da Casa da Moldura.
Antigamente, todas as lojas possuíam um balcão e um mostruário com as molduras fixadas em estruturas na parede. Após as suas idas ao Sul, buscando inovar, Higino retirou esse ambiente e inseriu mesas para que os clientes pudessem ser atendidos confortavelmente. As molduras expostas também passaram por reformulação: o empresário inseriu velcro onde a pessoa retirava o protótipo para melhor visualização.
“O formato antigo até arranhava quando você colocava o mostruário em cima de uma foto ou de uma tela. Um negócio horrível. Começamos mudando ali. Depois, cheguei a conclusão de que não adiantava ter as melhores marcas, equipamentos, insumos, estoques e atendimento sem ninguém saber disso. Foi, então, que começamos a despertar para a questão da publicidade”, diz.
Higino é conhecido na cidade por ser uma referência no meio publicitário, visto que desde quando entrou no mercado, o empresário utiliza a própria imagem para vender o serviço do seu empreendimento. Naquela circunstância, só era possível contar com anúncios em listas telefônicas e outdoors.
O boom da inovação publicitária veio ao DF quando a Rádio Nacional FM foi inaugurada e, com essa novidade, o economista viu a possibilidade de atingir o seu público. “A gente não chegou fazendo dois ou três comerciais por dia. Fizemos logo dez desde a primeira vez. Era de hora em hora, das 9h às 18h”, recorda.
O profissional acredita que, a partir do momento em que um empreendedor começa a conectar a sua marca à própria imagem, é possível ser reconhecido em todos os cantos. Com isso, o público consegue associá-lo ao seu negócio e, consequentemente, as vendas são desdobradas.
Essas iniciativas em Brasília trouxeram à Higino o título de cidadão honorário. “Uma coisa é chegar onde você quer, outra coisa é ser reconhecido por isso. Imagine: um cara que chega aqui com 17 anos, com uma sacola na mão, e depois de 40 anos recebe esse reconhecimento. Para mim, é muito lisonjeio”, celebra.
Negócio de família
“A loja é uma empresa familiar. Hoje, por exemplo, minha esposa cuida do financeiro e da equipe, além da gente se assessorar em tudo. Já tive a minha filha, que é arquiteta, trabalhando comigo, e o meu filho também”, indica. Casado com Edneida Magalhães, Higino destaca a importância da família para a alma do seu negócio. Além disso, os filhos Aline e Renato França, também ajudaram a construir o ambiente.
Com 33 anos de atuação em família, de acordo com Higino, a Casa da Moldura carrega um momento memorável em sua história. O empresário conta que, no empreendimento, foi possível emoldurar uma série de obras do Portinari, artista plástico brasileiro de grande renome. “Ver exposto é um motivo de grande honra e satisfação”, destaca.
Três perguntas para Higino França, fundador da Casa da Moldura:
Qual a moldura mais procurada na sua loja?
Preta, branca, reta e lisa, de 3 cm. É a moldura “TokStok”, moldura padrão da Leroy Merlin, que você encontra em todos os cantos.
Brasília é um bom lugar para empreender?
Sim. Brasília, hoje, com mais de três milhões de habitantes, tem mercado para praticamente tudo. Com a tendência que o mundo gira da especialização, os nichos são cada vez mais visíveis para quem tem essa expertise de analisar o mercado.
Qual sonho o senhor ainda tem?
Manter-me ativo e produzindo enquanto a vista me permitir e o corpo puder andar. Além disso, me fazer feliz e, também, as pessoas que me cercam.
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