Animais: Coração em alerta

foto de um cão que sofre de problemas no coração.Animais
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Animais: Campanha nacional reforça a importância de avaliar a saúde cardíaca

A vida média dos cachorros varia entre 10 e 13 anos, mas o que muitos não sabem é que cerca de 35% dos cães idosos sofrem de doenças cardíacas, que podem diminuir a expectativa de vida dos pets. Com um quintal inteiro só para ele, o fox paulistinha Flyboy sempre foi muito ativo, agitado e nunca se cansava. Até que um dia, em uma brincadeira comum de jogar a bolinha para os animais, o cão caiu ofegante e começou a se contorcer. Assustada, a dona dele, a estudante Julia Lescure, 23, o levou ao veterinário e descobriu o diagnóstico: filária em estado avançado. A doença também conhecida como “verme do coração” é transmitida pela picada do mosquito que entrou em contato com animais doentes e afeta, principalmente, o ventrículo direito do coração.

Se não tratada imediatamente, a enfermidade pode levar o animal a óbito. Além dela, várias outras podem comprometer a saúde cardíaca dos bichos. Com o intuito de conscientizar os tutores sobre a importância de fazer check up periódico para diagnosticar e, assim, tratar precocemente as cardiopatias, a Elanco (empresa produtora de produtos para animais), em parceria com a Agência Estação Brasil, lançou a campanha Setembro Vermelho: se tem amor.

Foto de um cãozinho da raça paulistinha que faz uso de medicamentos-animais
Foto: Arquivo Pessoal. O cãozinho Flyboy faz uso de 5 medicamentos diferentes para tratar a filária

A finalidade é alertar a sociedade sobre as patologias cardiológicas que afetam os cães idosos — dos 5 aos 13 anos, cerca de 70% deles desenvolvem a principal cardiopatia que acomete os cães: a doença valvar crônica mitral (DVCM). “Acho muito importante esse tipo de campanha porque existem muitas doenças que as pessoas desconhecem. Talvez, se eu soubesse quais eram os sintomas da filária, teria ficado de olhos abertos, e o quadro dele (do Flyboy) não estaria tão avançado”, comenta Julia.

O fox paulistinha tinha 4 anos quando o problema foi diagnosticado e, a partir daí, as mudanças foram drásticas. Além de tomar cinco medicamentos diferentes, o cãozinho agitado, que antes não se continha, passou por alguns episódios assustadores e agora não pode mais se exaltar. “Ele já desmaiou três vezes correndo em volta da piscina, então, hoje em dia, a gente brinca com ele, mas sem jogar bola, por exemplo. Passamos o tempo todo tentando mantê-lo o mais calmo possível”, conta a dona.

Por isso, a informação é tão importante. A iniciativa do Setembro Vermelho é voltada tanto para os donos de cães, quanto para os médicos veterinários. O objetivo é aumentar a qualidade de vida e a sobrevida dos animais que enfrentam males do coração. Por isso, são oferecidos dados técnicos sobre o diagnóstico e tratamento da DVCM.

Carlos Morris, médico veterinário especializado em cardiologia e membro da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária, explica que, a partir dos 5 anos, é imprescindível a realização de check ups anuais do animal, que incluam exames de sangue completos, raios-X, ultrassom de abdômen e ecocardiograma. “Normalmente, as cardiopatias que afetam os cães de grande porte são musculares, como a cardiomiopatia (doença na qual o músculo cardíaco cresce e enfraquece). No caso dos de pequeno porte, os males mais comuns são as valvulares, como a doença valvar crônica mitral”, esclarece.

A patologia pode surgir já nos primeiros anos de vida do cão e entre as raças mais afetadas estão poodle, yorkshire, pinscher e os vira-latas. Quanto mais rapidamente a doença for diagnosticada, mais fácil será retardar a evolução do quadro. “Se a patologia for descoberta logo, será possível proporcionar uma vida boa, tranquila e mais longa ao animal”, comenta Carlos.

O quadro de cães cardiopatas que apresentam outras complicações, como obesidade, pode progredir de maneira negativa. É o caso da buldogue inglesa Olívia. Além de estar acima do peso, a cadela de 6 anos sofre de cardiomiopatia dilatada. “Há um ano, ela foi diagnosticada e o veterinário alertou que, além de controlar problema no coração, seria necessário cuidar do sobrepeso para que ela não apresente outras disfunções”, explica professora e tutora do animal, Fernanda Dorsa, 37.

Foto: Arquivo Pessoal. Bichos. Há um ano a cadela Olivia sofre de cardiomiopatia dilatada e cuida do sobrepeso para não desenvolver maiores complicações no seu quadro.
Foto: Arquivo Pessoal. Há um ano a cadela Olivia sofre de cardiomiopatia dilatada e cuida do sobrepeso para não desenvolver maiores complicações no seu quadro.

Fernanda começou a estranhar quando reparou que Olívia se recusava a fazer qualquer exercício, andava um pouco e tossia muito. De início, pensou que fosse gripe, mas, após um tempo, decidiu procurar um especialista. “Eu não tinha nem ideia do problema, mas hoje tento sempre repassar essas informações para os meus amigos que têm bichinhos.”

A readaptação alimentar, juntamente com a prescrição médica, também tem um papel importante de promover a qualidade de vida dos animais cardiopatas. Alimentos ricos em nutrientes, como taurina e L-carnitina, são ideais, uma vez que auxiliam no funcionamento do músculo cardíaco e contêm baixo teor de fósforo e de sódio que, em excesso, podem gerar acúmulo de fluídos e sobrecarga dos rins.

Além das visitas periódicas ao veterinário, é importante ficar atento aos sintomas que podem variar entre cansaço frequente, desmaios, tosses e dificuldade respiratória. A cardiomiopatia dilatada não tem cura e para ter uma melhor combinação de medicamentos é essencial classificar o estágio da patologia, a partir do exame ecocardiográfico.

Segundo recomendações da American College of Veterinary Internal Medicine (ACVIM), os cães com maior predisposição à doença devem ter o coração examinado anualmente, pelo menos por auscultação cardíaca (exame que estuda os sons gerados pelo ciclo do coração). Já os cachorros que apresentam alguma lesão valvar mitral ou dilatação cardíaca devem realizar o ecocardiograma a cada seis meses.

Participe:
Para disseminar o projeto Setembro Vermelho: se tem amor, posts sobre o assunto são divulgados nas redes sociais com a hashtag personalizada #setemamor. Também é possível incorporar o selo da campanha à foto de perfil do facebook. Além disso, no próximo 22 de setembro, às 20h, será promovido um webmeeting para médicos veterinários, com o intuito de esclarecer as dúvidas sobre o tema. Para participar, basta acessar o site www.pensecoracaopenserins.com.br.

A dor e a delícia de ser o que é

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(por Ailim Cabral, da Revista do Correio) (fotos Zuleika de Souza/@cbfotografia)

 

O excesso de dobras; a aparência, até meio emburrada, do focinho encolhido; o andar cheio de rebolado e as tentativas de correr com as pernas curtas são características que conferem ao buldogue um imenso carisma. No entanto, os traços que atraem muitos compradores e adotantes podem indicar sérios problemas genéticos, que afetam a saúde da raça. Um grupo de pesquisadores do Centro de Companheiros da Saúde Animal da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, acaba de concluir que, justamente a busca pela reprodução do buldogue inglês somente entre os representantes mais puros da raça tem perpetuado certas especificidades genéticas que podem comprometer a qualidade de vida desses cachorros.

Segundo a tese, a seleção artificial feita ao longo dos anos e a partir de poucos indivíduos da raça — a reprodução começou em 1835, com 68 buldogues ingleses — contribuiu para que os problemas genéticos, como a displasia de quadril, dificuldades respiratórias pelo formato do crânio, câncer e cherry eye (condição na qual o cão tem um pequeno cisto na pálpebra interna do olho), se estabelecessem com muita frequência nos animais considerados de raça pura.

A partir do estudo realizado com 102 buldogues, sendo 87 deles dos Estados Unidos e 15 de outros países, os pesquisadores concluíram que a ausência de diversidade genética na raça pode ter chegado a um nível crítico e que a saúde apresentada pelos cães atuais não tem perspectiva de melhora. Significa dizer que os genes problemáticos que esses animais têm hoje serão mantidos e transmitidos aos filhotes. Assim, o resultado do estudo americano levanta a reflexão quanto ao verdadeiro valor de raças puras e se manter um certo padrão físico é realmente saudável para os animais.

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A médica veterinária Lorena Andrade Nichel tem muitos buldogues ingleses como pacientes. Apesar de ser apaixonada pela raça e de duvidar que eles possam ser extintos, ela concorda com o alerta do centro americano. “Com a popularidade da raça, houve muita cruza sem estudos e os problemas foram sendo propagados. Acredito que não temos mais para onde ir no melhoramento genético do buldogue inglês”, explica.  Lorena acrescenta ainda que a incidência de falhas genéticas aumenta as despesas e leva ao abandono de muitos filhotes. “As pessoas os compram de sites não confiáveis e de criadores que não têm responsabilidade para buscar um preço menor. Com isso, acabam abandonando o cão com problemas, que traz uma série de despesas”, lamenta a veterinária.

Dona de dois buldogues ingleses, Margot e Rover, a servidora pública Karla Cristina Rocha Botão, 40 anos, se compadece do sofrimento de seus cães: os dois apresentam problemas genéticos. Margot tem 2 anos e sofre com displasia de quadril e deslocamento de patela, ambas doenças ortopédicas genéticas muito comuns na raça. A cadelinha tinha apenas 6 meses quando começou a fazer fisioterapia e acupuntura para se preparar para uma cirurgia. Graças aos cuidados da dona com a saúde dela, a operação não foi necessária, mas Margot nunca poderá abandonar a acupuntura.

Apesar de ser saudável ortopedicamente, Rover, de 1 ano e 11 meses, tem cherry eye e doenças de pele com características genéticas. “Escolhemos a raça pelo temperamento, e sabíamos das chances de eles terem essas doenças, mas sempre achamos que não vai acontecer”, conta Karla. Ela também acredita que a busca pela pureza genética, da forma como tem sido feita, é prejudicial para a saúde dos cães, mas defende que, se houver uma mistura de buldogues com outras raças, muitos donos não vão querer os cães mestiços. Apesar das patologias, ela afirma que seus cães são felizes. “Isso nunca os impediu de correr, brincar, levar uma vida relativamente normal porque cuidamos muito da saúde deles e ficamos sempre atentos.”

Criador de buldogue inglês há 15 anos, o advogado Gilberto Pires Medeiros Filho discorda da conclusão dos pesquisadores americanos. “Acredito que a informação é metade verdadeira. É baseada em pessoas que reproduzem e vendem sem cuidado ou seleção genética, propagam os problemas e denigrem a imagem da raça”, explica.

Gilberto considera que o buldogue inglês nunca será um cão esportista, por exemplo, pois tem limitações naturais, mas que, quando reproduzido com responsabilidade e seleção genética, leva uma vida normal e saudável. “Hoje, existe uma preocupação dos criadores sérios. Cruzamos cães que tenham as narinas maiores para diminuir a dificuldade respiratória, buscamos um palato mole mais alongado, fazemos vários exames para evitar a displasia e temos o cuidado de castrar animais que apresentem muitas alterações genéticas”, defende Gilberto.

O criador acrescenta ainda que os concursos atuais da raça não consideram apenas o padrão da raça, mas sim a saúde. Gilberto explica que os juízes responsáveis observam as rugas ao redor dos olhos, o tamanho das narinas e diversos aspectos do físico do animal. “Os concursos têm colocado esse aspecto em pauta e a saúde do buldogue inglês é uma preocupação dos criadores sérios”, completa.

“Com a popularidade da raça, houve muita cruza sem estudos e os problemas foram sendo propagados. Acredito que não temos mais para onde ir no melhoramento genético do buldogue inglês”
Lorena Andrade Nichel, médica veterinária