( por Gláucia Chaves, da Revista do Correio) (fotos Harbourfront Animal Hospital/Divulgação)
Na semana passada, a internet teve chiliques de fofura com a história de Wesley, o pequeno Golden Retriever que não conseguia comer. Sem mais nem menos, o filhote, de apenas 6 meses de idade, perdeu o interesse pelos brinquedos. Aos poucos, deixou de se alimentar, perdeu peso e ficou cada vez mais amuado. Para a sorte de Wesley, o tutor dele, Jim Moore, é veterinário odontológico. Rapidamente, o profissional percebeu que a mudança brusca no comportamento do cachorro só poderia ser uma coisa: problema dentário. O aparelho mudou a vida do cãozinho, que voltou a comer imediatamente e a ser o cachorro agitado de sempre. Tudo isso aconteceu no estado norte-americano de Michigan, mas, por aqui, o caso despertou interesse e muitas dúvidas. Afinal de contas, como cuidar da saúde bucal dos animais?
Assim como os seres humanos, os bichos acumulam tártaro e restos de comida nos dentes após comerem. A diferença é que nós escovamos os dentes várias vezes ao dia, enquanto os bichinhos não têm essa opção. O acúmulo de tártaro pode ocasionar a doença periodontal: inflamações crônicas na gengiva causadas por bactérias que, se não tratadas, podem levar à perda da dentição. Mas não é só isso: a infecção pode evoluir e se instalar em vários outros órgãos, como coração, rins e articulações. “O problema é que é muito difícil o paciente demonstrar dor, então, os sintomas nem sempre são percebidos”, explica Michele Venturini, veterinária especialista em odontologia para animais e proprietária da clínica OdontoVet.
Um importante sinal de que há algo errado é a halitose, sintoma muitas vezes ignorado pelos tutores (especialmente, os de animais idosos) e representa o início da inflamação. Segundo Venturini, o bafo de cão não é normal. “A halitose é a fermentação das bactérias da boca. A placa bacteriana fermenta, se calcifica e forma o tártaro”, detalha a especialista. Maria Izabel Ribas Valduga, sócia-fundadora e diretora da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (Abov) e proprietária do Odontocão, diz que os problemas odontológicos mais comuns em animais incluem, além da doença periodontal e da gengivite, os dentes de leite persistentes, dentes fraturados, tumores, cáries e lesão de reabsorção dental (doença que acomete os dentes permanentes dos gatos).
A primeira consulta ao veterinário odontológico deve ser feita aos seis meses de idade, de acordo com Maria Valduga, para que o profissional faça a avaliação da troca dental e inicie um programa preventivo. “Essa é a melhor idade para condicionar seu animal à escovação dental. Caso ele já seja adulto, você precisará ter um pouco de paciência e muita persistência, mas, com carinho, terá bom resultado”, completa.
Além da escovação, a profissional ensina outros truques para ajudar a prevenir o tártaro em bichos: tiras mastigáveis com enzimas capazes de remover o tártaro; mordedores; brinquedos de couro; e aditivos específicos para tal finalidade, que são colocados na água, são boas opções. “Alimento seco é comprovadamente mais interessante para saúde bucal do que alimento úmido”, completa Maria Valduga.
Herbert Correa, veterinário odontológico da Odontovet, explica que a faixa etária do animal também determina, muitas vezes, quais são os cuidados a serem tomados.
Para filhotes, por exemplo, a orientação profissional “ajuda no desenvolvimento de hábitos saudáveis, como a escovação diária dos dentes, que é muito importante para a manutenção da saúde oral”. Acompanhar a troca da dentição também é importante: “Se um dente nascer errado ele pode causar sérios prejuízos à saúde. Caso não nasça também é um problema e deve ser investigado”, pontua Correa.
Para cães e gatos adultos, a indicação é passar por avaliação odontológica pelo menos uma vez por ano. Caso seja necessário algum procedimento odontológico, o médico frisa que o animal, por mais dócil que seja, deve sempre ser sedado com anestesia geral inalatória. “Tem sido divulgada com frequência a realização de limpeza de tártaro sem anestesia. Tal prática é condenada por várias associações odontológicas veterinárias ao redor do mundo, inclusive a Abov”, alerta Herbert Correa.
Fique atento!
Caso seu animal esteja com algum desses sintomas, pode ser a hora de levá-lo ao dentista:
Halitose;
Não quer mais roer ossinhos;
Diminuição da energia/prostração;
Sonolência em excesso;
Passa a rejeitar ração seca, preferindo a amolecida;
Passar as patas na boca constantemente;
Salivação espessa, em excesso e com cheiro forte;
Emagrecimento;
Mastigação concentrada em apenas um lado da boca (ou intercalada constantemente);
Sangramento gengival.
Fontes: Maria Izabel Ribas Valduga, sócia-fundadora e diretora da Associação Brasileira de Odontologia Veterinária (Abov) e proprietária do Odontocão; Michele Venturini, veterinária especialista em odontologia para animais e proprietária da clínica OdontoVet; Herbert Correa, veterinário odontológico da Odontovet.
Principais tratamentos
Veja os procedimentos mais comuns, de acordo com o médico veterinário Herbert Correa:
A limpeza dentária, sem dúvida, é o principal tratamento odontológico realizado em cães e gatos. O motivo é simples: cerca de 85% dos animais sofrem de doença periodontal;
Tratamento de canal, em geral, é feito quando há um dente quebrado;
Próteses podem ser colocadas tanto para recuperar um dente quebrado como para proteger um dente quebrado contra novas fraturas;
Tratamentos ortodônticos, em geral, servem para corrigir dentes que nasceram fora de posição e estejam causando algum problema;
Restaurações, para casos de dentes fraturados;
Cirurgias para remover tumores orais;
Cirurgias para correção de fraturas de mandíbula e maxilar;
Cirurgias para reconstrução de defeitos do céu da boca (palato).
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