Gato deprimido?

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Por Ailim Cabral, da |Revista do Correio

Situações estressantes, como a morte dos tutores ou a mudança de casa, podem desencadear a doença em felinos

Depois de perder o tutor, Mitiz teve de aprender a viver sem a irmã: tristeza

foi percebida pelos donos.Foto Marcelo Ferreira/CB/DA Press

Os gatos caíram no gosto do brasileiro. O número de adoções vem crescendo e uma das vantagens do aumento de bichanos domiciliados e que recebem os cuidados adequados é que cada vez mais as doenças têm sido descobertas, diagnosticadas e divulgadas. Uma delas é a depressão felina, mal que durante muitos anos foi confundido com mau comportamento do animal.

Segundo Leila Sena, médica veterinária especialista em felinos, a depressão dos gatos é muito semelhante à humana. “Nesse caso, a mudança de comportamento é o que mais caracteriza a doença”, afirma.

Por ser um bicho sensível, territorialista e com personalidade forte, o gato é suscetível a doenças psiquiátricas. Entre as principais causas da depressão felina estão a perda do tutor com quem conviveram por muitos anos, a perda de um companheiro — pode ser outro gato ou até mesmo um cachorro que viva na mesma casa — e situações de estresse. A mudança de lar e a chegada de um bebê são alguns outros exemplos de circunstâncias que podem desencadear o problema. Os especialistas alertam que animais idosos são mais propensos a desenvolver a doença.

Mitiz tem 13 anos e, depois da morte do dono, em 2013, perdeu a irmã Miúda, no início deste mês. Os novos tutores da gata, o casal de diplomatas Raquel Fernandes, 32 anos, e Leonardo Dutra, 34, ficou preocupado com a reação da gatinha. Observaram que ela teve alterações de comportamento e começou a perder pelos. O casal procurou uma veterinária para acompanhar de perto o problema.

Miúda e Mitiz entraram na vida de Raquel e Leonardo por acaso. O pai de um amigo, dono das gatas, morreu em 2013 e, por serem idosas, as duas enfrentavam dificuldades em encontrar um novo lar. A diplomata estava voltando para o Brasil depois de morar no Uruguai e se sensibilizou com a história. Raquel conta que sempre sonhou em ter animais, mas os pais dela não gostavam da ideia de manter pets em apartamento. “Elas já estavam com 11 anos e a vida inteira tinham morado com a mesma pessoa. Meu marido estava resistente no começo, mas acabou cedendo e nos encantamos por elas”, conta.

A adaptação das gatas foi tranquila e elas se apegaram muito ao casal, principalmente a Raquel. No ano passado, quando o bebê do casal nasceu, ela precisou passar 10 dias no hospital. “Elas sentiram muito minha falta e arranharam todos os móveis da casa. Quando voltei, tudo se acalmou”, lembra. No começo do mês, porém, a rotina da família foi alterada novamente. Os tutores precisaram fazer uma viagem de duas semanas e as gatinhas foram levadas a um hotel para pets.

Ao chegar em casa e buscar as gatinhas, Raquel e o marido notaram que a saúde delas se debilitou nos 15 dias que passaram fora. “A Miúda estava pele e osso e a Mitiz com falhas no pelo. Ficamos preocupados e fomos direto ao veterinário.” Apesar do pronto-atendimento, Miúda não resistiu e morreu de insuficiência renal cerca de uma semana depois. Desde então, o comportamento de Mitiz mudou. A gata ficou mais triste e passou a miar mais. “É como se estivesse esperando a irmã chegar. Qualquer barulho saía correndo para ver o que era e começou a tentar sair de casa quando abríamos a porta, coisa que nunca fez”, conta Raquel.

Além disso, a gata que sempre foi independente se tornou mais carente. Antes, poucas pessoas podiam se aproximar para brincar com ela. Hoje, Mitiz pede chamegos para qualquer um. “Ela costumava fugir do meu bebê, que hoje tem um 1 ano e três meses, e, agora, deixa até ele fazer carinho”.

A veterinária Leila Sena explica que Mitiz não tem depressão, mas há chances de desenvolver a doença e apresenta sinais típicos que surgem como prelúdio do problema. “Se for tratada adequadamente, como estamos fazendo, podemos impedir que o quadro evolua”, afirma a especialista. Mitiz demonstra que precisa de mais atenção e, por isso, está mais próxima dos donos. Uma vez instalada a depressão, o gato tende a se afastar das pessoas e de outros animais.

O tratamento para gatos na condição de Mitiz e mesmo para os que estão em quadro de depressão leve consiste em estimular o animal com brincadeiras diferentes. Além disso, pode ser necessário que a família passe mais tempo com o pet e utilize a feromônioterapia, técnica que consiste em usar difusores de feromônios na casa. “Essas substâncias fazem parte da comunicação do gato e, quando ele reconhece o cheiro, se acalma, percebe que o ambiente é seguro e que ele não precisa estar tenso”, explica Leila. Em casos extremos, é necessário entrar com a medicação antidepressiva.

A especialista menciona ainda que o diagnóstico da patologia é difícil de ser feito, pois só pode ser determinado depois de descartadas todas os problemas de saúde que podem causar no felino os mesmos sintomas. “Os sinais se misturam aos de outras doenças e nem o médico nem o dono podem ser levianos e classificar como depressão logo de primeira”, explica. É necessário fazer uma avaliação completa da saúde do animal, testes clínicos para outras patologias e, somente depois que o gato for considerado saudável e sem nenhuma outra alteração que possa ser a causa dos sintomas, apostar na depressão e tratá-la.

“Os sinais se misturam aos de outras doenças e nem o médico nem o dono podem ser levianos e classificar como depressão logo de primeira”

“Essas substâncias (feromônios) fazem parte da comunicação do gato e, quando ele reconhece o cheiro, se acalma, percebe que o ambiente é seguro e que ele não precisa estar tenso”

Leila Sena,  veterinária

Fique atento

Sinais de que o seu gato pode estar deprimido:

*Mudança brusca de comportamento

*Estresse permanente ou crônico

*Alteração no sono

*Perda de apetite ou interrupção da alimentação

Bono Blue

é jornalista, um cão farejador de notícias

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