Deficiência física, os desafios do dia a dia não são enfrentados apenas por pessoas, alguns animais também têm que aprender a conviver com certas dificuldades.
Na casa da professora Luciana Pereira, 50 anos, foi preciso criar uma rotina rígida para facilitar o convívio com a bull terrier albina Zara, de 9 anos. A cachorrinha, por ter nascido surda, não atende a comandos para comer ou para passear. Quando filhote, ela não escutava os rosnados e os latidos dos cães mais velhos no canil em que vivia. Assim, Zara sofreu com ataques e mordidas que lhe renderam cicatrizes no focinho.
A família desenvolveu, então, técnicas para condicionar a cadela. Foi estabelecido um horário fixo para o café da manhã e para o jantar, as duas refeições diária de Zara. Às 7h da manhã, ela sai de sua casinha e come do lado de fora da cozinha, perto de seus tutores. O mesmo comportamento é repetido ao fim do dia, na hora do jantar. Além disso, a família estabeleceu uma nova forma de comunicação com a cachorra: “Criamos alguns gestos que ela se acostumou a obedecer. Por exemplo, braço estendido é para ela ir para a casinha; quando damos alguns pulos laterais, ela sabe que a estamos chamando para brincar. Nós criamos uma espécie de libras canina”, explica Luciana.
Já a gata, Monalisa, 6 meses, foi encontrada pela estudante de medicina veterinária, Isabela Simas, 22 anos, em um bueiro, com as duas patas traseiras e o rabo arrancados. Após uma cirurgia para retirar o osso exposto e o tecido morto, a gatinha não conseguia se movimentar direito, nem fazer as necessidades na caixinha de areia. Isabela conta que não podia sair de casa, pois tinha que ficar cuidando dela.
Toda essa atenção foi recompensada. Hoje, a gatinha já está quase totalmente adaptada. Para se movimentar, ela se arrasta pelo chão. “Depois de dois meses aqui em casa e sem os curativos, ela já usa a caixinha de areia sozinha, pula da cama, e aprendeu a subir, escalando, só com as patinhas da frente”, comemora Isabela. A estudante conta que agora está tentando conseguir próteses para Monalisa, por meio de uma campanha no Facebook (A pequena Monalisa). O objetivo é dar à companheira a chance de voltar a andar normalmente. Como reconhecimento de tanto cuidado, Monalisa, apaixonada por colo, segue Isabela pela casa. Segundo sua tutora, ela é dócil com todos e ama brincar com seu arranhador em forma de ratinho.
Outro sobrevivente é Jojo, um vira-lata de 4 anos, que tem uma pata mais curta do que as outras. Ele foi abandonado após um atropelamento e adotado pela estudante de design, Giovanna Freitas, 21 anos. Ela conta que o cachorrinho não apresenta grandes dificuldades de locomoção. Ele é completamente adaptado à sua limitação: ama correr e observar a rua deitado em um banco de madeira na varanda da casa. Apenas se desequilibra quando o chão está um pouco molhado ou quando, afoito, se mexe muito rápido.
Apesar de um ser pouco desconfiado, logo se acostuma com a presença do visitante. Jojo é brincalhão e vive “sorrindo” para as pessoas, como define a dona. Foi esse “sorriso” que dificultou ainda mais a adoção dele. “Ele ‘sorri’ quando fica feliz e as pessoas achavam que ele era agressivo. Quando fazia isso, achavam que era rosnado, mas não era. Ele faz isso sempre”, explica Giovanna. Ao contrário, ele é muito sociável. Jojo não desgruda das outras cadelas da casa. A dona dele conta qu,e se as duas não forem juntas aos passeios, o cãozinho fica pedindo para voltar para casa.
Quando a veterinária Isabela Lacerda, 24 anos, decidiu adotar o gatinho Nemo, achou que a adaptação seria um processo difícil. Aos 4 anos, ele perdeu a patinha dianteira da direita, mas vive normalmente. Ele adaptou-se facilmente e não foi preciso mudar a rotina da casa, ao contrário do que se imaginava. “Ele tem apenas uma dificuldade de alcançar lugares mais altos e convive muito bem com outro gato e uma cadela. Os dois gatos são como irmãos, vivem entre tapas e beijos. A cadela, digamos que eles se aturam”, brinca Isabela.
Tratamentos
A médica veterinária Ana Catarina Vale, da Clínica Naturalpet, explica que, no caso da gata Monalisa, o ideal seria o uso de carrinhos, porém, é necessária uma atenção redobrada durante a adaptação do pet ao acessório. “Caso não se acostumem ao carrinho, a roupinha de couro ou feita de algum material mais resistente são ideais para os animais que têm apenas duas patas e se arrastam, para eles não se machucarem e viverem normalmente”, explica a veterinária. No caso de cães ou gatos que tenham sofrido algum acidente; que tenham com hérnias de disco; que sejam diagnosticados com doenças degenerativas, que acometem a coluna e afetem a locomoção, a profissional indica a utilização de medicina integrativa, com homeopatia, acupuntura, além da fisioterapia. “A acupuntura diminui significativamente a dor do animal. Além disso, o dono pode realizar massagens em casa para aumentar o conforto do bichinho”, esclarece.