(por Cristine Gentil- Blog Mais Bichos)
Por que um escritor que já vendeu mais de 1 milhão de livros com temáticas diversas, mas sobretudo sobre filosofia hindu, decide escrever sobre um método de educação para cães?
Como comportamentalista – não na vertente da psicologia, mas na da filosofia – com mais de 50 anos de magistério nessa área, passei a escrever livros sobre os diversos aspectos do comportamento, como o Método de Boas Maneiras, Método para um Bom Relacionamento Afetivo, Método de Boa Alimentação, o conto Eu me lembro… e outros. Estava na hora de abordar o comportamento do ser humano com os animais.
Logo na dedicatória, o senhor diz: “Dedico esse livro a Jaya, que me ensinou a ser gente”. Como os cães podem tornar os seres humanos melhores?
Os animais – não só os pets, mas os cavalos, as vacas, todos os bichos – têm a virtude de nos tornar pessoas melhores. Contudo, de todos os nossos amigos de quatro patas, os cães são os que despertam no ser humano os mais doces sentimentos, graças às lições de amor, alegria, entusiasmo, obediência, humildade e capacidade de nos perdoar pelas nossas impaciências, bem como pelas injustiças cometidas contra eles, a maior parte das quais nós nem tomamos consciência de que cometemos.
O senhor aconselha a não dar apenas ração aos cães e introduzir alimentos, como queijos e iogurtes, na dieta canina. Os veterinários são normalmente contrários. Não é perigoso?
Um dia, comentei com um amigo oncologista que eu dava à minha weimaraner Jaya uma alimentação sem carnes. Como médico cancerologista, ele me respondeu: “Ela vai viver mais.” Com esta alimentação, Jaya cresceu mais que os seus pais, ficou com uma musculatura atlética e hoje já tem mais de 10 anos de idade. Teve uma juventude dinâmica e está com uma velhice tranquila. Não contraiu o temido câncer que ceifa a vida de tantos cães nos dias atuais. Quando adotamos a Jaya como nossa filhinha peluda, percebi que eu não me sentiria bem em não comer carnes, mas, por outro lado, compactuar com a indústria antiecológica e sem compaixão dos matadouros (comprando carnes ou ração feita delas), para alimentar minha cachorrinha. Comecei, temeroso, mas bem informado pela experiência dos que já haviam praticado isso com bons resultados antes de mim. Consultei o primeiro veterinário. Ele foi intolerante, inflexível e hoje percebo que foi também inculto. Sua resposta foi taxativa: “Cão é carnívoro. Não pode viver sem carne.” Hoje, está provado que ele errou. Desde 2014, temos mais uma weimaraner: a Frieda. Ela também nunca provou carne de nenhuma espécie. E já começou sem comer ração. Frieda vai fazer dois anos. Nasceu com um problema genético, diagnosticado como Síndrome de Wobbler (espondilomielopatia cervical). Vários especialistas nos disseram que a pobrezinha teria que passar por duas cirurgias cervicais, uma imediatamente na época, aos quatro meses, e outra quando acabasse de crescer para trocar a prótese. Hoje, Frieda já está adulta e não precisou de nenhuma das duas cirurgias. As únicas coisas que fizemos de incomum foi a alimentação sem carnes e a acupuntura.
O que a Jaya e a Frieda comem?
Elas comem de tudo! Menos carnes e, como qualquer cão, não lhes damos frutas ácidas, nem frituras, nem açúcares. Pela manhã, eu como papaya e banana com iogurte. Elas comem as cascas bem lavadas das frutas, com iogurte feito em casa, queijo branco light e castanhas de caju. De almoço, comem um mix de sete cerais integrais cozidos com legumes e ovo. A qualquer momento, beliscam bananas e maçãs. Às vezes, outras frutas doces. À noite, ganham algumas cenouras cruas bem lavadas, congeladas, para roer. Quando saímos para comer em restaurantes, escolhemos estabelecimentos dog friendly (utilidade pública: consulte o site http://www.aquipode.com/aquipode-toto/ ) e nossas duas filhas peludas comem o mesmo que nós almoçamos ou jantamos, ajudando a reciclar aquele pouquinho a mais que pedimos, a fim de que sobre para elas.
Como o seu método de reeducação compartamental pode ser aplicado no adestramento de cães?
Como o DeROSE Method de reeducação comportamental, há muitos anos, estava funcionando com grande sucesso no relacionamento entre humanos, resolvi aplicá-lo também no relacionamento entre humanos e cães. Deu certo! Afinal, somos todos mamíferos. Tanto a Jaya quanto a Frieda (esta, ainda adolescente), são ultraeducadas. Vão soltas à feira comigo, passeiam soltas pelas ruas de São Paulo e do Rio de Janeiro. Frequentam restaurantes, lojas, shopping centers, festas de família, lançamentos de livros e até eventos profissionais, arrancando de todo o mundo elogios de como são comportadas, obedientes e inteligentes. O segredo que o meu livro Anjos Peludos ensina é muito simples: para educar cães ou humanos, tem que ter muito amor, muita paciência, clareza e constância na educação.