Os festejos de fim de ano culminam na grande ceia natalina. Todos sentados ao redor da mesa decorada e o pet só de olho, esperando a oportunidade perfeita de conseguir um pedacinho de peru ou de chester. É nessa hora que o coração amolece e o dono acaba cedendo. Não deveria: saiba que, nesta época do ano, a procura por atendimento veterinário aumenta cerca de 30%, sendo que uma das principais causas é a ingestão de alimentos “impróprios”.
A publicitária Ana Carolina Dias, 21 anos, sabe muito bem como é difícil negar pedidos da mascote, Nina. “Ela é uma gata, mas tem alma de cachorro. Nessas comemorações, fica sempre deitada em volta da mesa, encarando todo mundo como quem diz: ‘Você não vai me dar um pedacinho?’”, brinca a tutora. Muitas vezes, a gatinha reclama, mia e chora. Quando é assim, Ana prefere servir um pouco mais de ração para evitar qualquer deslize com comidas gordurosas. “É de cortar o coração vê-la pedindo um petisco, mas sei que é melhor não dar.” Alguns Natais atrás, o avô de Ana Carolina não resistiu aos encantos da gata e a serviu com um pedaço de tender. Na hora, foi só alegria. Mas, um tempo depois, Nina começou a passar mal e teve diarreia. “Desde então, eu proibi. Ninguém pode dar mais nada a ela.”
O médico veterinário Marcello Machado explica que os alimentos “festivos”, como peru e proteínas em geral, são muito gordurosos, temperados e repletos de sódio. Quando as pessoas os oferecem aos pets, eles ficam com a flora intestinal desregulada, o que pode ocasionar vômitos ou disenteria. “Os bichos têm uma alimentação muito regrada e se, de repente, isso muda, não é bom para eles.” O especialista confirma que as ocorrências do gênero se multiplicam no fim do ano.
Mas, afinal, quais são as comidas que os pets não podem comer de modo algum? Os panetones, tão característicos da época, devem ser evitados a todo custo. “As frutas cristalizadas e a massa da sobremesa têm muito açúcar, o que causa fermentação intestinal”, explica Marcello Machado. Chocotone está vetado, pois chocolate é altamente tóxico para os animais. A rabanada, além de doce, é frita e deve ficar longe das tigelas de cães e gatos. “É feita de pão, gordura, açúcar… Tem tudo que eles não podem comer”, ensina o veterinário.
Teoricamente, peru e tender podem ser servidos, mas em pequenas quantidades e sem condimentos gordurosos (molhos e temperos). É importante também atenção com os ossos, pois são quebradiços e podem perfurar o estômago ou o intestino do animal. Peixes são nutritivos, mas o bacalhau não serve para os animais, pois é muito salgado. Já a farofa tem amido em excesso, o que também oferece perigo. Castanhas e nozes são pequenas e parecem inofensivas, mas, na verdade, contêm excesso de óleo, o que pode desencadear a diarreia. E, atenção, macadâmia é altamente tóxica.
Da mesma forma, estão proibidos alho, uva passa, uva, cebola e cereja. “Quando falamos de alimentos tóxicos, o mais grave é a questão da diarreia severa. Ela leva à desidratação e o animal precisa ser internado para tomar soro. O verão e o calor contribuem para isso”, comenta Marcello Machado. Doces em geral também não são indicados aos bichinhos. Eles têm açúcar e podem causar fermentação intestinal, o que leva à dilatação do abdômen e a dor severa. Além disso, a sacarose afeta a dentição.
Ana Peixoto, 30 anos, é publicitária e dona do shih-tzu Chico. Adepto da alimentação natural, o cãozinho segue uma dieta rígida sugerida por sua nutróloga. Alguns petiscos, como frutas e ovo de codorna, são permitidos. Chico tem algumas restrições alimentares, como quiabo, cenoura e trigo, mas o apetite é inabalável. “Ele adora comer de tudo. O que der, ele aceita.” Assim, em épocas festivas, como Natal e ano-novo, Ana fica sempre de olho para Chico não extrapolar.
“As pessoas não entendem que, mesmo pedindo, há coisas que ele não pode comer.” Seu prato natalino favorito? Peru! Chico provou uma vez e, depois disso, pede sempre. Ana dá, mas nunca em excesso. Para ela, uma ótima opção nesses momentos são os alimentos especiais que o mercado pet oferece. “É interessante optar pelos produtos voltados para eles”, diz.
O médico veterinário Marcello Machado concorda: “São alimentos com aparência e aroma especiais, mas que são balanceados e oferecem benefícios.” Para evitar que os bichinhos ataquem a mesa da ceia, o ideal é nunca deixar a comida desprotegida, pois, a qualquer descuido, eles podem atacar.
Eis uma receita que tanto tutores quanto bichos podem comer (moderadamente):
Ingredientes
100 g de frutas secas (exceto uva-passa) sem açúcar
100 g de nozes, amêndoas ou castanha-do-pará
100 g de coco seco ralado sem açúcar
2 colheres (sopa) de melado de cana
2 ovos
125 g de farinha de trigo integral
2 colheres (sopa) de farinha de rosca
Um pouco de água morna
Modo de preparo
Coloque as frutas secas de molho por 30 minutos em água. Pode ser figo, banana, maçã, damasco, mamão etc. A uva-passa está proibida. Em seguida, escorra a água e corte em pedaços. Misture-as com os outros ingredientes, coloque um pouco de água morna e mexa até dar liga na massa. Deixe a massa descansar por 30 minutos. Pré-aqueça o forno a 180°C.
Coloque a massa em forminhas de minipanetones e asse por 40 minutos ou até o palito sair seco do bolinho.
(da Revista do Correio)
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