Morador do Riacho Fundo II, o administrador de redes Leonardo Moreno, 32 anos, viveu 11 anos ao lado do labrador Cirus. Desde que conheceu o cão, teve a vida mudada, ganhou mais liberdade e confiança, sem precisar depender da ajuda de outras pessoas para sair de casa. “O Cirus virou meu parceiro. Com ele, consegui identificar obstáculos e parei de cair e ter momentos constrangedores na rua. Pude sair de casa sozinho e ganhei um amigo que estava sempre ao meu lado”, conta. Hoje, Cirus não está mais ao lado do parceiro. Após desenvolver um problema no coração, foi aposentado, e agora vive com os colaboradores do Projeto, onde recebe o cuidado adequado.
Leonardo teve que esperar um ano para ganhar um novo parceiro, e quando finalmente recebeu Black, não conseguiu segurar as lágrimas. “É muito emocionante receber de volta os meus olhos. O Cirus era o cara mais importante da minha vida, e agora tenho o Black que vai me guiar por passos longos. Para os outros, pode parecer apenas um cachorro, mas pra mim ele é um amigo. Ele é meu anjo de quatro patas”, conta.
A fila para conseguir um cão guia não é pequeno. A coordenadora do Projeto, Lúcia Campos, conta que pessoas como Leonardo e Arthur, que já tiveram cães guias antes, tem preferencia na hora de receber um novo parceiro. “Quando se fala em vida longa, o longo não é tão grande quando se trata de um cachorro. É normal que o cão se aposente, e para o deficiente visual é um retrocesso voltar a bengala, por isso ele tem preferência na fila por um novo animal”, conta.
O Projeto Cão-Guia de Brasília é referência nacional no treinamento de cachorros. Sendo o maior do país. Em alguns casos, o animal chega até a ir para outro estado se tornar o parceiro de um deficiente visual. Como é o caso de Bolt, que viajará nas próximas semanas para a cidade de Ribeirão, a 80km de Recife, onde será o cães-guias de Arthur Calazans, 47 anos. “Quando me perguntam o que significa ter um cão-guia, eu peço para a pessoa fechar os olhos e depois abrir. Essa é a diferença, a nossa vida sem o cachorro é um escuro”, relata.
Arthur é auxiliar de administração, passou 10 anos ao lado da labradora Jasmine, que se aposentou no ano passado. Hoje, mostra os dedos do pé machucados como amostra do que sofreu durante o ano que passou sem um cão-guia. “A bengala é um objeto. Ela alcança até certo ponto, então é muito fácil se machucar usando ela. Quando você se acostuma com um animal, é muito difícil voltar a um simples objeto”, explica.
Outros três cães guia serão entregues nos próximos meses, após isso, uma nova ninhada será encomendada para garantir a equipe de treinamento de 2018. “Hoje foi um dia de comemoração, mas amanhã já estaremos de volta ao trabalho para garantir um novo time de cães guia”, conta a coordenadora, Lúcia Campos.
Saiba Mais
O Projeto Cão-Guia de Cegos de Brasília foi fundado em 2001. De lá para cá, 49 cães guia foram entregues, todos gratuitamente. O processo de treinamento é feito por militares do Corpo de Bombeiros, parceiros do projeto, e tem uma duração total de dois anos. O nascimento dos cães acontece na sede, onde os filhotes ficam até desmamar, o que demora entre quatro e cinco semanas. Após completar 3 meses de vida e ter tomado todas as suas vacinas, os cães estão aptos para irem para uma família hospedeira, que fica responsável pela socialização do animal durante um ano. Passado o período, os animais retornam à sede do projeto e passam por uma série de avaliações clínicas e técnicas com o objetivo de mostrar se estão aptos a se tornarem um cão-guia.
Se aprovado, o animal entra em um treinamento que dura, em média, oito meses. O processo se inicia na parte interna de uma baia, com os comandos básicos. Depois, o animal passa para o corredor de treinamento, com alguns poucos obstáculos que, ao logo do tempo, vão aumentando o nível de dificuldade. Esse corredor é ambientado para parecer o máximo possível com um local onde o animal terá que guiar o deficiente. As últimas etapas do treinamento acontecem no pátio do Centro de Treinamento, e, finalmente, na rua. Um cão-guia completamente treinado tem um custo estimado entre R$ 30 mil e R$ 35 mil.
O projeto não recebe ajuda governamental, vivendo apenas de parcerias, doações e vendas de produtos Amigos do Cão Guia. Quem tiver interesse, pode ajudar o Projeto Cão-Guia de Brasília doando qualquer valor, por depósito ou transferência bancária, na conta abaixo: Associação Amigos do Cão-Guia – AACG / Banco do Brasil, Agência 3604-8, Conta Corrente 11.882-6, CNPJ 18.080.324/0001-24
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