Não leve Dory para casa

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(da Revista do Correio) (fotos Divulgação)

 

06-13O filme Procurando Dory — sequência de Procurando Nemo (2003), da Disney e da Pixar — está prestes a estrear no Brasil. Mas o que deveria ser motivo de empolgação tem preocupado biólogos e ativistas ambientais. Quando a primeira animação foi lançada, há 13 anos, resultou em duas reações. Uma foi o aumento das vendas de peixe-palhaço, a espécie do Nemo. O carisma e a beleza do personagem que, mesmo com uma barbatana curta, superou tantas adversidades, fez com que todo mundo quisesse um para tomar conta e para enfeitar a casa. Outra foi a libertação de alguns peixes de aquário. Comovidos com a tristeza de Nemo e de seus amigos na ficção, as pessoas começaram a jogar seus peixes no mar.

 

Aparentemente mais altruísta, a atitude de libertar o peixinho se mostrou problemática. “Um animal em cativeiro pode eventualmente contrair doenças que, depois, levará para o ambiente natural, contaminando outros exemplares. Além disso, acaba-se soltando um animal em um local que não é o de sua origem — espécimes domesticados, em geral, não saberão mais se alimentar sozinhos e morrerão após a soltura”, explica a bióloga marinha Suzana Ramineli, mestra em ciência ambiental, coordenadora da Naturaulas Cursos Ambientais e presidente da Comissão Organizadora do Congresso de Conservação Marinha.

 

 

Teoricamente, a compra e a venda de peixes-palhaços não gera resultados tão ruins ao meio ambiente, porque são peixes que se reproduzem facilmente em cativeiro. Com os blue tangs (Paracanthurus hepatus), espécie da Dory, é diferente. O aumento nas compras é pernicioso por si só. Tais peixes, de coloração azul-royal, não se reproduzem em cativeiro de forma alguma. Isso significa que cada peixinho à venda foi tirado diretamente de seu hábitat, o mar. Por isso os ativistas ambientais estão tão preocupados antes mesmo de o filme entrar em cartaz. A Care2, comunidade que colhe petições on-line, está divulgando um vídeo pedindo aos pais que não comprem Dorys para os filhos. Até o momento, a iniciativa conta com 113.918 apoiadores.

 

O veterinário Renato Leite Leonardo, especializado em animais silvestres exóticos e responsável pela empresa Dr. Fish, acredita que as vendas devem ser limitadas por causa do preço. “Acho que muitas pessoas virão olhar, curiosas, mas não comprarão. Enquanto um peixe-palhaço pequeno custa cerca de R$ 60, um blue tang do mesmo tamanho vale, em média, R$ 400”, revela. Segundo ele, não há blue tangs nos mares do Brasil. Os peixes vendidos aqui são capturados na região que vai dos Estados Unidos até o Caribe. Renato diz que, lá, as capturas e as importações são feitas de forma correta e bem controlada, o que também reduz os danos.

 

De acordo com a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), os blue tangs não sofrem ameaça iminente de desaparição — na classificação do órgão, o risco é “pouco preocupante”. “Dentro da IUCN, essa é uma categoria de ameaça. Significa que P. hepatus não é das espécies mais ameaçadas, mas que, sim, já demonstra algum grau de risco de extinção”, esclarece a bióloga Suzana Raminelli.

 

Independentemente da polêmica, o fato é que, em aquário, Dory é bem mais sensível a doenças, se comparada a outras espécies. Para viver, ela precisa de parâmetros de água (nitrito, amônia, pH e temperatura) sempre estáveis. Um exemplo de peixe mais resistente é o beta, que prefere aquários menores (portanto, de limpeza mais simples) e não precisa de companhia. São fatores óbvios a se considerar na hora de adquirir um animal de estimação. Mas há outros aspectos éticos igualmente importantes, como saber de onde eles vêm