Cardápio diversificado

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(da Revista do Correio)

(fotos Juliana Bechara/Divulgaçao)

Entre a tradicional ração para os pets, petiscos e até cerveja adaptada, porém, há quem busque uma linha mais natural para os bichos, comprando os itens do cardápio especial de pequenos empresários ou mesmo preparando as refeições em casa.

A proposta da alimentação natural, chamada de AN, é suprir as necessidades dos animais com ingredientes similares aos que comemos, como carnes, frutas e verduras. Além disso, as refeições seriam mais abundantes e bem definidas, incluindo café da manhã, almoço e jantar.

A iniciativa não significa fazer um prato para o seu bichinho com o almoço de domingo, mas elaborar um cardápio específico. É preciso ter cuidado, porém, com o que se oferece a eles. Segundo a veterinária Mariana Mauger, o manjericão tem ação anti-inflamatória devido à curcumina, além de ser um excelente tempero. Já a cebola e o alho contêm tiossulfato e dissulfeto de alipropila, substâncias que oxidam os glóbulos vermelhos e podem causar anemia nos pets. Por motivos desconhecidos, as uvas e as carambolas causam insuficiência renal nos gatos e não são uma boa opção. Alimentos gordurosos, como chocolate, leite e massas com açúcar, nem pensar.

Excluindo os alimentos de risco, Mariana Mauger afirma que o animal tem muito a ganhar com o novo cardápio. “Acho mais saudável, mas é importante que tenha um veterinário ou um especialista que faça uma dieta balanceada, porque é desenvolvida de acordo com peso do animal, a necessidade energética, a quantidade ideal de vitaminas e até a raça”, alerta.

Uma das vantagens de abolir a ração é a certeza da procedência do alimento. Na composição da maioria das marcas, é possível encontrar, por exemplo, BHA (hidroxianisole butilado) e BHT (hidroxitolueno butilado). Esses conservantes são considerados cancerígenos pela Organização Mundial da Saúde e pelo Programa Nacional de Toxicologia dos Estados Unidos, e, inclusive, já foram banidos no Japão.

A demanda por alimentação alternativa nos Estados Unidos e na Europa aumentou nos últimos anos. Foi então que a veterinária Juliana Bechara viu uma chance de divulgar os benefícios da AN no Brasil e ainda empreender a favor dos bichos. “É a mesma coisa de pensar na alimentação de humanos. Como seria nossa vida se a gente só se alimentasse de industrializados?”, questiona ela. Em maio de 2012, ela fundou a La Pet Cuisine, empresa que produz e vende refeições congeladas para cães, com as orientações nutricionais de Juliana e o toque gourmet da irmã dela, a chef de cozinha Veri Noda.

Todos os pratos são feitos à base de carne cozida, apesar de correntes defenderem que os pets podem — e devem — ingerir carne crua. Até o momento, porém, nem a La Pet Cuisine nem outras empresas brasileiras podem comercializar carne crua. “Na época em que pedi o registro no Ministério da Agricultura, não consegui autorização para carnes cruas por falta de leis específicas e também porque a manipulação na cozinha é mais arriscada”, conta a veterinária. Juliana ressalta que, mesmo quando a carne já está na casa do pet, a manipulação precisa ser muito cuidadosa para evitar a contaminação, frequentemente resolvida com o cozimento.

Outras receitas são feitas sob encomenda, principalmente para bichinhos com problemas no coração ou nos rins. “A gente faz o preparo de dietas enviadas por veterinários e após avaliar exames e histórico dos animais”, conta a veterinária. A La Pet Cuisine também prepara refeições para gatos saudáveis, que, além de terem necessidade proteica mais alta, que exigem cálculos energéticos mais complexos, são mais seletivos com o que comem e podem levar semanas na adaptação da nova alimentação.

ELAS RECOMENDAM:

Thaís Villas Bôas, 29 anos, médica

Em 2013, Thaís começou a transição dos shih tzus Ziggy e Luna, de três anos, para a alimentação natural. Desde filhotes, a dupla comia ração premium, específica para a raça, mas Luna dificilmente aceitava de imediato. “Ela cheirava a comida, comia uma bolinha e saía”, conta Thaís. Quando Luna cedia à fome, acabava vomitando tudo. Além disso, os cachorros tinham alergias, infecções de ouvido e queda de pelo, que não cessavam, mesmo com o cuidado veterinário e dos exames frequentes.

Após Thaís tentar todas as rações disponíveis no mercado e começar a medicação para enjoo e proteção do estômago, sem sucesso, conheceu o mundo da AN e se animou com a ideia. Após servir fígado, batata-doce e cenoura para Luna, ela comeu tudo e não vomitou. Thaís não compra as refeições prontas, prepara toda a comida semanalmente e deixa as porções de café da manhã, almoço e jantar separadas na geladeira. “Pela saúde deles, deixo a preguiça de lado e faço”.

O resultado foi uma melhora significativa da qualidade de vida dos cães.

Maria Paula van Tol, 46 anos, publicitária

O drama do dálmata Panda, de 5 anos, começou com o ganho de peso, em 2015. Ele perdeu a vontade de brincar e de passear. A primeira hipótese de Maria Paula é que ela exagerava na quantidade de ração. Assim, diminuiu as refeições, mas logo veio o diagnóstico do hipotireoidismo, que explicava porque Panda não queimava calorias como antes. O dálmata passou a tomar remédios e o organismo reagiu, mas ele continuava triste. Foi quando a publicitária descobriu a alimentação natural e decidiu introduzir a comida cozida e, em seguida, a crua. “Ele é outro: emagreceu, melhorou o ânimo, bebe menos água — já que a ração é bem salgada —, come frutas”, diz.

Bono Blue

é jornalista, um cão farejador de notícias

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