Cães não fazem birra, diz cientista

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Crédito: Pixbay

Tutores de cães sabem que não rara é a cena de chegarem em casa, após um dia de trabalho ou demais afazeres, e encontrarem a casa bagunçada, móveis roídos ou mesmo xixi e cocô feitos em lugares indesejados. Mas será que o peludo tem esses comportamentos destrutivos por birra, por vingança, de forma arquitetada contra o dono, por ter ficado sozinho, e depois sente culpa, quando repreendido e arrependido?

Camilli Chamone, geneticista, consultora em bem-estar e comportamento canino e criadora da metodologia neurocompatível de educação para cães no Brasil, assegura que não.

“A Teoria da Mente é um conjunto de estudos que comprova a competência que alguns animais têm de entenderem as emoções de terceiros. É a habilidade de compreender e interpretar estados mentais de outros seres. Porém, a ciência afirma que apenas os primatas ditos superiores – como gorilas, macacos e, claro, humanos – têm essa capacidade de percepção. Cães, portanto, não têm essa habilidade. Na prática, isso significa que a birra, a vingança ou a culpa, por serem emoções muito elaboradas, não fazem parte do repertório emocional dos cães”, explica.

Na realidade, os comportamentos destrutivos são uma forma que os cães têm de tentar aliviar a ansiedade que sentem, sendo equivocada a ideia de que estejam fazendo birra ou se vingando do seu dono por deixá-lo sozinho.

Outro comum engano é quando o cachorro apresenta expressões (corporais e faciais) que remetem ao arrependimento depois de fazer “algo errado”. Mas, segundo Chamone, esta é somente uma interpretação humana, que não se relaciona, de fato, com aquilo que o animal está sentindo.

“O que acontece, na maioria das vezes, é que os cães sentem medo (essa emoção, sim, é cientificamente comprovada de ser sentida por eles) em situações ameaçadoras – quando, por exemplo, o dono aumenta o tom de voz ou faz determinadas expressões e gestos”.

São expressões físicas do medo abaixar as orelhas, colocar a cauda entre as pernas, tremer e ficar com “olhar piedoso” ou parado em um canto, na tentativa de se esconder.

Em seus atendimentos, Chamone conta que é comum que o dono confunda essa linguagem com culpa. “Por isso, ao chegar em casa e ver algo fora do lugar, o humano tende a brigar com o cão, na esperança de que ele entenda, se ‘culpe’ e mude. Mas isso jamais acontecerá”, afirma.

Punir o cachorro, nesse tipo de situação, tende a agravar o problema. “A punição gera medo, o medo gera estresse e o estresse piora os comportamentos destrutivos. Além disso, o cão vai perdendo a confiança no tutor – há casos, inclusive, em que o medo evolui para agressividade, pois é a única maneira dele se defender. Com o tempo, ele associa a chegada do tutor como uma ameaça, ficando ainda mais nervoso”.

Para lidar melhor com a situação e tirar o cachorro de um quadro de estresse ou ansiedade, o foco precisa sair de ações punitivas, que tentam fazê-lo sentir culpa sem efeito algum – já que ela não existe nos cães –, e ir para outras que melhorem sua qualidade de vida e, consequentemente, a de toda a família.

Uma boa iniciativa é introduzir um passeio de qualidade em sua vida. “Dê preferência em locais com bastante natureza para que o peludo possa farejar, fazer suas necessidades e marcar território. Ao gastar energia física e mental, a tendência é relaxar mais em casa”.

Além disso, é importante saber que alguns comportamentos são naturais dos cães, como, por exemplo, roer. “Nestes casos, basta canalizar a energia para um brinquedo de roer, de forma que ele não tenha que mastigar o pé da mesa ou o braço do sofá, de modo a se satisfazer”, recomenda Chamone.

Por fim, se essas ações não resolverem, é indicado buscar ajuda profissional, que oriente o dono a usar outras estratégias específicas e eficientes para diminuir o estresse do animal.

Paloma Oliveto

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