Popularmente conhecido como “verme do coração”, ele ataca cerca de 25% dos cães em todo o país e provoca a chamada dirofilariose, doença séria, que representa sério risco de morte. Segundo uma pesquisa feita em parceria entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), que avaliou 1,6 mil cães de todo o país, um entre quatro animais está infectado pelo tal verme. O estudo, que teve início em 2014, indicou que houve aumento da dirofilariose no Brasil em mais de 20%, em comparação com os dados coletados dez anos antes.
A doença é causada pelo Dirofilaria immitis, uma microfilária de cor esbranquiçada, transmitida pela picada de fêmeas de algumas espécies dos mosquitos Aedes, Culex e Ochlerotatus. São mosquitos que vivem em locais com alta umidade e calor. A a microfilária se desenvolve mais rapidamente em altas temperaturas e, por isso, a área litorânea é a que está mais propensa ao registro de casos.
A comunicadora visual Sônia Rollin, 62 anos, enfrenta os efeitos da dirofilariose. Ela é proprietária de um canil, no Rio de Janeiro, da raça staffordshire bull terrier, e três dos seus cães contraíram a doença, em julho de 2015. Dois deles estão em estado mais grave. Após o período latente da doença, começaram a apresentar perda de peso e esbranquiçamento da mucosa ao fazer atividade física. “O diagnóstico foi precoce e nem todos os cachorros do canil foram infectados”, diz. Após exames de ecocardiograma e de sangue em todos os animais, foi confirmada a presença do verme no trio. Os filhotes doentes usaram antibiótico por 30 dias. A previsão é de que o tratamento dure cerca de dois anos.
Outros cães que moram no condomínio de Sônia também foram vítimas da doença. Uma cadela vizinha, adotada há alguns meses, contraiu a dirofilariose e os vermes atingiram os pulmões dela. Atualmente, Sônia realiza imunizações mensais para evitar reinfecções nos cães já doentes. Quem escapou da dirofilariose recebeu dose única de uma medicação que garante imunização por 12 meses. “Enquanto eu tiver canil vou fazer imunização”, afirma.
Tratamento
Tratar a dirofilariose pode ser tão perigoso quanto a própria doença. No Brasil, o mesmo medicamento é usado na prevenção e no tratamento do problema. A comunidade internacional não recomenda esse método, já que a larva pode se tornar resistente ao uso da medicação. “A droga, que era produzida exclusivamente para tratamento, com outros compostos, parou de ser vendida pelo laboratório devido à baixa procura”, explica a veterinária Norma Labarthe, que conduziu pesquisa com a UFF e a UFRRJ e é pesquisadora da doença há mais de 20 anos.
Como o potencial de reprodução da microfilária é alto, as infestações não costumam ser pequenas e o uso de antibióticos dura meses, podendo causar lesões nos órgãos. “O tratamento tem um risco de vida enorme para o cachorro. Imagine que um verme pode ter 30cm de comprimento e encontramos cães com até 100 vermes”, observa Labarthe. Os vermes mortos normalmente vão para os pulmões. A cirurgia para retirada é de alta complexidade, mas descartá-la não é recomendado. O corpo deles pode provocar embolia e formar de nódulos, provocando complicações respiratórias.
Prevenção
Além do controle de água parada, é recomendado o uso de repelente nos animais e vermifugações mensais. Segundo a veterinária Fabiana Zerbini Jorge, os vermífugos são a única alternativa que não apresenta riscos para o cão, além de impedir a instalação dos vermes nos órgãos vitais.
O recomendado, no entanto, é se antecipar. A imunização protege o cão e evita a doença. Estima-se que 18 meses de tratamento tenham custo semelhante a dez anos de imunização mensal.
Palavra do especialista
-A dirofilariose apresenta janela imunológica?
Sim. Nos seis primeiros meses, nem exames de sangue podem detectar a presença da microfilária.
-Quais os principais sintomas?
A maioria da infecção é assintomática, não apresenta nada. Quando há o surgimento de sintomas, na fase mais aguda, podem ocorrer tosse, emagrecimento, dificuldade para respirar, perda de peso e acúmulo de líquido no abdome.
-O animal, quando é contaminado, passa a ser um vetor, assim como o mosquito?
Não, o cachorro infectado não passa a doença.
-Os humanos ou outros animais domésticos podem ser infectados?
Sim, mas a doença causada é diferente. O gato tem dois momentos muito críticos: quando o verme chega ao coração e quando há a morte do verme. No organismo deles, a vida do verme é de dois anos, enquanto no cachorro é de sete. Nos humanos, o verme morre antes de atingir a fase adulta, mas os corpos podem chegar até os pulmões e criar nódulos. Se você fizer uma radiografia e for identificado o nódulo, dificilmente a dirofilariose vai ser uma opção e vão tratar como um tumor maligno, fazendo tratamentos desnecessários.
-Existe alguma interação medicamentosa conhecida com os antibióticos que tratam a dirofilariose?
Não. Só não devem ser usados remédios da mesma classe para não haver excesso.
*Norma Labarthe é doutora em Biologia Parasitária pelo Instituto Oswaldo Cruz.
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